Renato Caldeira, um dos jornalistas desportivos mais fervorosos e competentes da nossa história, publicou em 1994, no jornal “Desafio”, uma reportagem sobre a transferência de Chiquinho Conde, de Moçambique para Portugal, e chamou um emocionante título para o texto, que fez escorrer o coração: “Hambanine m´fana!” (Adeus rapaz!). Tratava-se – a partida desse irreverente beirense - do abrir tardio da página de um livro que ficou fechado cerca de duas décadas, desde que a Independência de Moçambique chegou, e impediu que muitos jogadores do nosso país fossem brilhar em grandes estádios do mundo. Onde a glória lhes esperava. Em vão.
Mas Chiquinho batia as asas numa altura em que o nosso futebol parecia estar a apresentar em palco, os últimos números de um espectáculo corporizado por grandes actores, nascidos para jogar no cimo da montanha, porque depois as luzes começaram a ter falta de néon. O Estádio da Machava, em si mesmo, foi perdendo a aura da grande catedral que era, pois já escasseavam futebolistas da jaez daqueles que tinham “pendurado as botas” por força irrecusável da idade. Então teve início o declínio, que dá a sensação de estar a prolongar-se até aos dias de hoje.
Jamais foram necessários os espectáculos de música nos campos para a convocação das massas. Não serão os paraquediastas o centro das atenções, esses eram lançados em agradecimento aos briosos jogadores e ao público que invadia o vale do Infulene aos magotes, na ânsia e na certeza de que seria brindado por um jogo da primeira linha. Não eram esses condimentos que arrastavam os sedentos, era o próprio futebol. Porém, hoje, o chamariz de cartaz para o Estádio do Zimpeto, é a Liloca e suas bailarinas. Isso signifia que estamos a descer por um carreiro íngreme.
Antes do jogo do Black Bulls, frente ao Petro Atlético de Luanda, os dirigentes do clube local vieram a terreiro aliciar as pessoas, prometendo surpresas – que seriam do tipo Liloca e outras - no Zimpeto. Isto deixa claro que eles sabiam que a equipa por si só, não teria força mobilizadora, ninguém vai acreditar nela. No tempo que antecedeu o Chiquinho Conde e no tempo dele também, quem aliciava era a qualidade do futebo apresentado. Pena é que alguém entendeu que esses jogadores de quem temos saudades, deviam ser enclausurados e grilhetados.
Quando chegou aqui o Victor Bondarenko, disse – numa entrevista ao Homero Lobo, no jornal “Desafio” – que queria fazer do Matchedje, um conjunto de elite, e que com este conjunto chegaria longe. Homero não acreditou no que Bondarenko dizia, mas não demorou muito e o russo levou a equipa às meias finais do “Africano de Clubes”. Estávamos numa época de ouro. Se calhar no auge. Os jogadores eram escolhidos a dedo e colocados nos escaparates onde superavam todas as expectativas.
Será necessária uma enciclopédia para incorporar todos aqueles jogadores de fina estirpe, e falar da história de cada um, apesar de não lhes ter sido permitido o voo para outras terras. Fecharam-lhes o espaço. Cortaram-lhes as asas, como ao belo Mugubani do Salimo Mohamed. Mesmo assim, os seus nomes vão ressoar para sempre na memória do futebol moçambicano. Lembrar-nos-emos das tardes e noites inolvidáveis no Estádio da Machava, onde os adolescentes e adultos que não tinha dinheiro para aceder ao recinto de jogos, penduravam-se nas torres de electricidade. Ainda havia uma bancada para os “sócios” da Federação, que eram os miúdos deixados entrar gratuitamente para aplaudirem os craques.
Hoje já não há euforia nos campos. Não há entusiasmo. E se não há tudo isso, não nos resta outro caminho que não seja o de continuarmos a fumar o ópio deixado pelos nossos ídolos, que continuam os mesmos!
A narrativa oficial do MADER (Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural) registou um crescimento de 20% da produção local de batata-reno, nomeadamente na campanha agrária 2021-2022,atingindo 57 mil toneladas.
Os dados oficiais apontam que, no mesmo período, Moçambique importou 70 mil toneladas, para cobrir o défice. Os mesmos dados oficiais prevêem que a produção local de batata-reno deverá crescer cerca de 20%, permitindo que mais de 50% da batata consumida passe a ser nacional. Como consequência do aumento da produção nacional, o preço da batata-reno baixou consideravelmente no Mercado Grossista do Zimpeto.
