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O comandante Assane Amisse Gavana tem uma história de vida semelhante a de tio António (cantada pelo músico ango-congolês Sam Mangwana). Gavana nasceu em 1951, no distrito de Muidumbe, na martizada província de Cabo Delgado. Com uma infância marcada por sofrimento e cavalgadas coloniais. Em 1968, Assane Amisse Gavana, foi incorporado nas fileiras das Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM), tendo passado a sua mocidade nas matas a lutar pela independência nacional.

 

Com a independência alcançada em 1975, um ano depois teve que voltar ao teatro operacional combatendo na Guerra... No calor intenso provocado pela guerra, em 1989 Gavana, com o objectivo de proteger a sua família, não resistiu e foi refugiar-se na Tanzânia; onde ficou por uma década.

 

Em Moçambique, o "comandante" Assane Gavana, passou a viver na aldeia 1º de Maio, no distrito de Nangade. Na busca pelo reconhecimento dos seus feitos, nos 10 anos de luta de libertação nacional e 13 da Guerra Civil, o comandante Assane Gavana, apresentou-se às autoridades para que passasse a gozar do estatuto de antigo combatente como os outros compatriotas; ele submeteu documentos para o efeito na Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN) de Nangade, na ocasião foi orientado a dirigir-se para Mueda, donde foi dito para seguir para Pemba.

 

O "comandante" viveu diversos ping-pongs; a isso acrescente-se a falta de assistência e acompanhamento que o fizeram desistir de fazer parte da prestigiosa lista de antigos combatentes que mensalmente aufere algumas somas graciosas e em datas festivas caminham em grupo todos devidamente uniformizados. O "comandante" Gavana durante o seu percurso militar chegou a operar em diferentes frentes: Ilha de Moçambique (Nampula), Chitengo, Canda e Sakuzo (Sofala), Manica, Inhambane e Boane (Maputo).

 

Nas longas conversas lamuriosas do "comandante" com os jovens que combatem os terroristas nos distritos de centro e norte de Cabo Delgado, Gavana conta a sua epopeia heróica mas com dor de quem se sente excluído da marca de herói nacional oficial, vivendo na clandestinidade; e a juventude toma-o como um simples compilador de historietas, um velho lunático e embriagado. 

 

Quando o "comandante" Gavana conta que já zarpou de emboscadas do inimigo como um "fantasma" e viu a sua vida por um fio, os jovens com a farda e uma espingarda rasgam-se de risos. A verdade é que ele, é um combatente esquecido e deixado para trás pelos seus. O "comandante" Gavana até tem dado dicas aos jovens como combater os al-shababs que aterrorizam a província há três anos. 

 

Gavana dá educação patriótica aos jovens militares que defendem a soberania nacional e alguns militares que passaram acreditar nele imaginam como seria a motivação e a dedicação do mesmo, caso fosse reconhecido e não esquecido.

terça-feira, 27 outubro 2020 14:54

AFINAL: nem tudo o vento levou

Ficamos sempre surpresos e até indignados quando alguém diz, repetidamente, em voz alta e bom som, inverdades. É a natureza humana e ainda bem. Nenhum povo é perfeito e nenhuma ideologia política, económica, religiosa também o é. O normal é assumirem-se os erros e corrigi-los. 

 

CARÁCTER define-se como um conjunto de peças inerentes a uma pessoa, grupo ou sociedade que formulam a sua moralidade. Sem julgamento irei constatar alguns factos:                                                                           

 

Século III (3)

 

O imperador Romano Constantino (pagão que também adorava o deus sol) fez um acordo de fusão entre o Império Romano e a Igreja Cristã do Ocidente criando a Igreja Católica Apostólica Romana.

 

Desta fusão os signatários (Império Romano e a Igreja Cristã do Ocidente) fizeram cedências nomeadamente: O dia de nascimento de Jesus Cristo passou de 17 Outubro para 25 de Dezembro que foi fixado DIA DE NATAL. Este novo dia de Natal viria a substituir a maior festa anual pagã Romana, que celebrava o regresso do deus Mitra (deus sol originário do Império Persa).     

 

Século IV (4)

 

Inicia-se um movimento com vista a proibir o casamento dos líderes religiosos católicos que culmina com o estabelecimento do CELIBATO, no ano 1123. Até à data da sua fusão com o Império Romano, a Igreja Cristã Ocidental permitia casamentos, incluindo os poligâmicos ̶ vários Papas tiveram, simultaneamente, mais do que uma esposa e várias concubinas ̶  S. Pedro, Félix III, Hornisdas, Adrian II, João XVII, Clement IV, e Honorius IV, entre outros.  

