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sexta-feira, 11 outubro 2019 05:48

Guerra “declarada” em Cabo Delgado: Carta traz detalhes das últimas operações militares em Mocímboa da Praia e Macomia

Dois anos depois da onda de ataques bárbaros contra civis, militares e propriedades públicas e privadas, nos distritos do norte e um do centro (Meluco), na província de Cabo Delgado, a situação naquela província ganhou outras dimensões, levando até o Ministério da Defesa Nacional (MDN) a emitir comunicados e a distribuir imagens dos combates no “teatro das operações”, reivindicando sucessivas vitórias contra os “insurgentes”.

 

O facto é que, desde 05 de Outubro de 2019, as Forças de Defesa e Segurança (FDS), em cooperação com o grupo paramilitar russo “Wagner”, vêm derrotando, consecutivamente, os insurgentes que, durante os últimos tempos, tornaram “zonas fantasmas” as aldeias remotas de alguns Postos Administrativos dos distritos de Macomia, Mocímboa da Praia, Palma, Nangade e Muidumbe.

 

 

Conforme apurámos de fontes oficiais e não autorizadas a falar, o governo está no teatro das operações com os “irmãos russos”, entretanto, as mesmas confirmaram-nos que um militar de nacionalidade russa perdeu a vida durante os combates com insurgentes, decorridos entre os dias 06 e 10 de Outubro, na base de Mitope, quando um grupo de insurgentes infiltrou-se na base do grupo “Wagner” e atirou contra os militares, na ocasião, um número de cinco insurgentes foram abatidos pelo contingente militar.

 

Desde o dia 05 de Outubro, as FDS e o grupo russo vêm protagonizando bombardeamentos às bases dos insurgentes, em Macomia e Mocímboa da Praia, como se verificou no passado dia 07 de Outubro, quando as Forças governamentais surpreenderam durante a calada da noite e abateram mais de 30 insurgentes na base de Marere, no distrito de Mocímboa da Praia, vista como uma das sete células estabelecidas ao longo dos distritos mais fustigados pelos ataques. Entretanto, no ataque surpresa também houve baixas de dois militares de nacionalidade russa.

 

De fontes fidedignas, apurámos que, no passado dia 08 de Outubro, entrou, através do Porto de Nacala, um navio oriundo da Federação Russa, transportando pouco mais de 17 contentores de diferentes tipos de armamento bélico, com especial enfoque para explosivos, e que, neste momento, está ser usado nos campos de combate.

 

A situação que se vive nas aldeias dos Postos de Administrativos de Mucojo, Quiterajo, em Macomia, e Mbau, no distrito de Mocímboa da Praia, é de “guerra”, confirmando o que avançaram os analistas Calton Cadeado e Régio Conrado que, em entrevista à “Carta”, disseram que o Governo devia dar mais autonomia às FDS e que a acção devia passar a ser mais ofensiva que defensiva e que não devia haver sentimentalismo.

 

O facto é que, nos últimos dias, as bases dos insurgentes têm sido bombardeadas a todo o momento, tendo ditado a fuga de vários insurgentes para o interior das matas. Entretanto, graças aos drones, que são monitorados a partir do Quartel-General de Mueda, os insurgentes estão a ser abatidos, não havendo muito espaço de manobras.

 

Conforme aferimos, diferentes unidades das FADM estão no terreno, sendo um grupo fiscalizando a zona marítima, outro circulando a nível aéreo e outros militares por via terrestre, com principal destaque para batalhões de infantaria, de Forças Especiais, baterias de artilharia e de logística.

 

 

No dia 09 de Outubro, nove insurgentes foram capturados na região de Mbau, em Mocímboa da Praia, levados à selva, torturados e depois queimados, confidenciou uma fonte interna à “Carta”. Na conversa que tivemos com a fonte, soubemos que foi através de drones e helicópteros que foram identificados os insurgentes, sendo que cada um tentou correr para o seu lado, devido à aflição, tendo sidos interceptados.

 

Segundo apurou a nossa equipa, entre os dias 06 e 10 de Outubro, os helicópteros sobrevoaram as matas de Quiterajo, Miangalewa e Mbau, e um pouco pelo espaço aéreo da cidade de Pemba, ou seja, num ambiente de “guerra total”.

 

A caça aos insurgentes começa à meia-noite e só cessa no final da tarde, período em que, com recurso a drones, helicópteros e um grupo de militares usando blindados e os outros na zona costeira e na fronteira, as FDS e os russos do grupo Wagner cercaram-nos.

 

Outro episódio aconteceu na manhã da passada quarta-feira (09 de Outubro), quando dois supostos integrantes do grupo de insurgentes dirigiram-se a um salão de cabeleireiro, na aldeia de Miangalewa, no distrito de Muidumbe. O grupo tentou disfarçar-se, mas foi capturado por populares e entregue às autoridades policiais.

 

Na quinta-feira, em alguns povoados de Mucojo, os bombardeamentos e trocas de tiros foram maiores, tendo-se, primeiramente, retirado a população para zonas distantes dos ataques, estimadas em 30 km para evitar morte de civis.

 

Dada a mudança de abordagem, “Carta” conversou com alguns cidadãos de Pemba e Mocímboa da Praia, que mostraram satisfação, afirmando que o seu desejo é que a situação mude definitivamente, pois, segundo contam, “já eram demais as acções dos insurgentes”. (Paula Mawar e Omardine Omar)

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