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terça-feira, 16 maio 2023 12:35

Entre a honestidade e a fome

Escrito por

AlexandreChauqueNova

Por estas alturas estaríamos a desfrutar das deliciosas laranjas cultivadas em Nhacoongo, aqui perto no distrito de Jangamo. Outras chegariam de lugares um pouco mais longe como Murrombene e Massinga, os mercados estariam cheios, apelativos. O ananás viria de Muchúngwè em camiões abarrotados de doçura, e de Inharrime também, então a cidade inteira transformava-se em feira de fruta, era a festa da vitamina em si. E depois eram as tangerinas, famosas em todo o mundo por via do poema de José Craveirinha “As doces tangerinas de Inhambane”.

 

Mas toda essa fruta continua a ser despejada por uma espécie de básculas, inunda os mercados. Há compradores que mesmo assim não vão em avalanche, se calhar porque o dinheiro escasseia. Porém há um interveniente que nos faz balançar de forma particular perante a oferta, que é o paladar, redondamente descompensado, ou seja, a maior parte desses produtos que nos são dados a consumir não estão maduros, são arrancados verdes da árvore, antes da formação.

 

Ainda há dias fui ao mercado, queria comprar maracujá. A própria casca falava, dizia-me que a fruta não está apurada e, portanto, não devia estar ali à venda para consumo. Perguntei – de propósito – à vendedeira, se aquela maracujá estava madura, ela respondeu-me assim, não está bem madura! Eu ainda retornei, porquê que vende se sabe que não está bem madura, mamã? E ela, sem receio disse, “É fome, papá”.

 

A mulher estava a ser honesta. Sabia da violação do direito do consumidor que estava cometendo, mas também tinha fome e precisa de se alimentar, a barriga não sabe esperar. É assim com a laranja e o ananás e a tanjerina, são comercializados na sua maioria em estado de imaturidade, não nos permitindo por conseguinte, ter o prazer de degustar de um ananás doce ou de uma laranja apetitosa, esse tempo já passou, sem que ninguém saiba se vai voltar um dia, e o presente leva-nos a pensar que não temos outro caminho que não seja o de aceitar o que nos dão, ainda por cima com o nosso dinheiro.

 

É um doloroso dilema das vendedeiras dos mercados, que vêm de longe penduradas em carrinhas de caixa aberta do tipo “My love”, chegando a dormir ao relento nos mercados enquanto o produto não acaba. Podem ficar dias assim mesmo, pior agora que o frio chegou, elas precisam de levar pão para casa, não importa o caminho a seguir para conseguir isso. Essa é a realidade.

 

Por outro lado, todas as semanas há camiões cheios de banana que chegam e baldeam a mecadoria que depois é levada em “thxovas” em estado verdíssimo, mas no dia seguinte o mesmo “thxova” leva a mesma banana que ontem estava verdíssima, já em condições de ser consumida. É estranho porque a casca, depois da fruta amadurecida de um dia para o outro, apresenta um aspecto deplorável, mas os que vendem dizem, não se preocupe com a casca, a fruta lá dentro está boa. 

 

É isso: estamos na época da fruta. Há muita fruta, mas........!

Sir Motors

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