 

A Igreja Católica Apostólica Romana obriga os seus representantes Papas, Bispos, Padres e Freiras a romperem os seus casamentos FORÇANDO DIVÓRCIOS entre inúmeras famílias.

 

Século XI (11)

 

O início das CRUZADAS ̶ guerra entre alianças de países ocidentais ordenadas pelo Papa Urbano II para retirar Jerusalém da gestão dos Palestinos Judeus, Cristãos Orientais (Ortodoxos) e Muçulmanos. Estas guerras prolongaram-se, sucessivamente, por 300 anos, sem sucessos para os Romano-Católicos até 1946  ̶  período em que o Império Britânico divide a Palestina em duas partes, criando o Estado de Israel que ocupa a Palestina até hoje, através de terrorismo de Estado.                  

 

Século XV (15)

 

Ficou marcado pela INTOLERÂNCIA RELIGIOSA contra crentes de outras religiões, intelectuais, artistas, cientistas, escritores, destruição de escolas e bibliotecas, pilhagem de bens das vítimas, conversões religiosas forçadas, ORDENADAS PELO VATICANO, que foi apelidada de INQUISIÇÃO. 

 

Ainda no século XV (15) inicia-se um MOVIMENTO DE PROTESTO à irracionalidade Romano-Católica, liderado pelo missionário MARTINHO LUTERO que ficou conhecido por “OS EVANGÉLICOS” e, mais tarde, LUTERANOS.

 

Ainda no século ‘’’’’’’XV (15) outros movimentos religiosos Romanos-Católicos manifestaram-se contra o radicalismo da Igreja Católica e criam as IGREJAS CALVINISTAS E ANGLICANAS.

 

SÉCULO XVI (16)

 

A GUERRA dos 30 ANOS foi uma das MAIS DEVASTADORAS no MUNDO  ̶  fez da Europa um CONTINENTE ABSOLUTAMENTE EMPOBRECIDO  ̶ causada pela intolerância religiosa entre ROMANOS CATÓLICOS E OS PROTESTANTES. Nela participaram, directamente, que  conhecemos hoje: ESPANHA, FRANÇA, ITÁLIA, ALEMANHA, ÁUSTRIA, HUNGRIA, HOLANDA, REPÚBLICA CHECA, SUÉCIA, NORUEGA E DINAMARCA. Toda a Europa esteve envolvida de forma indirecta.

 

SÉCULO XVII E XVIII (17 e 18)

 

Seguiram-se inúmeras guerras Espanha-Portugal, Espanha-Holanda, Anglo-Marata, Otomano-Venezianas, Anglo-espanhola, guerra da Orelha de Jenkins, da Quadrupla Aliança, de Luxemburgo, Guerra da Sucessão Austríaca, da Sucessão Polaca.

 

Guerras das Revoluções:

 

Francesa, Haitiana, Bateva e Barbantina.

 

SÉCULO XIX (19)

 

Conferência de Berlim

 

 ̶ formalização da colonização africana.
Guerras Napoleónicas, Guerras das Revoluções:   Francesa, Húngara, Alemã e Vormaz. Como Consequência da conferência de Berlim, a França inicia Terrorismo de estado contra Argélia cometendo um GENOCÍDIO assassinando 10 MILHÕES de ARGELINOS.

 

SÉCULO XX

 

Primeira Guerra Mundial (europeia), Segunda Guerra Mundial (europeia), Holocausto  ̶ ASSASSINATO DE 6 MILHÕES DE JUDEUS CIVIS  ̶  um misto de racismo, xenofobismo e nacionalismo esquizofrénico.

 

SÉCULO XXI

 

TERRORISMO PROLIFERAVA NA EUROPA:  Irlanda – IRA; Espanha – ETA; Itália – BRIGADAS VERMELHAS; Alemanha – BAADER-MEINHOF; Portugal – FP25. Porém, foi de FRANÇA que veio a MÃE dos TERRORISTAS EUROPEUS – JACOBINOS.

 

Ficam por manifestar os crimes da COLONIZAÇÃO, as inúmeras guerras, golpes de estado, assassinatos de líderes, interferência em fraudes eleitorais, vigarices e roubos aos tesouros, terrorismo para melhor delapidar os recursos naturais Africanos e da América do Sul.