Um dos centros de maior produtividade de batata-reno, em Gaza, é o distrito de Massingir. Lá o saco de 10 kg, de batata limpa, é vendido, à porta do produtor, a 200,00 Mts. No mercado do Zimpeto, o preço de referência para a mesma batata, com data de 5 de Setembro, não ultrapassava os 230,00 Mts.
Ontem, "Carta" foi dar uma espreitadela no Shoprite, para ver se a retórica governamental, a ladainha da contenção do custo de vida com base no aumento da produção local tinha correspondência efectiva na redução no preço final ao consumidor de alguns produtos de "bandeira", como é caso da batata.
O que apuramos foi um cenário de especulação sem paralelo. A mesma batata comprada a 200,00 Mts no produtor em Massingir é vendida a 299,00 Mts no Shoprite. Ou seja, cerca de 50% de margem de lucro.
Isto é um autêntico roubo ao consumidor final e é aqui onde entidades como o INAE (Inspecção de Actividades Económicas) devia apurar sua fiscalização. Mas o caso mostra que o encarecimento do custo de vida não pode ser atribuído exclusivamente às políticas governamentais, mas a predadores da especulação que navegam num mercado retalhista sem o devido policiamento. Fica aqui um TPC para o INAE.(M.M)
É início de noite de domingo. Setembro na pele da cidade e o cheiro do Outono mais próximo de nós, como o molho picante que se evade da cozinha do restaurante indiano da minha rua. A cada dia o sol deita-se um minuto mais cedo. O céu azul, rasgado por pássaros mecânicos, mais escuro que nos dias anteriores. Vinte horas e dois minutos e o céu azul mais escuro que nos dias anteriores e as luzinhas dos pássaros mecânicos às piscas. O campus da universidade iluminado pelas lâmpadas fluorescentes que ajudam as árvores a fintarem a escuridão. Espreito pela janela e a noite tranquila lá fora.
Na quinta-feira passada pernoitei no Estoril. Uma noite um pouco mais fria e tranquila que a de muitas freguesias de Lisboa. Claro que não podia ser diferente, no Estoril as ondas do mar rastejam com coragem e a praia do Tamariz sempre no mesmo lugar. O escritório para o qual trabalho pôs-nos lá para umas sessões de imersão à vida de advogado associado que se avizinha, razão pela qual no dia seguinte almocei no restaurante do hotel.
Durante o almoço, a mulher que serviu aos meus colegas e eu fez uma centena de visitas à nossa mesa e sempre que se aproximava ignorava os meus colegas, olhava para mim, abria um sorriso que se estendia de uma ponta à outra da boca e cantarolava para mim com aquele jeitinho e tempero brasileiros que ela transbordava:
está tudo bem? você quer mais alguma coisa?
Os olhos dos meus colegas em cima de mim e eu todo constrangido com a situação, sem saber se era aquilo mesmo que me apetecia responder:
está tudo óptimo! Muito obrigado…
Cinco minutos depois, a mulher voltava com um sorriso mais brilhante que o da vez anterior, olhava-me nos olhos com ternura e cantarolava novamente:
está tudo bem? você quer mais alguma coisa?
As batatas a murro e a bifana estateladas no prato branco a rirem-se de mim, os olhos dos meus colegas mais acusadores que nunca e eu a pensar em como ia reagir àquela situação. De repente, a minha colega com um sorriso à queima-roupa disparou:
acho que ela gostou de ti, ilustre!
Não perdi tempo, deixei escapar um risinho maroto e retruquei imediatamente:
o Brasil e eu temos alguma coisa…
As noite de Setembro, de facto, mais fresquinhas que o meu coração. As noites mais escuras. Sinceramente, eu não menti:
o Brasil e eu temos alguma coisa.
No dia 7 de Setembro, o Brasil, um país com mais de duzentos milhões de habitantes, celebra duzentos anos de independência. Tal como para muitos moçambicanos da minha geração, o Brasil chegou-me pela televisão na primeira década do século XXI. Lembro-me de ver o Brasil, um país que só mais tarde descobri colorido, chegar-me aos olhos através das telenovelas que passavam todas as noites na televisão à preto e branco que os meus vizinhos tinham estacionada no centro da cristaleira colada à parede da sala. Lembro-me de ouvir o Brasil chegar-me aos ouvidos através das melodias de Leonardo e Leandro, Zezé de Camargo e Luciano, Almir Sater, Chitãozinho Xororó, Caetano Veloso, Chico Buarque, Alexandre Pires e Alceu Valença. Lembro-me de ver o Brasil chegar através de Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa e de Capitães de Areia de Jorge Amado. De tal modo que modo que não menti quando disse:
o Brasil e eu temos alguma coisa.
