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BCI
quarta-feira, 08 abril 2020 05:01

Covid-19: Restrições agravam problemas de transporte na área metropolitana de Maputo

Está instalado o caos na área metropolitana de Maputo – composta pelas cidades de Maputo e Matola e pelas vilas de Marracuene e Boane – devido à falta de transporte público e semi-colectivo de passageiros. Desde a passada sexta-feira, que se agudizou a crise de transporte na maior área urbana do país, em virtude de o Governo ter decidido reduzir para 1/3 (33%) a lotação dos autocarros e viaturas de 15 e 30 lugares, como forma de minimizar os riscos de propagação do novo coronavírus, pandemia que já infectou 10 pessoas no território nacional, sendo que uma já foi declarada curada.

 

Isto é, para os transportes cuja capacidade é de transportar 15 passageiros sentados, a partir da sexta-feira devem transportar cinco passageiros. Os de 30 lugares, passam a levar 10 pessoas. Assim, desde sexta-feira, terceiro dia de observância do Estado de Emergência, decretado pelo Chefe de Estado, no passado dia 30 de Março, que os maiores terminais da cidade de Maputo, concretamente os do Museu, Anjo Voador, Praça dos Trabalhadores, Praça dos Combatentes, Xipamanine e Zimpeto andam completamente abarrotados, com os cidadãos quase entregues à sua sorte.

 

Boane, Zimpeto, Magoanine, Albazine, Mozal, Marracuene, Boquisso e Matola-Gare são alguns dos destinos mais procurados pelos utentes, que são obrigados a preencher as paragens por longas horas e sem saber quando poderão chegar às suas casas.

 

No final da manhã e princípio de tarde de sábado, “Carta” esteve no terminal do Zimpeto, um dos maiores terminais urbanos da cidade de Maputo, onde presenciou a falta de transporte, desde os autocarros operados pelas cooperativas filiadas à Federação Moçambicana das Associações dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO) até aos “my loves”. Os poucos transportadores, na sua maioria semi-colectivos, que se encontram a operar, encurtavam as rotas e outros priorizavam os passageiros com bagagem, de modo a inflacionarem as tarifas. No entanto, em nenhuma destas situações eram observadas as medidas anunciadas pelo Governo.

 

Até as 13:00 horas, a Cooperativa dos Transportadores do Corredor 1, vulgo “COOTRAC”, que opera nas rotas Museu-Zimpeto, Baixa-Zimpeto e Praça dos Combatentes-Zimpeto, já tinha retirado os seus autocarros, tendo agudizado o já problemático sistema de transporte da capital do país.

 

Como alternativa, os utentes recorriam aos transportes semi-colectivos, provenientes dos distritos de Marracuene, Manhiça e outros pontos da zona sul do país, que desembarcavam passageiros junto à entrada do Estádio Nacional do Zimpeto. Outros, residentes nos bairros próximos ao bairro do Zimpeto, optavam por caminhar a pé, debaixo da chuva que caía naquela tarde.

 

“Não tenho alternativas, mano. Não há chapa, não há nada aqui. Os chapeiros decidiram ficar em casa para não ter prejuízos. Só posso caminhar até minha casa”, disse-nos um cidadão, que seguia para o bairro Kongolote, no Município da Matola.

 

Quem não podia caminhar para a sua casa teve de esperar até que um milagre acontecesse. “Vou para Albazine e, perante esta situação, não sei a que horas hei-de chegar em casa. Estava no mercado [Grossista do Zimpeto] a fazer compras para reforçar a minha banca [pequeno estabelecimento de venda de produtos alimentares], mas a situação está péssima. É difícil ficar em casa, sabendo que o estômago precisa de ser alimentado e não estou em condições de comprar comida em grandes quantidades. Penso que o Governo deve analisar como nos iremos deslocar para os mercados, porque a minha vida depende deste movimento”, afirmou Alzira Mandlate, uma vendedeira que se encontrava na paragem à espera de transporte.

 

Com a chuva a molhar tudo e todos, os utentes iam correndo de um lado para o outro, na tentativa de conseguir espaço nos poucos carros que se iam mantendo em circulação que, entretanto, não obedeciam às medidas estabelecidas pelo Governo, quanto à lotação.

 

Em conversa com a “Carta”, o Presidente da FEMATRO, Castigo Nhamane, explicou que a falta de transporte não só se verificou no Corredor 1, como também em todos os corredores da Área Metropolitana de Maputo, pois, os transportadores preferiram retirar uma parte dos seus autocarros, por se tratar de fim-de-semana, entretanto, a partir desta segunda-feira, estariam na estrada para cumprir a sua missão.

 

Entretanto, o mesmo não se verificou. Centenas de autocarros estiveram parqueados nos parques das Cooperativas, como forma de protesto às restrições impostas. De acordo com os operadores, a receita actual não permite sequer o abastecimento do combustível necessário para que os autocarros estejam na estrada.

 

Em média, os autocarros das cooperativas que operam nas cidades de Maputo, Matola e distritos de Marracuene obtêm 13 mil meticais de receita bruta diária, dos quais, seis mil são destinados ao combustível e mil meticais à emissão de bilhetes, porém, com as restrições, estes nem sequer conseguem obter seis mil meticais por dia.

 

“Os prejuízos são elevados e nós apresentamos à Agência Metropolitana, incluindo as nossas propostas, porém, não irei revelar em público. Porém, tenho fé de que nos iremos entender”, afirmou Castigo Nhamane, em conversa com “Carta”, apelando a quem é de direito para que entenda que “os operadores estão carregados de elevados prejuízos, pelo que, na devida altura, deve-se encontrar uma forma de tapar os buracos que estão sendo causados nos operadores”.

 

“Apelamos também a todos os operadores para cumprir, na íntegra, as medidas de prevenção, assim como aos nossos transportados. Temos, nos nossos terminais, água, sabão e outros produtos, para desinfectar as mãos e os autocarros, mas verifica-se alguma renitência por parte de alguns passageiros.

 

Refira-se que os transportes públicos e semi-colectivos são apontados comos os potenciais “propagadores” da Covid-19, já infectou cerca de 1.5 milhão de pessoas em todo o mundo, para além de ter matado mais de 66 mil pessoas. (A.M.)

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