 

Mais recentemente:

 

Guerra para destruição da Somália, Congo, Angola, Iraque, Afeganistão, Síria, Líbia, Iémen, Líbano, Sudão, Zimbabwe, Mali, Cuba, Venezuela, Colômbia e Moçambique .

 

CIVILIZAÇÃO é a fase de desenvolvimento com respeito à ética e cultura de um povo, nomeadamente no domínio de técnicas, das relações sociais privilegiadas, na tolerância religiosa e diversidade, suas artes, justiça justa, reciprocidade, economia desenvolvida e sustentável.

 

HÁ AINDA QUEM FALE EM CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES?

 

Será que os Judeus, Cristãos Ortodoxos, Calvinistas, Luteranos, Anglicanos, Hindus, Budistas, Animistas e Muçulmanos estavam errados  e/ou são incivilizados?

 

A LUTA CONTINUA!

Principio este texto, citando o saudosíssimo Samora Machel, num excerto do seu extenso discurso proferido a 18 de Março de 1980, aquando do lançamento da “Ofensiva Política e Organizacional” (sic): «quando conquistamos a independência, dissemos em cada parede em cada palmo de terra, está o sangue e o suor de um moçambicano; mas fomos entregar a defesa das nossas conquistas àqueles que queriam se banhar com o sangue e suor do povo».

 

Quem são esses que pretendem «banhar-se com o sangue e suor dos moçambicanos»?

 

Resposta: São moçambicanos.

 

Não irrompeu nenhuma força externa que nos veio subjugar. Nós próprios estabelecemos, entre nós, gatos, de um lado, e ratos, doutro. E comemo-nos que nem canibais.

 

O caricato, mas esperançoso, nisto tudo, é que não precisamos enveredar por lucubrações complexas e exaustivas para “identificar o inimigo”. É só nos olharmos ao espelho que ele está automaticamente identificado.

 

Mas essa coisa de nos culparmos à nós mesmos de algo, costuma ser um exercício massacrante e de extrema dolência. Não há juiz mais severo do que a nossa própria consciência.

 

É necessário encontrar alguém (ou algo) em quem colocar a culpa.

 

Culpar o governo ou governantes é um exercício fácil(itado). Vitimizar-nos ao invés de nos responsabilizarmos, é sempre um ensaio que não requer dificuldades. É algo que não se aprende na escola. É uma tentação perante à qual todos estamos sujeitos a tropeçar e, por ser cômoda, optamos, sem hesitação, por nela investir.

 

Mas o governo é corporizado por pessoas. São elas que cristalizam o modus cogitandi, modus operandi e modus faciendi nos quais se cristaliza a acção governativa. Tudo isto é labor do ser psico-físico, com capacidade de saber o que faz e que consequências se extrairão do que faz (mesmo naqueles casos em que os actos são inconsequentes, há capacidade de intuir que, na eventualidade de haver consequências, estas seriam, sempre, assustadoras aos olhos dos próprios autores dos referidos actos).

 

O problema não é o governo. O problema é o moçambicano que, sabe-se lá a partir de que momento, canibalizou-se e introduziu no seu intelecto insaciadamente voraz que, enquanto viver, tem de matar. O governo não é culpado pelo facto de uma comissão de moradores de um condomínio surripiar os valores dos contribuintes/condóminos; o governo não á culpado pelo facto de as empresas privadas comercializarem vagas de emprego em troca de actos sexuais; o governo não é culpado pelo facto de os nossos WhatsApp’s servirem de autênticos centros difusores de boatos sobre a vida dos nossos melhores amigos com os quais nos rimos e aos quais abraçamos todos os dias.

 

Hoje em dia o cidadão já nem sabe onde efectuar uma queixa. É bem provável que, se se atrever a efectuá-la junto à Esquadra policial, corra o risco de, pasme-se, sair de lá na qualidade de indiciado, pois está instalada uma patética doutrina segundo a qual é proibido fazer queixa contra indivíduos aos quais foi atribuída a categoria de “intocáveis”, sob pena de o denunciante ir, ele próprio, preso. O jornalismo investigativo é desencorajado através do terrorismo, no qual se lhes incendeiam as instalações e [se lhes] destroem os equipamentos de trabalho, como forma de lhes “chamar atenção” para não enveredarem pelo correcto e aconselhável pergaminho do exercício do direito de informar e da liberdade de imprensa.

