Numa daquelas situações em que sem esperar ligam-te e dizem que teus cheques estão prontos, podes vir levantar e tu ficas muito empolgado e começas a fazer as contas de algum material que dá para ajeitar/comprar, do fim-de-semana e de mais alguma coisa… foi como fiquei quinta-feira da outra semana, quando cerca das 11 e tal me ligaram a partir de uma instituição onde colaboro. Já não dava para ir levantar os tais cheques naquele mesmo dia, estava apertado com o trabalho. Agradeci e passei o resto do dia e dormi a assobiar!
Dia seguinte, até cheguei mais cedo no job, o que espantou alguns colegas, despachei o que tinha a fazer e… zás… pelas 11 e tal disparei para o sítio e lá peguei os tais cheques. Ambos os cheques não totalizavam um valor tão alto assim, mas dava para alguma coisa. Não fiz mais nada, fui a correr para o banco, por acaso, o meu banco, os cheques eram de lá. Eu, que contava que em menos de uma hora estaria de volta ao serviço com a massa bem no bolso!...
Chegou a minha vez, estendi-lhe os dois chequinhos juntamente com o meu BI e fiquei a olhar para ela, a senhorita da caixa. Teclou, teclou… parou de teclar, voltou a teclar e… pousou um pouco. E voltou a teclar. Depois olhou para mim e perguntou:
- Sr. Mabunda, não quer depositar na sua conta estes valores?
Respondi que no caso preferia ter cash, tinha algumas despesas para dar azo. É que, redarguiu ela, “assim tem que esperar pela autorização. O sistema não está a reconhecer automaticamente as assinaturas e assim pedi autorização ao domicílio da conta e… não estão a responder, parece que ninguém está on-line…”
Primeira contrariedade. Eu que desde ontem estava a esfregar as mãos e dormi a assobiar… engoli em seco. Optei por voltar ao serviço e, mais tarde, voltaria para recolher o cash. Simpática a senhorita, ainda solicitou o meu número para que, logo que houvesse autorização, me chamar. Fiquei animado. Estávamos nas 12 horas e picos. Fui para o serviço, trabalhei com os olhos e ouvidos no celular.
14:30!… nada! Fiz-me de novo ao balcão. A senhorita não estava, mas estava a colega, também simpática. Perguntou ao que vinha, contei e ela logo respondeu: “Ainda não temos autorização… aconselho o Sr. a depositar na sua conta!” Insisti que queria em dinheiro e a resposta foi a mesma… “tem que esperar, então!” Segunda contrariedade.
Estávamos em sexta-feira e eu pretendia aproveitar o sábado para resolver alguns problemas… nada. Não me chamaram mais naquele dia e nem na segunda-feira, até que às 11 e tal voltei àquele balcão e, já encontrei a primeira moça! Reconhecendo-me, disparou logo: “Ainda não deram autorização da sede dessa conta… aconselho-o a ir até eles lá; nós não podemos pagar sem essa autorização…” Terceira contrariedade.
Tive que ir ao domicílio da conta dessa instituição e, chegada a vez de ser atendido, expliquei o assunto. Houve teclados, mais teclados e mais teclados e até veio uma das chefes e ficaram as duas a teclar e, cerca de cinco minutos depois, vi na cara das duas um “ufff”… “já autorizaram…” E pagaram. Tudo o que queria fazer ao longo do fim-de-semana, nada!
É isto o que é o dia-a-dia dos moçambicanos! As tecnologias de informação e de comunicação não vieram para facilitar nada! Com as novas tecnologias, era suposto que o reconhecimento de assinaturas não fosse mais “bico de obras”! Continuamos como se estivéssemos nos meados do século passado. Vezes sem conta, depois de aturarmos uma grande fila, quando chega a nossa vez, é-nos dito que “não há sistema”! Tenho ouvido que mesmo nos locais onde contribuintes querem pagar impostos há muitos problemas do… sistema! "Não há sistema, volta depois ou amanhã…" E nesse ‘depois’ ou 'amanhã' há também problemas do sistema!
Mas não ficamos somente aqui, com o problema do sistema. Mandamos um e-mail para alguém - seja nosso amigo, colega, chefe, ou não sei mais quem -, aquele e-mail não é visto até telefonarmos para a pessoa e perguntar se viu o e-mail ou não! E, muitas vezes, responde que “não vi”, ou “ainda não vi”… Hoje por hoje, mandamos uma mensagem em WhatsApp ou SMS para alguém… ainda temos que telefonar para perguntar se (ainda) não viu a mensagem que mandamos… cumulo dos cumulos, envia um convite por estas vias a alguém e não obténs reacção nenhuma, muito menos resposta!...
Dá a ideia de que as TIC’s não são para nós. Conosco não funcionam.
Compatriotas, tal como a máquina a vapor, a mecânica e a eléctrica, as tecnologias de informação e de comunicação vieram para ficar. Compete-nos a nós embarcarmos ou não e ficarmos para trás para todo o sempre. Não consigo compreender como é que nestas alturas há compatriotas estudados e a assumir estatutos sociais que não querem saber das TIC’s! Dos e-mails, dos whatsapps, dos internets banking e de mil e uma plataformas que só facilitam a nossa vida!
A opção é nossa. Ou abraçamos verdadeiramente as novas tecnologias e delas tiramos proveito, ou ficamos como alguns meus colegas que se recusaram a abandonar a máquina de dactilografar para passarem a usar o computador… e ficaram no tempo para sempre!
ME Mabunda