Na área metropolitana do Grande Maputo quem assim responde está a comunicar que não vem ou que não tem hora para chegar, mas sempre tarde. O certo é de que não se encontra na portagem, o posto de cobrança pelo uso da estrada localizado na divisória entre as cidades de Maputo e Matola. Pensei nisto quando vi um trecho de uma entrevista do actual edil de Maputo a propósito dos 133 anos da cidade capital que foram celebrados no passado dia 10 de Novembro. Na entrevista, entre outras promessas, a de que em 2021 ter-se-á novidades do metro de superfície. Não é a primeira vez que ouço deste edil tal promessa. No seu primeiro consulado (2004-2008) prometera-o para o (suposto) mandato seguinte, mas tal, o mandato, fora barrado pelo seu partido, preterindo-o a favor da candidatura do anterior edil de Maputo que nos seus dois mandatos, reiterou copiosas vezes a promessa. E como um bom filho, a promessa está de regresso à casa.
Será desta o metro? Se eu fosse um dos assessores do actual edil, um guru e referência de exemplar gestor público, recomendá-lo-ia alguma prudência, a par da experiência anterior, a menos que não esteja interessado num segundo mandato, esperando assim despachar tudo num único, incluindo o metro de superfície. Aliás, na entrevista o edil deixa bem claro de que não é o tipo de político que promete e não cumpre. Contudo, e perante mais uma promessa do metro vir à superfície, um meu próximo e grande observador dos processos de governação do país, perguntaria: “Sobrinho! Esse tal de metro o que vem mesmo fazer? Complementar o caos?”. Para o meu saudoso tio a melhoria da mobilidade não parte do vazio e de que o primeiro passo seria o de acabar com o caos instalado, incluindo o das ideias. E quanto a este tipo de caos, temo que as ideias estejam também “a passar portagem”.
Por acaso, e a propósito de qualidade, salta-me à memória um treinador americano de basquetebol do Benfica de Portugal que em tempos, perante a falta de talentos, dissera de que antes da qualidade o objectivo era a quantidade. E assim o clube saiu às ruas de Lisboa a procura de potenciais jogadores tomando a altura como um critério-chave. Aposto que se o mesmo raciocínio fosse aplicado na melhoria da qualidade da mobilidade na área metropolitana do Grande Maputo o metro não só viria à superfície como complementaria a qualidade existente. Ou seja: que antes de pensarmos em trazer o melhor, começássemos pelo que se devia ser feito em prol da qualidade do que temos disponível (infra-estruturas, meios, políticas e serviços). É bem provável, e para fechar, que seja por aqui a razão da resposta dada pelo “Metro de Superfície” quando perguntado se ainda vinha (à Maputo).
Estávamos no ano de 2011. Acabava de admitir para o ensino superior, frequentando o 1º ano da licenciatura em ensino de Filosofia com habilitação em História na sala 02.7 na Universidade Pedagógica – Sede. No fundo da sala sentava um senhor, franzino, calmo e dedicado. Chamava-se Miguel Vicente, nascido no planalto dos makondes, no distrito de Mueda, província de Cabo Delgado. Miguel Vicente era um visionário humilde e que só revelou os seus tentáculos nos meados de 2014 durante o pleito eleitoral!
Dedicado aos estudos e com notas agressivas que arrepiavam os mais novos. Miguel Vicente tinha uma carta na manga que ninguém imaginava! Já em 2012 ele já havia previsto que o seu "amigo-irmão" da infância, de lá das matas da aldeia Namau, seria o futuro presidente da República de Moçambique. Militante apaixonado pelo batuque e pela maçaroca, sonhava em terminar a licenciatura, mestrado e doutoramento e abrir espaço para os mais novos em Cabo Delgado; terra hoje martirizada pelo terrorismo.
Durante horas, Miguel Vicente reflectia como tornar a sua bela terra, num local de referência local, nacional e internacional onde a juventude e não só teriam oportunidades sociais, políticas e económicas. Miguel Vicente sonhava com uma vida, onde as condições básicas de vida seriam facilmente suprimidas através da educação e emprego. Embora professor de formação e em exercício, Miguel Vicente pensava num Cabo Delgado e Moçambique diferente.