São duzentos anos de independência e o Brasil, meu amor, chega-me através dos brasileiros afetuosos e simpáticos que encontro no meu dia-a-dia. O Brasil chega-me através dos vários amigos brasileiros que não cabem em nenhuma das minhas mãos sempre secas. E sem dúvida, Brasil é poesia, negro, metrópole, cachaça, futebol, música, favela, sofrimento, índio, Aparecida, alegria, samba, sertão, amizade, paixão, Domitila, carnaval, vulcão, quilombo, trabalho árduo, esperança, branco, grito, sonho, pimenta no arroz, serena, beleza, vida. De tal modo que a voz no meu ouvido, bem devagarinho, cantarolando:
Arrumadjinho!
Setembro na pele da cidade, a noite mais noite que em Agosto. As luzinhas dos pássaros mecânicos às piscas. As luzes fluorescentes iluminando o campus da universidade e as árvores esquivas a fintarem a escuridão.
Justamente um dia depois de comprar mais uma embalagem de máscaras, para variar, desta vez não eram nem azuis, nem brancas, nem pretas daquele carregado, mas daquele menos carregado, aparentemente lavado, digamos preto esbranquiçado, ou acinzentado, o Chefe do Estado veio à Nação, alto e bom tom, indicar que… “já não é obrigatório o uso da máscara” na via pública, seja nos locais de muita aglomeração, ou de pouca concentração; ou ainda, abertos ou fechados… e que já não há limitações no números de convidados para qualquer que seja a cerimônia, excepto um funeral em que o finado perdeu a vida por causa da ainda pandemia!
Ainda que não a exteriorizemos, nem a formulemos de forma directa, a questão que perpassa a alma de todo o mundano nestes dias correntes, esteja ele onde estiver, é a seguinte: a COVID-19 acabou? Passou mesmo? Mesmo…? Nao estará escondida algures numa esquina, invisível, ou na escuridão?
Não se trata de nenhuma cobardia a não enunciação da pergunta. É que se trata de uma pergunta bem difícil, que diz respeito muito ao futuro, ao amanhã; mas que carrega consigo toneladas e toneladas de pesadelos vivenciados, mas ainda bem vivos no nosso quotidiano, nas mentes e nos olhos. Como bem diz o adágio popular, ninguém conhece o amanhã. O futuro, esse, só a Deus pertence, como bem dizem os crentes. De facto, em nenhum momento o Presidente disse que a pandemia acabou. Disse, isso sim, que vamos viver, mas vamo-nos precaver, porque o amanhã pode voltar a ser o… ontem tenebroso!
Quem não se lembra desse ontem… tenebroso? Funesto! Cáustico. Carrasco. Macabro! Impiedoso. Desumano!…
Não pode não haver quem não se lembre. A humanidade que passamos ontem foi de tal sorte desumana que não deixou nada nem ninguém incólume, na mesma, sem sequelas. Todos os mundanos sofreram, de forma directa, na pele, na família, nos amigos; ou de forma indirecta, nos conhecidos e pessoas de diversa utilidade. Todos sofremos. Em texto de homenagem ao amigo e colega João Matola, que Deus o tenha na sua paz e graça, escrevia que a COVID-19 é/era aquele diabo que nos matava ainda que vivos; uma parte de nós morreu ao longo desses tenebrosos três anos.
Muitos de nós vimos nossa vida escapar por um triz… por milagre de Deus! Muitas foram as pessoas que foram a unidades sanitárias com os seus próprios pés para não mais de lá saírem com os seus próprios pés… milhões foram os que perderam directamente as suas vidas, outros milhões foram as famílias que foram dilaceradas, destroçadas para todo o sempre! Milhões foram os amigos, conhecidos e pessoas de inspiração que se foram para a eternidade, levando consigo grande parte de nós! Milhões foram as almas humanas desconhecidas de nós que, silenciosamente, nos deixaram!
Impossível apagar tudo isto. Impossível acreditar que perdemos os familiares, os amigos, os colegas e os conhecidos que perdemos. Impossível acreditar e ou esquecer!