 

É falacioso apregoar-se que a culpa pela ocorrência destas distopias sociais é propriedade exclusiva do governo.

 

A culpa, como doutrinaram os neologistas Bockelman e Mezger, está na «formação da personalidade» de cada um de nós.

 

É que, em boa verdade, não se sabe ao certo se nos deixamos corromper inadvertidamente pela degenerescência ou se, antes, fomos nós que criamos conscientemente a degenerescência como preferencial instrumento de conduta, visando satisfazer anseios que, propositadamente, preferimos nos esquecer que são moralmente impúdicos.

segunda-feira, 26 outubro 2020 06:03

Chang 'foreva'!

A Esse-Tê-Vê perfilou, ontem, os momentos mais marcantes dos 18 anos da sua existência e Chang está lá. Chang está entre as piores coisas que fustigaram o país nessas últimas duas décadas. Está na lista das piores referências históricas deste país, a par das cheias, do ciclone Idai, da explosão do paiol de Maxlhazine, dos ataques xenófobos na África do Sul, dos ataques dos Al-Shabaab, entre outros. Se esticarmos o espaço temporal para 'desde a independência', Chang estará lá também como uma praga que assolou e marcou negativamente o país para todo o sempre. 

 

Olha, quando se chega a esse extremo, é para se lhe tirar o chapéu. Quando se coloca um ser humano ao lado de catástrofes naturais, como cheias e ciclones, é porque já não há mais nada de 'humano' no tal ser. Quando se atribui alguém a mesma quota que se dá à xenofobia e ao terrorismo, é porque já não se é mais 'alguém'. Quando se fala de uma pessoa como se fala da explosão de um armazém de armas, então, já não há alma nem espírito.

 

Ontem a Esse-Tê-Vê lembrou-nos, mais uma vez, que Chang é um marco histórico. É uma referência pejorativa incontornável da nossa história. Não podemos negar que Chang mudou os paradigmas de roubar, filosoficamente falando. Trouxe, literalmente, um novo protótipo de gatuno. Uma versão mais actualizada e moderna de carrasco. 

 

Mas também o povo moçambicano, no geral, devia ser uma referência histórica. Nós também somos um fenómeno a parte. Provavelmente, nós somos a pior calamidade que nos assolou nos últimos anos. Nós temos um prazer incrível pelo nosso próprio sofrimento. É mais do que simples masoquismo. Apesar de tudo, continuamos a gramar dos Changs. Continuamos a bater continências. Temos um prazer doentio de nos curvarmos aos Changs desta vida. Um caso de estudo. Somos uma espécie de uma gangue patriótica de Changs. Uma espécie de 'Chang 'foreva''. É síndrome de Estocolmo ou quê?!

 

- Co'licença!

 

Este espaço é oferecido pela:

No entanto, seu conteúdo não vincula a empresa.

sexta-feira, 23 outubro 2020 07:31

Querem culpar o c* do povo

Pode ser paranóia minha, mas, sinceramente falando, estava a ficar muito preocupado com o interesse que o governo está a dar ao nosso traseiro. A preocupação que o governo tem com o rabo dos cidadãos já estava a me preocupar bastante. Nunca na história de Moçambique um governo mostrou tanto interesse em cuidar do c* dos moçambicanos como agora. Este governo é muito de c*. 

 

Há uns anos, um ministro bem estudado havia aconselhado a ingestão de tseke/nhewe a escala nacional para amolecimento das fezes. Há poucos dias, um brigadeiro disse que o c* dos moçambicanos não tinha tempo para férias. Hoje, um ministro diz que Moçambique gasta 30 milhões de dólares por ano só com importação de papel higiénico. Agora está tudo explicado. Essa ladainha toda era para nos prepararem sobre esses números. Nem todo o papel higiénico é usado na traseira, mas o histórico das declarações dos dirigentes deixa muito a desconfiar. É tanto dirigente falando de rabo, gente!

 

Daqui a pouco vão dizer que o dinheiro das dívidas ocultas foi para comprar papel higiénico mais macio em Dubai para o povo. Vão dizer que a maior parte desse item de higiene vai para aqueles soldados e polícias que estão 'sa-cagar' demasiadamente em Cabo Delgado. No fim de tudo vão dizer que os lucros do petróleo e gás serão para higienizar os rabos dos moçambicanos. O último golpe é dizerem que o país não desenvolve porque o povo caga muito. Do tipo o Estado está a gastar todas as economias no c* do povo. 