Miguel Vicente, bolseiro do sector da educação em Cabo Delgado, seguia um percurso académico invejável até que no quarto ano do curso foi encavilhado por um docente fazendo-o reprovar a uma disciplina, História de Moçambique. Excluído naquela disciplina nuclear e com uma nomeação a Inspector Provincial do Sector de Educação à espera, Miguel Vicente caiu doente, com o corpo paralítico e sem forças; foi transportado de Maputo para a 3ª maior baía do mundo, Pemba. Recuperou da doença e veio fazer a disciplina em falta, com sequelas da doença. Terminou a disciplina curricular e voltou a ter uma nova recaída. Teve que voltar para casa, com sinais de melhoria, quando faltavam dois dias para a defesa da monografia científica teve mais uma recaída (parece que o diabo não o queria largar). No dia da sua defesa Miguel Vicente perdeu a vida.
Sepultado no planalto dos Makondes, Miguel Vicente era um amigo sonhador do Presidente e foi enterrado no primeiro ano de mandato do seu grande irmão. Os sonhos de Miguel Vicente rebatiam a tese de que alguns estudos sobre as causas do terrorismo apregoam, infelizmente ele perdeu a vida dois anos antes dos terroristas destruírem sonhos e projectos de vidas como aqueles que o amigo do presidente sonhava: um Cabo Delgado próspero e diferente.
Os contornos da vida de Miguel Vicente parecem terem partido junto com ele no túmulo e que homens iguais têm uma característica comum: partir cedo! Miguel Vicente, caso estivesse em vida seria um lutador incansável para estabilidade e a triste realidade que o povo que lhe viu nascer vive, hoje. Miguel Vicente deve estar a revivar-se no túmulo por tudo que está passar! O amigo do presidente que morreu com a vontade de fazer mais pelo povo…
A primeira experiência que tive foi terrível, eu tinha apenas catorze anos. A minha mãe sofria de uma doença desconhecida. Estranha. Rastejava como um grande lagarto humano. Por vezes contorcia-se lembrando as serpentes em desespero. Na nossa casa o silêncio era por demais aterrador, e os meus dois irmãos mais novos chegaram a um ponto em que já não falavam. De fome. Parecia que estavam num funeral sem fim, assistindo aos seus próprios corpos descendo ao abismo. Vezes sem conta acercavam-se da mamã, abraçando-a sem se importarem com o mau cheiro que exalava. Eles também, como eu, cheiravam mal por falta de banho.
Não tinhamos nada. O papá foi-se embora para onde até hoje ninguém sabe, numa altura em que ainda não podiamos perceber as coisas, e a minha mãe nunca nos explicou sobre o desaparecimento do nosso projenitor porque ela perdeu a fala. Fomos crescendo como filhotes de uma fêmea abandonada. Incapaz. Sem provento. Pior do que isso, uma fêmea decepada por dentro, que vai passar a vida inteira sem poder caminhar na vertical. Era arrepiante ver minha mãe erguendo o corpo como uma grande salamandra e ir a casa de banho para a satisfação das necessidades. E regressava sem se lavar adquadamente porque não tinhamos sabão. Não tinhamos nada. Absolutamente nada. Não sabendo, até hoje, como é que chegamos vivos até àquele limite.
Mas eu já não podia suportar mais uma situação que superava as nossas capacidades de sofrimento. Era um castigo que queimava mais que o fogo do vale de Guehena. Então, precisa urgentemente de fazer qualquer coisa. Tinha que me mover, não como a salamandra encarnada na minha mãe, mas como alguém capaz de abdicar do corpo e entregar-se aos sabujos. Era mais fácil assim, segundo o que eu pensava, do que procurar trabalho com a idade que tinha. Por isso decidi vender-me para alimentar meus irmãos e tentar mudar a vida da minha mãe.
Apesar de criança, eu possuía corpo de mulher. Era bonita, e já tinha consciência de que nenhum homem resistiria aos encantos da minha fisionomia. Era portador de um activo valioso, que podia ser colocado na mesa das negociações com alguma arrogância. Aliás, antes de entrar nesse carreiro do diabo, já conversava com as minhas vizinhas que tinham uma longa carreira de prostituição e elas falavam-me das manhas que era preciso ter se quisesse fazer aquele trabalho catalogado no patamar do abominável. Até porque fui relutante, porém cheguei ao ponto em que já não aguentava assistir a minha família sucumbindo.