Como é igualmente difícil esquecer que milhões foram as “coisas” que devíamos parar de fazer na nossa vida, muitas das quais sempre fizemos desde que nos conhecemos como pessoas. A vida tinha perdido completamente o seu sentido: o ser humano não é de permanecer no mesmo sítio durante um infindável período de tempo, mas tínhamos a impiedosa e desumana recomendação, com carácter de lei, o “fica em casa”! Ir ao mercado, à loja, era um acto de… muita coragem! Ir aos copos com os amigos, um dos maiores prazeres da vida, festas, convívios, passeatas, praias… tudo, tudo ficou literalmente proibido: fica em casa! Tudo tinha que se feito e só se podia fazer… na clandestinidade, com o perigo de se ir parar na esquadra dentro de um mahindra!…
Momentos tenebrosos poderão voltar, por isso, continuemos a precavermo-nos! Mas os que passamos não o foram menos! Continuemos a usar a máscara, a desinfectar as mãos, a evitar as aglomerações e os apertos de mão!
ME Mabunda
E os irmãos angolanos deram razão e um voto de confiança a João Lourenço para continuar o trabalho que começou! Uns viam nele um caçador de bruxas, outros, um tirano, ditador, vingador… outros ainda, um perdido na Presidência da República!… mas os angolanos, de forma clara, falaram e disseram: continua a trabalhar! É isto que os dados da CNE angolana nos diz!
Diga-se tudo o que se disser, a questão que fica por aclarar é: como é que o MPLA sobreviveu? Muitos recorrem ao disco conhecido de fraude. Pode ser. Mas na ausência de evidências, ficamos por aí na cogitação. Porém, uma coisa é certa: é difícil acreditar que os 14 milhões… - okay, metade deles, já que 54% se abstiveram - de votantes, todos eles tenham tido daquela grossa maluca que baralha completamente a cabeça durante dias, tipo boss ou double punch!… ou tenham "phuzado mhondzo" (beber poção mágica) para… ou ainda, tenham fumado daquela da pesada para terem chegado à cabine de voto e… cambaleantemente… porem um "X" na última linha… muito menos que um carrasco, tipo Xico feio, estivesse escondido em todas as cabines do país e… tenha obrigado a 4 ou 5 milhões de pessoas a votarem no M/JLo!
Pessoalmente, não consigo compreender como é que o MPLA ganhou… e bem! 124 contra 90 não é um resultado à tangente. 34 deputados não é "à tangente…" Não é retumbante, nem asfixiante, mas também não é à tangente, convenhamos! Diga-se igualmente tudo… que perdeu não sei quantos deputados, que a UNITA se fortificou, que… não sei o que, mais o que, mais o que… sim… mas, lembre-se que não é todos os dias que o Bayern, ou o Real Madrid ganham por… 3, 4 ou 5 zero!
E porquê não consigo compreender como é que o MPLA sobreviveu? Por uma meia dúzia de razões.
Primeira e acima de tudo, porque hoje temos a verdadeira dimensão de como José Eduardo dos Santos com a cumplicidade do MPLA pilharam os recursos angolanos. Todos vimos, atônitos, os triliões ou quatriliões de dólares que Eduardo dos Santos andou a distribuir pelos seus acólitos… a começar pela sua família, depois os amigos, os próximos, os protectores, etc., etc., com tantos quatriliões pilhados durante 38 anos, As listas iam até 500 nomes..: de riquezas/valores ilicitamente conseguidas ou roubados do tesouro nacional angolano. A terra dos Kambas seria hoje um Dubai africano não tivesse sido esta desumana pilhagem! Angola seria um paraíso em África! Um orgulho… ou terra de meter inveja!…
A segunda razão foi a forma como JLo "combateu" a corrupção. Falou mais do que fez. Com tantas evidências de enriquecimentos ilícitos, camiões e camiões de malas de dólares e dólares encontrados nas ruas, armazéns e ou em moradias, muita gente teria ido parar no xilindró… prendeu e julgou menos do que o que deveria ter feito!
A terceira, foi como geriu a sua relação tumultuosa com Zé Du. Ficou menos disfarçada a vingança, a ira que nutria pelo antigo estadista - justificada ou não; ficou muito à descoberta a aparente perseguição, ódio, retaliação a José Eduardo dos Santos e à sua família.