 

Ya, esse filme eu já vi. Querem nos fazer acreditar que temos as nádegas mais trabalhadoras e mais eficientes do mundo, porque fazemos o cocó mais leve do mundo e, por isso, temos os c*s mais caros do mundo. Vão inventar um novo ranking para desviarem dinheiro. Enquanto caímos no índice de desenvolvimento humano, vamos subindo no índice de desenvolvimento anal. Querem nos fazer crer que os nossos c*s é que são a fonte da nossa desgraça. Do tipo, a nossa miséria vem do nosso c*. Culpar o c* alheio é fácil.

 

Contem outra, primos! Há quem pensa que tendo uma fábrica de papel higiénico em Moçambique vamos gastar menos limpando o rabo. Engana-se! Açúcar está aí a subir todos os dias com fábricas às catadupas. Não há nem uma colher de açúcar para dar um chá simples aos nossos irmãos que chegam todos os dias à Pemba. Essa cena de milhões de dólares para o c* do povo é uma armadilha. Não caiam nessa! Um dia vão me dar razão.

 

- Co'licença!

O CEO e presidente executivo da Câmara Africana de Energia, NJ Ayuk, defendeu o desenvolvimento de recursos de gás natural em Moçambique para fazer crescer a economia do país

 

MAPUTO, Moçambique, 21 de outubro 2020/ -- Por Florival Mucave, Presidente Executivo, Câmara de Petróleo e Gás de Moçambique

 

Já há demasiado tempo que as descrições que se fazem de Moçambique contêm alguma variação do seguinte: Moçambique, um dos países menos desenvolvidos e mais pobres do mundo, enfrenta secas endémicas, inundações e pobreza generalizada.

Mas hoje estamos mais perto do que nunca de mudar essa narrativa, de sermos capazes de dizer: Ao gerir estrategicamente os seus vastos recursos de gás natural, monetizando-os e aproveitando-os para industrializar a nação e desenvolver o sector privado em todo o país, Moçambique está a entrar numa nova era de crescimento económico generalizado e de estabilidade.

Infelizmente, nem todos concordam com esta visão. Uma série de organizações ambientais argumentam que os benefícios da produção de gás natural em Moçambique são insignificantes e não compensam os custos ambientais.

No mês passado, o CEO e presidente executivo da Câmara Africana de Energia, NJ Ayuk, defendeu o desenvolvimento de recursos de gás natural em Moçambique para fazer crescer a economia do país. Ele criticou alguns grupos ambientalistas - a associação Friends of the Earth com sede no Reino Unido em particular - por tentarem interferir na promessa de financiamento de mil milhões de dólares do governo do Reino Unido para o Projeto de Gás Natural Liquefeito (GNL) da Total em Moçambique. (A agência de crédito para exportação UK Export Finance, concordou em contribuir com financiamento devido ao potencial do projeto para transformar o orçamento estatal de Moçambique e criar empregos no Reino Unido.)

Pouco depois de Ayuk lançar o seu artigo, a jornalista Ilham Rawoot, que trabalha para a Friends of the Earth Moçambique (Justiça Ambiental) e é a coordenadora da organização da campanha No to Gas!, respondeu com um artigo de opinião igualmente apaixonado opondo-se à sua posição. Ela questionou o comentário do Sr. Ayuk sobre a interferência dos ambientalistas e as suas opiniões sobre os benefícios potenciais do GNL, e afirmou que Moçambique estaria melhor sem a produção de gás natural ou projectos de GNL.

Eu respeito o direito da Sra. Rawoot de expressar as suas opiniões sobre África ou qualquer outro assunto.