Expus-me resolutamente na montra da noite, preparada para o pior, vestindo saia curta, comprada com dinheiro que pedi emprestado a uma daquelas que viriam a ser minhas companheiras do infortúnio.. Sabia que estava entrando para o inferno, porém nas circunstâncias em que vivia com a minha mãe e meus irmãos, eu precisa entrar no inferno, para dar o Céu aos meus irmãos. À minha família. Não era o prazer que me chamava, mas o dinheiro, esse metal do diabo, que sem ele não haverá pão em casa.
Parou ao meu lado um carro de luxo, e o homem que ia ao volante convidou-me gentilmente a entrar. Já me tinham dito, as minhas amigas, que eu valia ouro, por isso não devia brincar em serviço, ou seja, tinha que cobrar de acordo com o meu estatuto. E foi isso que fiz. Sem saber, todavia, que a experiência seria amarga.
Eu era virgem, e o homem, ao aperceber-se disso, despejou sobre mim todo o seu sadismo. Estuprou-me com violência, e ainda revirou-me como carne no espeto sobre o fogo, sem se importar com o sangue que molhava os lençóis da pensão. Eu gemia de dor, e ele castigava-me mais a cada gemido.
Voltei para casa de madrugada. Esfarrapada no corpo e na alma. Revoltada. Decidida a nunca mais voltar a entregar-me às noites. Mas era mentira. Nesse dia a luz materializou-se na nossa casa. Comemos pão com salada e peixe frito, como nunca o tinhamos feito. Os meus irmãos tomaram banho com sabão. E a minha mãe, sem me dizer nada, chorou por perceber tudo. E comeu a comida da ignomínia. Mas tinha que comer para sobreviver.
Tornei-me profissional depois de todas as dores. Depois de toda a vergonha. A minha ferramente era o corpo. Usado e abusado, mas era uma importante jazida de rubis esgotáveis. Comprei um apartamento. Levei minha mãe ao tratramento médico na África do Sul, de onde regressou curada. Os meus irmãos estão formados, com a universidade paga pelo meu corpo subjugado. Mesmo assim, continuo a ser uma cobra, apesar das vestes de púrpura que me cobrem.
Esta semana, a Pê-Gê-Ere enviou ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo uma acusação contra Manuel Chang e mais três antigos funcionários do Banco Central no âmbito das dívidas ocultas. Nos próximos dias o Tribunal deverá chamar os indiciados para ouví-los. Okey! Beleza!
Só não entendo por que é que o Ministério Público insiste em enviar esses processos aos Tribunais quando devia enviá-los ao Gungu ou Mutumbela Gogo. Não entendo por que é que essas peças sobre gatunos de estimação não são ensaiadas e exibidas no Cine Teatro Gilberto Mendes ou no Teatro Avenida. Por que é que a doutora Beatriz não negocia um horário com a direção do Gungu ou do Mutumbela Gogo para usarem aqueles espaços? É que só assim a Procuradoria teria mais público nas suas atuações. Só assim as suas peças seriam mais conhecidas.
É que do jeito que a Pê-Gê-Ere está a proceder dá a impressão de estarmos perante um processo sério que vai dar num julgamento também sério. Eu acho que devíamos deixar os Tribunais fazerem o que de melhor sabem fazer: condenar pilha-galinhas e ouvir malta Matias Guente e Nuno Castel-Branco. Vamos deixar que os Tribunais cumpram com as suas atribuições. Essas brincadeiras de mau gosto de malta Beatriz e compadres dela deviam fazer em espaços próprios.
Teatro no átrio do Tribunal não fica bem. Uma peça teatral precisa de ensaios, aplausos e gargalhadas. Por exemplo, o ator que vai fazer o papel de Manuel Chang deve ensaiar bem e o público precisa de estar a vontade para rir também a vontade. Quando o juiz estiver a fazer as perguntas, as pessoas vão soltar gases de tanto rir. Quando os advogados de Chang e desses outros três atores ex-funcionários do Banco de Moçambique estiverem a falar, de togas e sotainas, vai ser muito engraçado. E isso não fica bem numa sala de Tribunal.
Doutora Beatriz, o povo precisa de ver essas peças! O povo precisa de se divertir a vontade. De resto, nos últimos anos, as vossas criações artísticas têm sido muito boas, mas pecam por estarem a levar muito a sério. Vocês é que estragam. Não sei como é que vocês podem pensar que uma peça teatral num Tribunal pode ter graça.
