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sexta-feira, 18 setembro 2020 09:00

As 'grandas' descobertas do papá Guebuza

O cidadão A-ponto-Guebuza acaba de descobrir que o Ministério Público de Moçambique não é de confiança. Segundo ele o Judiciário moçambicano é usado para perseguir cidadãos depois de proferirem publicamente discursos não alinhados ao sistema. Nas suas pesquisas concluiu que a Procuradoria é usada para satisfazer interesses pessoais e para matar politicamente os adversários dos que detêm o poder. 

 

Nas suas difíceis investigações, que tem sido feitas há 45 anos, o visionário e iluminado Guebuza descobriu que o próprio Estado moçambicano confia na Justiça do estrangeiro. As mesmas pesquisas levaram-no a concluir igualmente que os assuntos mais importantes de Moçambique são discutidos fora do território nacional.

 

De resto, são grandes revelações. Tudo novidade para os moçambicanos. Ninguém sabia disso. Ninguém podia imaginar tal coisa. Na verdade, esta é a maior descoberta de todos os tempos feita por um moçambicano residente em Moçambique. Moçambique está em festa. 

 

O mundo está incrédulo. Wauuu!!! Cientistas de todo o mundo querem saber como é que o Tchembene descobriu isso. A NASA não tem dúvidas que se trata de uma das maiores descobertas do século XXI juntamente com a descoberta científica de que 'onde come um comem dois' feita por Eme-Ci-Rodja em 2008. O Comité Nobel acaba de anunciar que o próprio Alfred Nobel não resistiu à tamanha descoberta e ressuscitou da tumba para conhecer esse génio africano e vai distinguí-lo pessoalmente com o Prémio Nobel da Amnésia. A ONU vai marcar uma Assembleia Geral extraordinária para anunciar que o cérebro deste moçambicano é património divino da humanidade. O Vaticano comunicou que o Papa Francisco está a caminho de Moçambique para pedir bênçãos a esse filho mais querido. O presidente da Ametramo diz que ele já sabia que mais dia menos dia esse Tchembene iria nos surpreender.

 

De facto, o mundo parou. Finalmente a grande descoberta: o Ministério Público de Moçambique não é de confiança, é usado para perseguir cidadãos inocentes e esquartejar politicamente os adversários; e é normal que o mesmo Ministério Público prefira atravessar a África sub-sahariana, o deserto de Sahara, o Mar Mediterrâneo, a Europa Continental, o Canal da Mancha, para obter informações de um cidadão nacional que vive aqui. 'Granda' novidade!

 

Qual é a próxima descoberta, cota? Que temos um gatuno nacional, com alcunha chinesa, que foi capturado no estrangeiro, a mando de outros estrangeiros? Que existe uma matilha de cães raivosos chamada Gê-40 patrocinada pelo Estado? Que a água do mar é salgada? Qual é a próxima novidade, papá?

 

- Co'licença!

Marcelo Mosse 0319
terça-feira, 15 setembro 2020 10:10

Barbárie

Uma mulher nua caminha trôpega pela estrada e é acossada à paulada por soldados armados até aos dentes. Ela tem o ventre inchado e as mamas descaídas quando se dobra para se defender das impenitentes vergastadas.  Batem-na violentamente e ela é traída pelo esfíncter e um jacto de fezes, quase impercebível, quando atalha fora do asfalto. Continuam a batê-la e mandam-na voltar para a estrada. Os próprios soldados filmam a cena. A mulher não tem como defender-se e volta à estrada. Um deles dispara e ela cai. Os outros metralham-na, seguidamente. Impiedosamente. Cada um deles vomita tiros sobre a mulher caída no asfalto. Mesmo quando persuadidos há ainda disparos sobre a mulher morta. Quantos tiros? Impossível contar. São rajadas esfuziantes. O vídeo é rápido e a cena demasiadamente chocante. Abandonam o cadáver e exultam, ufanos: “Matámos o Al Shabab!” Um deles faz um V, de vitória, com os dedos e aparece em primeiro plano no vídeo. Dizem impropérios enquanto se afastam. Vejo isto e estou incrédulo. Não consigo pensar. Tenho náuseas. Não entro na discussão sobre quem são verdadeiramente aqueles homens. O que está em causa aqui é a barbárie, sejam eles quem forem. Não pode haver justificação para isto. Para uma execução intrémula.  Para esta personificação do mal. É isso que nós estamos a viver e muitos de nós continuamos sem perceber. Estamos costas voltadas. Não nos apercebemos de nada? Aqui está a barbárie no seu esplendor. Para os incautos, relembro a sinonímia. Barbárie significa: selvajaria, incivilidade, bestialidade, estupidez, ignorância, crueldade, atraso.  