Só desejo que ela, e outros que pretendam dizer não ao gás” em Moçambique, possam começar por fazer uma análise aprofundada sobre os prós e os contras de Moçambique desenvolver as suas vastas reservas de gás natural, que considerem os efeitos colaterais e multiplicadores em termos de desenvolvimento socioeconómico, desde a formação e capacitação, emprego, receitas do governo, industrialização, passando pela utilização do gás doméstico e segurança energética. A produção de gás natural representa verdadeiramente uma oportunidade para os moçambicanos e existem razões sólidas para acreditar que Moçambique pode dar os passos necessários para colher benefícios significativos dos três projectos de GNL que aqui estão a ser desenvolvidos: o projecto de GNL da Total, avaliado em 23 mil milhões de dólares; o projeto Rovuma liderado pela ExxonMobil avaliado em 23,9 mil milhões de dólares; e o projeto Coral Floating LNG de 4,7 mil milhões de dólares. Mas não apenas isso, eu já testemunhei o impacto positivo das indústrias de gás natural noutras regiões, de Trinidad e Tobago, ao Qatar, à Nigéria, à Austrália, à Noruega e nos Estados Unidos da América. Estas são algumas das razões pelas quais estou confiante quando digo que os moçambicanos podem mudar a trajectória do nosso país para melhor: Podemos transformar a nossa realidade e deixarmos de ser pobres apesar dos nossos recursos, para passarmos a prosperar por causa deles.

Precisamos desta oportunidade

Do meu ponto de vista, devemos abraçar a indústria do gás natural de Moçambique e os projectos de GNL, acima de tudo porque existem evidências empíricas que demonstram que em Moçambique, os benefícios tangíveis resultantes dos projectos de GNL superam de longe qualquer impacto negativo. Actualmente, as oportunidades económicas em Moçambique são mínimas e a produção de gás natural tem o potencial de satisfazer simultaneamente várias necessidades prementes: criar emprego, capacitar, diversificar a economia, dar acesso à energia e, acima de tudo, reduzir a pobreza.

Para ter um desenvolvimento económico sustentável, através da industrialização, Moçambique precisa de expandir o acesso à electricidade. A Lei Moçambicana do Petróleo 21/2014, afirma que Os recursos petrolíferos são ativos cuja exploração adequada pode contribuir significativamente para o desenvolvimento nacional”. Esta posição também encontra eco no Plano Director de Gás de Moçambique, que sugere que o Governo de Moçambique deve desenvolver os recursos naturais de forma a maximizar os benefícios para a sociedade moçambicana, de forma a melhorar a qualidade de vida do povo moçambicano, minimizando os impactos sociais e ambientais adversos.

Muitas das nossas dificuldades em Moçambique estão enraizadas na falta crónica de acesso fiável à eletricidade: Apenas 29% da nossa população tem acesso a energia. Para fazer face a este acesso limitado à energia por parte dos moçambicanos, a Lei do Petróleo 21/2014, incorpora uma cláusula sobre o gás doméstico, segundo a qual 25% do gás natural produzido em Moçambique deve ser utilizado no mercado interno. Como resultado das obrigações de gás doméstico, estamos a começar a ver novos investimentos consideráveis em projetos de Gas-To-Power em Moçambique, como o Projeto Ressano Garcia CTRG, o projeto de Kuvaninga, o Projeto de Eletricidade Regional de Temane, que deverá começar em breve e que incluirá uma central eléctrica a gás de 400 megawatts, e a planta elétrica de 250 megawatts planeada para o distrito de Nacala, que funcionará com gás da Bacia do Rovuma, em Moçambique.

Mantenha em Mente a Estratégia de Longo Prazo

No seu artigo de opinião, a Sra. Rawoot afirma que poucos dos trabalhos de construção envolvidos na planta de GNL da Total foram para empresas locais, e ela está correcta. Mas, para que sejamos justos, temos de reconhecer que a indústria de GNL em Moçambique está na sua infância e ainda não temos mão de obra treinada capaz de participar na indústria de petróleo e gás. Por muito que adorássemos ter uma maioria de 70% de moçambicanos a construir tudo, ainda precisamos de empresas internacionais com as capacidades necessárias para fazer o trabalho dentro do prazo e do orçamento. A capacitação está a avançar, mas a experiência e o know-how técnico ainda não estão ao nível necessário. No entanto, isso não significa que devemos bloquear os projetos. Temos de avançar e, ao mesmo tempo, trabalhar na construção de leis de conteúdo local que promovam a participação inclusiva dos moçambicanos na indústria de petróleo e gás. Espero ver a comunidade ambientalista ocidental a apoiar esses esforços. A sua pode ser uma voz poderosa e influente na defesa da importância de uma política de conteúdo local que promova a participação inclusiva e sustentável dos moçambicanos nos projetos de petróleo e gás.