Faxavor, não banalizem a arte! Enviem esses processos para o Gungu ou Mutumbela Gogo. Aliás, deixem malta Juju e Branquinho fazerem essa cena. E vocês voltem a dormir. Brincadeira tem hora, principalmente quando é de mau gosto.
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Decorrente do frenesim das eleições americanas, e porque disputadíssimas, a media internacional, e não só, tratou de concluir que a América estava profundamente dividida. E no caso, o estar dividido, dito como se fosse um assunto da mais alta gravidade. Confesso que até fiquei com dúvidas em relação a democracia como um bom modelo de governação, pois não cola que uma eleição com a maior participação de sempre e disputadas até ao período de compensação fosse dada como um problema de “saúde pública”. O contrário – que um dos concorrentes ganhasse com uma larga maioria – é que seria o saudável? Talvez sim, porque, supostamente, significasse que a América saísse mais unida.
Afinal, em democracia, e porque divide, os altos níveis competitivos entre concorrentes não é saudável e deve ser combatido. E eu convencido de que os resultados das eleições americanas estavam a demonstrar a vitalidade da sua democracia, e quiçá a da democracia pelo mundo fora. Puro engano. E ainda mais, sendo a América a democracia mais consolidada do mundo e com o actual inquilino da Casa Branca aos berros, chego a triste conclusão de que em democracia o equilíbrio não é salutar e que o melhor é que uma das partes ganhe e quanto possível de forma retumbante.
Neste contexto, diante do equilíbrio entre os candidatos e na sequência a ideia de que tal (uma América competitiva) não é saudável, pois divide, e de que a união só com uma maioria retumbante, dei por mim a pensar no processo eleitoral moçambicano que fora na mesma diapasão é mais maduro. Aliás, uma escassa vitória eleitoral entraria em choque com a constituição, particularmente com um dos objectivos fundamentais do Estado moçambicano que é a consolidação da unidade nacional.
Em síntese, para fechar, o equilíbrio eleitoral não é bem-vindo (em Moçambique e pelos vistos nem na América) e que uma vitória retumbante é um imperativo nacional de união e tal decorre, na Pérola do Índico, de um comando constitucional. Neste aspecto, os Estado Unidos da América deviam colher a experiência moçambicana para que em próximas eleições não brinquem em serviço.
Samira Mussa cresceu em Quelimane, concretamente no bairro da Vila Pita, mas as suas origens encontram-se na cidade de Nampula, onde nasceu e perdeu logo cedo os pais vítimas de uma doença prolongada.
Linda, com um olhar sensual, discreto e muito fugida. Samira professava a religião islâmica, onde era aplaudida por todos como a futura "grande estudiosa do islão". As vestimentas da Samira eram típicas da religião e das mulheres nativas do mundo árabe que mesmo diante do feroz sol e calor da terra dos Bons Sinais ela estava toda coberta. Na escola era um exemplo a seguir. Embora com estas todas qualidades, Samira era apaixonada por Ramiro, um rapaz honesto e de uma família humilde, com tudo para dar certo num relacionamento a sério com a Samira.
Ramiro, jovem com sonhos elevados, conseguiu admitir ao ensino superior, numa das maiores universidades do País, com sede em Maputo. O namoro de Samira e Ramiro passou a ser alimentado por longas juras de amor ao telemóvel e promessas de um futuro diferente. O contrato entre o casal era de que, independentemente das circunstâncias, todos os meses de Dezembro, Ramiro tinha de voltar à casa para estar com sua amada.
A promessa foi por quatro anos cumprida, mesmo diante do fogo cruzado ao longo da Estrada Nacional (EN1) entre as forças governamentais e os homens armados da Renamo; Ramiro arriscava tudo para ver a sua amada, entretanto tudo viria a mudar quando a família da Samira conseguiu inscrever a mesma na Universidade Católica de Moçambique (UCM) delegação de Nampula. Um ano estudando em Nampula, Samira mudou totalmente, passou a gostar coisas mundanas.