A par disto, as mensagens acutilantemente emocionalizantes das filhas aquando da morte do pai e a subsequente disputa do óbito com a… viúva - de juri ou de facto, não releva. Particularmente as da Tchizé foram bastante incisivas e impiedosas para com o JLo e com o MPLA. E podiam ter mobilizado muitos eleitores.
Depois, os manifestos eleitorais dos dois partidos. Ainda que tenha perdido, mantenho a opinião de que o manifesto da UNITA está melhor estruturado, elaborado e completo; mais atractivo do que o do "nosso partido"! Mais desafiante, inovador, revolucionário, apelativo, ousado e… galvanizador!
Por fim, e não menos importante, a comunicabilidade dos dois candidatos. Adalberto Jr. tem uma eloquência comunicativa melhor que a do nosso líder! A eloquência conta para conquistar mentes…
Pensei que, por todas estas razões e mais algumas, o povo angolano iria dar um "basta" - como bem promoveu o nosso ídolo Bonga - a JLo e ao MPLA! Não o fez! Deu-lhe, pelo contrário, um voto de confiança. Disse: "Continua a trabalhar JLo!" Eu próprio dificilmente teria votado no M.
Pronto, assumo o meu erro de cálculo… erro que me vai custar um "12 anos". Apostei com o meu irmão de pais diferentes, o Sitoe, em como o povo angolano ia dar um "pontapé" ao partido libertador e ele, duro como não é, sempre disse, irredutível, que "o MPLA vai ganhar!" E que as imagens que pululavam/pululam as redes sociais são de Luanda e de outras poucas cidades!…
Agora, a batuta está nas mãos de JLo… os angolanos disseram alto e bom tom: "confiamos em ti! Damos-te mais uma chance para continuares a linha que começaste! Queremos ver combate à corrupção. Queremos ver Angola a transformar-se num "Dubai africano"! Queremos uma Angola melhor!"
Eu também quero uma Angola melhor! Como quero um Moçambique diferente!
ME Mabunda
Seria um lugar privilegiado de contemplação, não fosse aquela invasão toda de casas precárias que vão até à água, e as machambas que sugam essa mesma água. Há outras construções, ainda, erguidas ao gosto dos donos, à volta da lagoa de Tsivanene, sufocando uma paisagem que pertence a todos os munícipes da cidade de Inhambane, porém, agora desfrutada por poucos.
Tsivanene já foi um paraíso, um ponto de encontro onde as mulheres – antes de haver água canalizada para as casas da maioria - iam lavar a roupa, que saía perfumada pelas plantas de nenufen, abundantes nesse tempo. Era um espaço livre, espectacular, com dunas a debruarem -no, num perímetro de cerca de dois quilómetros de comprimento, e talvez pouco mais de meio quilómetro de largura. Mas hoje, toda a beleza natural que ali existia, foi encoberta.
Ainda há pouco passei por Tsivanene, com o propósito de buscar lembranças de um tempo que deixa saudade. Íamos, na companhia das nossas mães, banharmo-nos em mergulhos inocentes, cheios de entusiasmo, enquanto elas – as nossas projenitoras – lavavam a roupa, entretidas e alegres, em conversas sem fim. Sabia do que me esperava. Tinha consciência do choque que me atingiria ao não poder parar de determinada distância e assistir a uma maravilha ora mais do que esquecida. Destruída!
Fui à Tsivanene, como tenho ido a muitos sítios da minha cidade, em passeios livres, sempre que as oportunidades se me oferecem, e saí de lá profundamente esfaqueado na alma. Senti que é um espaço que podia merecer melhor tratamento, onde as construções deviam ser feitas a uma distância recomendável, à mistura com algumas casas de pasto e esplanadas para dar regalo ao espírito, à mente, e ao corpo.
Tsivanene podia ser limpo, talvez dragado, a pensar-se em canoas desportivas, há condições para isso. Seria um retiro da juventude, e não só, já que dentro da cidade não temos visto casais a passear abraçados aos fins-de-semana. Inhambane não são só as praias espalhas ao longo do Índico, entre Barra e Guindjata, passando por Tofo. Aqui também poderiamlos aliviar as cargas do trabalho que nos ocupa ao longo da semana.
Tsivanene fica perto do Aeroporto. Seria acessível e lindo, se alguém tomasse a responsabilidade de mudar as coisas como estão, e levá-las a um sonho que é possível realizar. Para gáudio de todos os manhambanas, e daqueles que nos viriam visitar.