Olhem pró Marcos, o Tuto! Ele anda foragido da Justiça no Brasil. É parceiro do Fuminho no PCC (o Primeiro Comando da Capital), facção criminosa envolvida no tráfico de drogas. O Fuminho foi preso em Abril no Montebelo, lugarejo elitista na Sommerschield, em Maputo. Ontem, o Ministério Público de São Paulo revelou que o Tuto é "adido" no Consulado de Moçambique no Belo Horizonte, Minas Gerais. O quê? Isso mesmo! Por essa via, não espanta que tivesse passaporte diplomático moçambicano! Vejam...até onde tráfico brasileiro penetrou em Moçambique: até o tutano do Governo, traficante recebendo honrarias de diplomata. É de esperar que a Ministra Verônica Macamo venha urgentemente destrançar as linhas com que se coseu este Tuto. E dizer quem são seus parceiros locais. Finja, pelo menos, e convoque um inquérito...uma comissãozinha. Assim, evita embaraçar a AR (em país normal, já o parlamento a tinha convocado. Mas, aqui, o compadrio da maioria obsoleta não ajuda). 

terça-feira, 15 setembro 2020 06:10

Emboscadas comunicativas

O Estado deve resgatar o seu papel de fonte credível e privilegiada de informação sobre o teatro das operações de Cabo Delgado. Quando o assunto é a guerra de Cabo Delgado, a opinião pública deve recorrer a fontes governamentais e estatais, assim como o faz com a Covid-19. Quem quiser saber algo sobre a Covid-19 sabe que é só esperar a hora do jornal da noite para se informar. Ou seja, há um esquema informativo criado (caracterizado pela rotina, legitimação, tipificação e profissionalização) que dá credibilidade a informação anunciada. Essas características criam aquilo que se chama de 'contrato social' com o povo. 

 

Este 'contrato social' faz com que, por exemplo, as pessoas vejam a senhora Rosa Marlene, o senhor Samu-Gudo, o senhor Ilesh, etecetera, como os detentores de informação credível e legítima. Por exemplo, se você disser que hoje houve mil casos positivos e disser que foi a doutora Marlene que disse, ninguém vai perguntar mais nada. Significa que a informação veio de uma fonte credível e legítima.

 

Ora, o que o nosso Estado tem feito em relação a Cabo Delgado é aquilo que eu chamaria de emboscada comunicativa. O Estado lança uma informação e foge; manda uma indirecta e desaparece; responde a uma informação veiculada nas redes sociais e some; dá uma meia-informação e baza. O Estado não comunica; ele ataca as comunicações dos outros e desaparece. O Estado não informa; ele dispara contra as informações dos outros e foge. O Estado não criou ainda o seu próprio esquema de comunicação com o povo. Não há um fluxo de informação claro, credível e legítimo. Ou seja, o Estado especializou-se em fazer guerrilha contra a opinião pública. Especializou-se em fazer emboscadas comunicativas e esconder-se no segredo do Estado. O Estado assalta o que os outros dizem. O Estado virou o bandido da história. 

