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segunda-feira, 13 fevereiro 2023 06:54

As chuvas na zona Sul de Moçambique recriam Domoina!

Escrito por

Adelino Buqueeeee min

“Passados trinta e nove anos, desde que a Depressão Tropical Domoina se abateu sobre a região Sul de Moçambique, com destaque a Província de Maputo, depois que as famílias se reergueram, comprando e criando novo gado, quer Bovino, Suíno, Caprino e Aves, hoje, a água volta a levar essa produção. As lições da passagem de Domoina não serviram para absolutamente nada! As Populações transferidas da zona de Mazambanine para se criar a Aldeia de Campoane sabem da lição, mas, hoje, teremos outras populações por reassentar, constituídas por aqueles que reocuparam as terras antes ocupadas por aqueles que estão em Campoane, com o olhar impávido e sereno de quem de direito e esse de direito não é o Município porque a Aldeia 25 de Setembro foi criada antes do Município”

 

AB

 

A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique, para a região Sul de Moçambique, está a materializar-se em forma, em alguns casos, de “dilúvio”, lembrando os acontecimentos do remoto ano em que a região de Maputo Província foi atingida pela Depressão Tropical Domoina que aconteceu no mês de Janeiro de 1984. Passam exactamente 39 (trinta e nove anos), com a diferença do mês em que o fenómeno se deu.

 

Lembro-me como se fosse hoje, na altura trabalhava no Umbeluzi, Mazambanine, como Técnico e tinha sob minha responsabilidade a produção agrícola (Hortícolas) e Criação de Porcos e Patos que, com a depressão, a água tudo levou. Nunca mais voltamos aos níveis de produção de então, em relação à criação de Suínos e Patos. Pura e simplesmente a empresa desistiu, não recomeçou com o negócio, que não era negócio na altura, mas servia para abastecer o Centro Social.

 

Este episódio lembra-me também que foi no ano de 1983 que conheci o Dr. Hélder Muteia, na altura Director da Pateira, ali onde hoje cresce um condomínio imponente. Aquele espaço, para quem não sabe, foi o centro de produção de patos. A Pateira tinha uma máquina de chocar ovos a que muitos produtores recorriam para a sua produção de aves. Creio que Hélder Muteia deixou de ser Director e a Pateira esfumou-se, não tenho certeza. Tenho certeza que naquele lugar não se produz mais patos e tenho a certeza que jamais se produzirá patos por conta do Condomínio que ali nasceu.

 

Triste é saber que, desde Janeiro de 1984, altura em que se deu a Depressão Tropical Domoina, que assolou o Sul de Moçambique, com realce nos Distritos de Matutuine, Boane, Moamba e Magude nada se fez para alterar ou prevenir os próximos eventos, para além da recepção, claro, dos donativos resultantes de apoio dos parceiros de Moçambique. Digo isto com tristeza, por exemplo, a ponte de Mazambanine, de que se fala quase sempre nos princípios de ano como intransitável, poderia ter beneficiado de elevação, não é uma ponte cumprida, localiza-se numa zona vital para a Cidade de Maputo e Matola, que é o Centro de Tratamento de Água, para além de empreendimentos agrícolas e pecuárias na zona.

 

Estou em crer que a situação piorou, ali no Bloco 2, onde se produzia Citrinos e tinha o Centro de empacotamento de Citrinos para a exportação. Virou uma garagem de viaturas e os campos de Citrinos “retalhados” a pedaços que não sei quem tira maior benefício daquilo. Para piorar, ergue-se por ali residências e/ou outros empreendimentos de cimento que hoje devem estar submersos na água, tal como se deu há 39 anos. Infelizmente, sempre que passo por ali olho com tristeza, como uma zona eminentemente agrícola pode ser transformada em tudo menos em lugar de produção agrária!

 

Devido às condições meteorológicas, não sei ainda como estará a zona de Umbeluzi. Ali, antes da entrada da vedação dos pequenos Libombos, uma zona igualmente agrícola por excelência, lembro-me que nos tempos áureos de produção de Citrinos, aquele bloco era reservado à produção de hortícolas pela mesma Empresa de Citrinos de Maputo. Hoje, há ali algumas residências que, na minha opinião, constituem um autêntico atentado às zonas de produção alimentar para alimentar as cidades de Maputo e Matola e isto mostra uma coisa muito simples, que nunca tivemos um plano claro e objectivo de zonear as áreas de produção, de habitação, para indústria, Pecuária e outros serviços, qualquer espaço serve para qualquer coisa.

 

Devo recordar também que, por causa da Depressão Tropical Domoina, nasceu a aldeia de Campoane, com os préstimos da Helvetas, na altura, o Director era o meu amigo Dinis que liderou o projecto da mesma Organização para o empoderamento das famílias através da criação de patos e de burros, os burros mais para a zona de Matutuine e Namaacha, na altura, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades sob direcção de Mahanjane identificaram, com outras estruturas claro, aquele espaço e não propriamente a zona do Belo Horizonte e havia razões fortes para isso.

 

Uma das razões é que a zona denominada hoje de Belo-Horizonte comporta áreas de passagem natural de água. Para o conhecimento de muitos, Belo-Horizonte não era o lado esquerdo para quem vai de Boane a Maputo, na verdade esse lado não oferece um Belo-Horizonte, o Belo-Horizonte é o lado direito na mesma direcção e era simbolizado pelo então Restaurante Belo-Horizonte. A área de delimitação da Aldeia de Campoane situa-se ali onde à esquerda na mesma direcção está implantada a Barraca Relva, do lado de Campoane e porque, exactamente por ali, entrando um pouco para o interior do Bairro, havia uma passagem de água natural que o projecto tratou de deixar e não parcelar.

 

Hoje, esse espaço encontra-se habitado e as consequências não se fizeram esperar. Para quem vai a Campoane e entra daquela Rua, o lado direito, depois de uns 150 metros, há o referido curso de água. Daquele lado, quando se está na zona da Igreja Universal, olhando para a frente, as pessoas que vivem por ali, por estas alturas, carecem de ajuda porque as suas residências estão inundadas das chuvas e da corrente de água que teima em por ali passar, são coisas que as autoridades competentes deixam acontecerem e nestas alturas não sabe o que fazer com os habitantes desses lugares, o que se seguirá depois desta calamidade? É a pergunta que não se quer calar e a resposta, eventualmente conhecida, nada!

 

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