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quinta-feira, 22 fevereiro 2024 07:44

Alima Hussein Sauji: Veio, venceu e convenceu, escreve Dino Foi

Conheci Alima no início da nossa carreira académica na Africa University em Mutare, em 2001. Ela era sénior: tinha lá estado um ano antes de mim, portanto conhecia a casa.
 
Havia um número de estudantes que primeiro faziam inglês por um ano e depois passavam para a universidade como tal, então quando começámos o ano académico per se ficamos na mesma turma, embora a especialidade dela era Marketing e a minha de Administração e Gestão de Empresas, muitas aulas eram em comum.
 
Alima faz parte da larga maioria, que não vai com minha cara sem eu lhes ter feito algo e nem se quer me conhecer direito. Com o andar do tempo fomos clicando, para piorar o namorado na altura era meu colega do quarto, então tivemo-nos de engolir, chegando ao ponto de lhe ter nomeado minha Vice Presidente de Administração e Finanças quando fiquei Presidente da Comunidade Moçambicana na Africa University.

Não posso dizer que a minha presidência não foi turbulenta, esse nosso tribalismo crónico já era patente na universidade: a larga comunidade Moçambicana era do centro e não via de bons olhos um Presidente do “Maputo”, e não interessava quantas vezes eu tinha de repetir que era de Inhassunge mas, o facto de eu vir do Maputo já era mau! Algo que com o andar do tempo ultrapassámos, e a Alima ajudou muito nesse quesito.
 
Muito atenta, quando notou que eu não era um estudante normal ela se aproximou mais, acrescido ao facto de que o meu melhor amigo no campus universitário era o namorado dela, ficamos irmãos. A minha anormalidade é que antes de eu ir à universidade havia estado em multinacionais e em posições seniores então o meu linguajar na parte prática das coisas era um pouco diferente.
 
Foi a mim que ela veio quando quis mudar de especialidade. Expliquei as vantagens e desvantagens de um curso e outro, embora não fossem muito distantes, a Alima preferiu seguir-me, mudando de especialização.
 
Alima e eu temos muitas similaridades. Os dois viemos do distrito (em Catandica tem energia, Inhassunge não), somos de grandes famílias africanas (extensas) e fomos fortemente suportados pelos nossos irmãos (mano Amilcar e mano Clemente). Mano Amilcar é o anjo da Alima, um irmão que também ganhei, que sempre esteve ali para Alima.
 
Quando precisamos de estágio, algo que acontecia no penúltimo ano, eu e Alima conseguimos na ADIPSA em Chimoio, uma instituição liderada na altura pela nossa carismática Directora Célia Ribeiro, que nos abriu a instituição por completo. Eu tinha um calcanhar de Aquiles: acomodação. 
 
É que enquanto os meus amigos Luis Nhancumbe e Amilcar Paulo podiam me acomodar todas vezes que eu ia passar o fim de semana em Chimoio, seria muita petulância dar lhes o fardo de me acomodarem por quase um semestre. A Alima saltou e me ofereceu um quarto na casa dela!
 
Fizemos o estágio e aconteceu uma das coisas mais belas que pode te acontecer quando estudante: A ADIPSA no fim do estágio deu à cada um de nós 6,000 dólares americanos para pagar as propinas do último ano. Era muito mais que suficiente e ali na Discoteca Gullivers me sentiram. A Alima sempre foi mais reservada.

Graduamos na mesma data em 2005, 3 meses depois fui ao Taiwan fazer o meu mestrado e Alima mudou-se para o Maputo, onde continuamos em contacto.
 
Enquanto sempre fiz combate àqueles que imigraram de vez, depois de terem ido fora estudar, mas era erro de quem nunca tinha estado fora por muito tempo. É que se de um lado era assediado pelos meus professores para ficar de vez, do outro lado era de empresas que queriam ter um estrangeiro que pudesse tomar conta do mercado internacional, então fui sim tentado a pensar em não regressar ao país, depois dos meus estudos.
 
Em 2007 estive a frente de um projecto sensível de um Estado e, quando chegou à um certo estágio esse Estado exigia que a partir daquele ponto todos que estivessem em contacto com aquele projeto deveriam ser nacionais, e no meu caso, mesmo que essa nacionalidade fosse adquirida, portanto estava me ser oferecido um passaporte e uma nova nacionalidade .
 
Confidenciei com a Alima. Meu erro! Alima chumbou completamente essa empreitada de um outro passaporte e foi mais longe: “ Mano, regressar à Mocambique e vir ser meu chefe. O meu anterior chefe mudou-se para uma outra instituição e há vaga aqui!”
 
Eu já ouvi discursos de solidariedade e, mesmo de bondade mas alguém te convidar para seres chefe dele eu nuca ouvira antes! É quão bondoso é o coração da Alima. O certo é que eu concorri para a vaga e num processo muito competitivo, incluindo o “No Objection” da USAID que pagava o meu salário, fui indicado Gestor dos Mecanismos Consultivos da CTA e mais tarde das Relações Institucionais e Desenvolvimento Associativo, tendo Alima e mais outras 2 senhoras como minhas assessoras.
 
No dia-a-dia, se não conhecesse a nossa relação, ficava difícil saber que nós tínhamos intimidade, é que a Alima é uma profissional e nunca, deixou a nossa relação de amizade estar acima da nossa relação profissional . E isso veio a gerar frutos: anos depois de eu sair da CTA a Alima conseguiu ser a Directora Executiva da CTA.
 
Mas não, a Alima pegou em si e foi buscar os assuntos mais candentes da sociedade, especificamente das mulheres e os trouxe à nú.

Há duas semanas o programa da Alima fez um ano e teve um evento de arromba, com muita luz e alegria no Hotel Polana. Não vi uma Alima madura, pois isso ela já era mesmo quando estávamos na África University, vi uma mulher do distrito, que contou ali em frente de todos que vendeu bolos para contribuir na renda da casa, em Chimoio sob chacota de preconceituosos e, ali estava ela: chegou, venceu e convenceu!

Foram bonitas as palavras do nosso eterno Presidente Salimo Abdula em conjunto com a sua esposa, São Abdula. E Alima sendo Alima, pegou nas duas irmãs mais velhas que estavam na sala e dançaram aquelas coisas delas lá de Catandica, de onde vieram.

Para muitas Alimas por aí espalhadas, nunca duvidem dos vossos sonhos!

Sir Motors

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