Quando a Câmara de Petróleo e Gás de Moçambique e a Câmara Africana de Energia falam sobre a criação de empregos a partir de projetos de GNL, não estamos a referir-nos simplesmente a empregos na área da construção. Estamos também a falar de empregos de topo e altamente qualificados nas centrais quando estas estiverem operacionais, empregos em empresas locais contratadas pelas centrais e também empregos criados à medida que Moçambique aproveita a sua indústria de gás natural para industrializar a sua economia.

O Gás é só o começo!

A indústria do turismo na África Austral estava a crescer exponencialmente antes da Covid-19 e voltará a crescer após a pandemia. O gás natural de Moçambique pode ser um catalisador para o crescimento da indústria do turismo. O Governo de Moçambique tem o turismo como um dos seus pilares económicos e embora a indústria do turismo tenha sido gravemente afectada pelos ciclones e pela Covid-19, o seu grande potencial permanece inexplorado. 

Apesar do seu grande potencial, a indústria do turismo de Moçambique não será capaz de crescer e florescer sem uma rede eléctrica fiável. Mesmo com as nossas praias paradisíacas e algumas das ilhas mais bonitas do mundo, serão poucos os turistas que virão se não tivermos acesso fiável a energia. Queremos que os turistas possam desfrutar do nosso belo país e queremos um setor de turismo dinâmico que contribua para o crescimento económico de longo prazo e a criação de empregos. Para conseguir isso, precisamos de energia fiável, precisamos de infraestrutura. Moçambique pode conseguir tudo isso com a produção e as receitas que vêm do GNL.

O Impacto da Produção de Gás Natural na Indústria Agrícola de Moçambique

No seu plano económico a cinco anos, o Governo de Moçambique indicou a agricultura como a sua principal prioridade. Atualmente, quase 80% da nossa população trabalha no setor agrícola, que gera cerca de 25% do nosso PIB. No entanto, devido aos baixos níveis de produtividade, muitos dos nossos agricultores ainda vivem na pobreza extrema. Mas isto pode mudar. Simplesmente usando fertilizantes, os agricultores podem aumentar o seu rendimento em quase 40%. Embora os fertilizantes importados sejam muito caros para a maioria dos nossos agricultores, Moçambique pode criar uma opção mais acessível. Ao construir infra-estruturas para transformar gás natural em fertilizantes à base de azoto, Moçambique não só ajudaria os seus agricultores, mas também criaria oportunidades de emprego locais. Moçambique pode reduzir significativamente as suas importações de produtos agrícolas da África do Sul e tornar-se uma fonte acessível de alimentos para consumo interno.

A monetização do gás natural é viável

Compreendo porque é que alguns são céticos quanto à capacidade e determinação de Moçambique para gerir as receitas do GNL de uma forma que beneficia a nossa população. É verdade: a indústria do petróleo e do gás nem sempre foi boa para o povo de África. Nós vimos a nossa cota-parte de governos corruptos e rentistas no continente africano. Também vimos o impacto da maldição dos recursos, mesmo da maldição pré-recursos. É por isso que a Câmara de Petróleo e Gás de Moçambique, o Sr. Ayuk, a Câmara Africana de Energia e outras organizações africanas de petróleo e gás estão a trabalhar em conjunto para mudar a narrativa sombria da indústria de petróleo e gás em África. Somos novas vozes africanas na indústria, dedicadas à transparência, à boa governança, ao crescimento económico e ao desenvolvimento sustentável.

Estou certo de que Moçambique pode beneficiar das dolorosas lições que alguns países africanos produtores de petróleo aprenderam até agora, desde políticas desastrosas até à diversificação bem sucedida das suas economias. Também podemos aprender com exemplos positivos, como a ilha-gémea de Trinidad e Tobago, que, como Moçambique, possui reservas consideráveis de gás natural. Iniciativas governamentais em Trinidad e Tobago levaram a investimentos estrangeiros significativos em projetos de downstream de gás. E isso, por sua vez, gerou uma maior atividade nos setores de construção, distribuição, transporte e manufactura.

Olhando para as emissões em proporção

Naturalmente, proteger o meio ambiente é uma grande preocupação para a Sra. Rawoot, a Justiça Ambiental e organizações semelhantes - e é muito importante para nós.

Espera-se que o consumo de eletricidade a nível global aumente 70% até 2035, com a geração eléctrica à base de gás quase a duplicar para responder a esse aumento. Também se espera que a participação do gás natural na matriz energética global seja maior do que a do carvão e do petróleo até 2035.