Os pedidos que ela fazia para o seu amado Ramiro já não eram correspondidos. Na Universidade as colegas mudavam de telemóveis mensalmente. Tinham namorados que traziam as mesmas de carros particulares e nos intervalos alugavam a lanchonete e nos finais de semana estavam em discotecas e grooves nas praias de Ilha de Moçambique e Chocas Mar. O Ramiro andava atolado na busca por uma oportunidade de emprego na capital. Finalmente, Ramiro conseguiu. Samira já estava num outro relacionamento com um cidadão da Guiné Conacri.
No início, o relacionamento entre Samira e o novo companheiro dela era uma maravilha. Ele bancava todas as contas. Ramiro conseguiu um emprego, onde em seis meses foi nomeado assessor da instituição, tinha um bom salário e condições para viver. Sem saber da situação da amada, Ramiro pagava as mensalidades da Samira e enviava alguma mesada para a mesma. Levou muito tempo, Samira já não queria mais nada com o Ramiro. Samira recebeu um pedido do companheiro guineense para viverem juntos.
A vida seguia normalmente. Samira engravidou. Os negócios do companheiro corriam bem. Ela abandonou a formação e passou a dedicar-se mais ao companheiro e no desenvolvimento familiar. O projecto de vida entre eles estava bem encaminhado. De repente, tudo mudou. O companheiro guineense da Samira virou violento. Eram socos no estômago ao pequeno-almoço, chapadas na cara ao almoço e pontapés ao jantar. Com sete meses de gestação, o guineense deu um soco na barriga da Samira e pediu divórcio, mas na esperança de manter o lar, a Samira suportou tudo.
Dois meses depois veio ao mundo, o filho do casal. Com os valores acumulados por debaixo do colchão e nas contas bancárias da Samira. Dias depois o companheiro contou que o pai havia perdido a vida em Conacri e que ele precisava viajar para lá. O companheiro guineense exigiu que ela entregasse todo valor porque ele tinha que seguir com a viagem para o inteiro e eis que a mesma levantou o valor e facultou-lhe. Lá foi ele para Conacri.
Com a estória do falecimento contada em Moçambique, enquanto em Conacri esperava-se um noivo para o casamento do ano. Que esteve em Moçambique a trabalhar e a organizar o futuro da família. Em Moçambique, o guineense havia enrolado uma família larga e contado uma longa-metragem. No noivado com a Samira, ele apresentou uns conterrâneos como parentes legítimos que o representaram. No entanto, o visado em questão tinha outros planos.
Chegou em Conacri casou-se com uma companheira de longa data. As fotos do evento foram parar nas redes sociais. Com a legenda em francês diziam "mariage de l'année...Le couple de l'année" que significa "casamento do ano... o casal do ano". Do modo como a farsa estava montada, até o mesmo bloqueou nas redes sociais a esposa moçambicana. Entretanto, o mesmo "esqueceu-se" que as irmãs da Samira acompanhavam sua "maratona digital" e dada às facilidades que o facebook permite ultimamente, as irmãs traduziram a legenda acima mencionada e descobriram que o cunhado havia casado com uma outra mulher e que não havia perdido nenhum parente, mas sim acabava de acrescentar mais uma parente.
Sem alternativas, as irmãs comunicaram a Samira da situação, agoniada e desesperada. Samira mergulhou-se em lágrimas com um filho recém-nascido. O companheiro guineense não mantinha contacto com a mesma num intervalo de seis meses. Estranhamente, neste período, alguns conterrâneos do guineense começaram a pressionar a moçoila para abandonar a casa e deixar tudo que estava no interior da residência.
Samira resistiu e passando algum tempo o guineense voltou sem nada. O valor todo que haviam acumulado para o projecto familiar, acabava de ser torrado no novo matrimónio contraído em Conacri. Em território moçambicano, o guineense procurou a Samira para reatar a relação. A pressão e as bofetadas eram tantas que mesmo no momento de reconciliação o guineense chegou embriagado, pegou num copo e atingiu a Samira na testa. Em pouco tempo a face estava toda inchada. Foram dias de agonia e dor.
Diante do sofrimento, Samira abandonou a residência e voltou para sua casa. Entretanto, dias depois o guineense regressou a sua procura; queria amantizar com ela. Uma mulher que ele havia burlado sentimentalmente. A Samira hoje vive traumatizada e diante de várias lembranças, sempre aparece na memória dela o seu amor de Quelimane, Ramiro, o jovem rejeitado na altura por não ter melhores condições que o guineense.