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quarta-feira, 06 janeiro 2021 06:39

Crédito inútil do Banco de Moçambique marcou o ano de 2020

Em retrospectiva do que marcou a economia moçambicana no ano passado, “Carta” assinalou, de entre vários acontecimentos, a linha de crédito inútil – num montante de 500 milhões de USD – disponibilizada pelo Banco de Moçambique (BM) para financiar as exportações, no contexto da mitigação do impacto da crise pandémica.

 

Foi no início da segunda quinzena de Março de 2020 que o BM anunciou a existência de uma linha de financiamento de 500 milhões de USD para os bancos comerciais autorizados a transaccionar o valor para minimizar os efeitos da propagação da Covid-19 no sistema financeiro e na economia nacional.

 

A intenção do BM tinha um fundamento: com a eclosão da pandemia da Covid-19, o país enfrentaria algumas dificuldades em exportar os seus produtos, principal fonte de moeda estrangeira para os bancos comerciais e para a economia.


“Ao aceder a esta linha de financiamento, os bancos comerciais terão mais liquidez (dinheiro) em moeda estrangeira, podendo vendê-la aos seus clientes para a realização de importações; ao vender moeda estrangeira aos seus clientes, os bancos comerciais aumentam a sua disponibilidade no mercado, reduzindo a oscilação da taxa de câmbio e, por essa via, promover a estabilidade do preço dos bens e serviços (inflação baixa e estável), o principal objectivo do BM”, fundamentou a instituição, numa nota informativa divulgada no seu site oficial.

 

Embora a intenção fosse boa, o facto é que o crédito foi muito pouco utilizado pela economia, olhando para a avalanche das empresas afectadas pela crise pandémica.

 

A informação de que o financiamento estava a ser inutilizado veio do próprio BM, através do seu Administrador, Jamal Omar.


Falando, em meados de julho último, numa Conferência sobre a Covid-19 em Moçambique, organizada pelo Ministério da Saúde e parceiros, Omar disse, de viva voz, que os 500 milhões de USD não estavam a ser bem absorvidos pela economia, porque os bancos comerciais tinham dinheiro (neste caso o Dólar) para vender aos seus clientes.

 

“Uma das razões da baixa utilização desta linha de crédito tem a ver com o facto de o mercado estar mais líquido em termos de divisas (tem mais divisas disponíveis)”, afirmou o Administrador.

 

Após o anúncio do crédito, o BM foi largamente criticado pelo sector empresarial, pois previa que os 500 milhões de USD não iriam ser bem utilizados. Em relatório de estudo divulgado em Setembro, sobre o impacto da Covid-19 nas empresas, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que, de um total de 80.7 mil empresas afectadas pela crise pandémica, somente 8 mil é que se beneficiaram da linha de crédito de 500 milhões de USD do BM.

 

Facto assinalável é que, mesmo perante essas críticas e reconhecimento do Administrador, o BM não usou outra metodologia muito útil para a economia, nomeadamente financiar não só empresários exportadores (ou importadores), mas também outras áreas produtivas e famílias, que também se ressentiam da crise pandémica. (Evaristo Chilingue)

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