 

Sobre o vídeo que viralizou ontem nas redes sociais o Estado não sabe o que dizer. Só sabe dizer que aquilo é condenável e que o povo deve se manter vigilante. Não assume nem desmente as atrocidades cometidas contra aquela pobre mulher. Neste momento, deve estar a decorrer uma conferência dos 'cabeças de repolho' para prepararem uma emboscada contra o vídeo. A estratégia, desta vez, será de ameaçar e culpar as pessoas que partilharam e comentaram o post. Aqueles que colocaram 'laike' serão todos notificados pela dona Buchili. Com um pouco de azar, vão dizer que o celular que filmou é do Bispo Dom Luíz Fernando Lisboa e aqueles jovens fardados são acólitos da diocese de Pemba. 

 

Manter as pessoas informadas não significa publicar informações classificadas ou secretas. Não significa publicar esquemas, tácticas ou estratégias militares. Não! Significa disponibilizar uma equipa de técnicos e profissionais para sanarem as dúvidas sanáveis, para responderem as perguntas respondíveis. Sempre tendo em conta a sensibilidade da informação, evidentemente.

 

Hoje em dia, sobre Cabo Delgado, o Estado moçambicano passou de vítima para suspeito devido ao seu descaso. O silêncio deliberado faz do Estado/Governo um cúmplice. Assim parece que o Governo tem algo a esconder e os insurgentes têm alguma razão de se insurgir. Morreu a verdade. A cada informação veiculada e a cada vídeo publicado morre a verdade por asfixia. E com a verdade morre também a confiança e a esperança do povo.

 

Eu estudei Jornalismo com gajos do Ministério da Defesa, até do SISE. Haviam até gajos do Quartel General. Sei também que alguns se especializaram dentro e fora do país. É hora de chamar esta gente. O Estado deve rever a sua forma de se comunicar com a opinião pública... sem arrogâncias. O Estado deve parar com esta guerrilha informativa. O Estado deve parar com estas emboscadas comunicativas. O Estado deve parar de se confundir com o bandido da história. 

 

- Co'licença!

segunda-feira, 14 setembro 2020 14:46

“Lista dos Participantes” e a Covid-19

Faz algum tempo que eu contei a saga sobre a “Revolta dos Beneficiários” cujo epicentro  é a “Lista dos Participantes”, vulgo de presenças, e que circula nos seminários para o seu preenchimento e assinatura.  Foi graças à assinatura desta lista que os  beneficiários  de potenciais apoios de projectos ou programas de combate à pobreza e/ou de promoção  do desenvolvimento chegaram a uma lista geral de cidadãos, entre nacionais e estrangeiros, a serem punidos com a pena máxima, uma  sentença decorrente da alegação de que os beneficiários, o potencial  grupo alvo de tais projectos, foram usados no lugar de apoiados.  Daí a “Revolta dos Beneficiários”.

 

Com a Covid-19 e por força da proibição de aglomerações e do fecho de fronteiras , a“ Lista dos Participantes” foi uma das principais vítimas e também uma salvadora da Covid-19. A  sua ausência impactou negativamente na economia, sobretudo na indústria  hoteleira e de transportes, e ainda evitou contactos de alto risco, atendendo que os seminários, pelo menos os ditos bem sucedidos, constituem um  cocktail de participantes provenientes de diversos locais a nível nacional assim como internacional. 

 

Para a História, fora o bom do lado salvador, creio que será pelo lado das  vítimas que a História lembrará a  “Lista dos Participantes” em tempos da Covid-19. Numa outra perspectiva, e a fechar, a ausência da “Lista dos Participantes” reduziu a possibilidade  de alguns ( os mais assíduos) ocuparam os lugares cimeiros de cidadãos a abater ou, no mínimo,  a constarem na lista  da “Revolta dos Beneficiários”.  

 

PS: Na retoma dos seminários é possível que os dados a preencher da “Lista dos Participantes”, nomeadamente o nome, organização, função, proveniência, contactos bem como a respectiva assinatura ou rubrica, sejam acompanhados por outros sobre a Covid-19, tais como: “Positivo ou Negativo”, “Positivo Activo ou  Recuperado”,  “Sintomático ou Assintomático”, “Quarentena Domiciliar  ou Hospitalar” e por ai adiante.