O crescimento projectado para o setor da energia deve levar em consideração as crescentes preocupações em relação às mudanças climáticas. Porém, o combate eficaz às mudanças climáticas não deve entrar em conflito com o progresso humano e a redução da pobreza.

No que diz respeito ao gás natural, a sua influência na redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) é significativo, visto que o gás natural com menor teor de carbono padrão de 15,3 Kg / GJ, é uma opção mais limpa em relação ao carvão (25,8 Kg / GJ) e ao petróleo bruto (20 Kg / GJ). O gás natural é de facto uma opção para cumprir as metas de emissões industriais. Por outras palavras, o gás natural é um combustível de transição, pois fornece uma alternativa energética de baixo carbono em comparação com outros combustíveis fósseis.

E quanto ao impacto ambiental potencial do uso de gás natural para gerar energia em África?

Estima-se que, se triplicarmos o consumo de eletricidade na África Subsaariana, tudo com gás natural, produziremos o equivalente a 0,62% das emissões globais anuais - menos do que o aumento global médio anual na última década.

Em Moçambique, dada a nossa propensão natural para ciclones e outras catástrofes naturais, proteger os nossos habitats naturais e a vida selvagem, bem como manter o planeta saudável para as gerações futuras, tem sido uma prioridade e continuará a ser. No entanto, em vez de descartar projetos de GNL, devemos trabalhar juntos para encontrar uma maneira de desenvolvê-los de maneira ambientalmente responsável.

Os Moçambicanos têm uma palavra a dizer no Processo de Relocalização de Afungi

No seu artigo de opinião, a Sra. Rawoot argumenta que a planta de GNL da Total não representa apenas uma ameaça ambiental, mas também uma ameaça para as pessoas e comunidades locais. A Total, ela escreve, retirou os lares a 556 famílias para construir o seu projeto da central de GNL e não as compensou de forma justa. Essas alegações são infundadas. Este é um assunto que foi amplamente discutido entre a sociedade civil e o Governo moçambicano. Atualmente, o governo está envolvido em conversas produtivas com cidadãos e empresas sobre o assunto. Além disso, as empresas de petróleo e gás em Moçambique têm sido muito sensíveis às questões que afetam as comunidades e têm incentivado as comunidades a serem ativas no processo de aquisição de terras, um processo que inclui relocalização, compensação, restauro de meios de subsistência e a criação de um fundo de desenvolvimento comunitário para comunidades afetadas pelo processo. Além disso, por meio de uma organização não governamental (ONG), foi prestada assistência jurídica às famílias que assinaram acordos de compensação e relocalização.

Vamos remover um motivador de violência

Não vou negar o ponto da Sra. Rawoot de que Moçambique tem conflitos, incluindo conflitos armados e ataques terroristas. A insurgência em Cabo-Delgado é um facto e não existe uma solução simples para este dilema. No entanto, acredito que o nosso governo em parceria com a sociedade civil e a comunidade internacional chegará a uma solução pacífica duradoura, condição sine qua non para a exploração viável do gás natural em Cabo-Delgado.

Também concordo com o jornalista Oscar Kimanuka, do Ruanda, que observou recentemente que o desemprego no norte de Moçambique pode ser um fator chave para os jovens se juntarem aos extremistas.

Parece lógico, então, que a criação de oportunidades de emprego poderia, pelo menos, tornar mais difícil para grupos militantes extremistas e terroristas recrutar os nossos jovens. Portanto, aproveitar os nossos recursos de gás natural para fazer a nossa economia crescer é uma solução sustentável.

Os moçambicanos merecem a chance de se ajudarem


Eu entendo que Moçambique tem a sua cota-parte de desafios complexos e o gás natural não é uma solução perfeita. Ao mesmo tempo, é absurdo que a Sra. Rawoot sugira que Moçambique deva comprometer um investimento projectado em GNL de aproximadamente 55 mil milhões de dólares, equivalente a quatro vezes o tamanho do PIB do país, e renunciar às receitas do Governo nos próximos 25 anos que se estima irão aumentar em 4-5 mil milhões de dólares por ano.


Moçambique não pode dar-se ao luxo de continuar a ser um país onde o orçamento do nosso Governo depende da boa vontade de dadores internacionais. Queremos que os moçambicanos tenham a dignidade do trabalho e da construção de uma nação inclusiva e respeitável. Aproveitar o gás natural para lidar com a redução da pobreza é uma solução adequada.