“Hoje, o Governo desaconselha viagens à África do Sul: Quando os sul-africanos se manifestaram xenófobos, matando, queimando e saqueando os cidadãos moçambicanos, quando o regime sul-africano treinava seus Cães de Raça caçando ilegais moçambicanos, quando os transportadores moçambicanos se manifestaram contra a queima das suas viaturas e saque de bens dos transportados, quando cidadãos que por várias razões iam à África do Sul eram interpelados, roubados e as suas viaturas queimadas, Moçambique, através do seu Governo, usou a célebre palavra “estamos a trabalhar”, quando deveria ter tomado uma atitude enérgica. Mas nunca é tarde.”
AB
Desde a independência nacional, Moçambique abraçou causas internacionais e, muitas vezes, em detrimento das causas nacionais. Lembramo-nos da aplicação das sanções contra o regime do Apartheid, do regime de Smith e a guerra contra o Apartheid na África do Sul, a luta da Palestina de entre outras causas que Moçambique assumiu como suas, muitas vezes, acredito, ciente de que não teria ganhos para o país.
Na luta contra o Apartheid, Moçambique não só sofreu agressões da África do Sul, como foi severamente afectado em termos económicos, para simbolizar a nossa solidariedade para com a luta do ANC, que é a luta dos sul-africanos. Temos, na Cidade da Matola, o monumento erguido para o efeito, denominado Centro de Interpretação, riquíssimo em informação sobre a solidariedade de Moçambique para com a causa da África do Sul.
Mesmo ciente de que a sua economia é subdesenvolvida, Moçambique embarcou no protocolo da SADC, com vista à liberalização do mercado regional, assumiu as etapas e, muitas vezes, não teve o discernimento de colocar interesses nacionais aos da região. A indústria moçambicana precisava e precisa de acarinhamento para dar salto, mas, por causa dos compromissos da SADC, no seu protocolo de liberalização do mercado, Moçambique é penalizado e, neste momento, assume-se como o mercado de refugo dos produtos produzidos na África do Sul.
A questão que se coloca é: o que a África do Sul tem que ver com os problemas de Moçambique! Provavelmente nada, provavelmente tudo, mas, acima de tudo, na minha opinião, o problema é geral. Os países da SADC, na sua cooperação, privilegiam os Governos no lugar dos povos, os povos são simples seguidistas e os Governos os actores principais. Isto resulta em que os compromissos assumidos entre Estados não vinculem as pessoas desses Estados, aliás, isto acontece com a CPLP, acontece com PALOPs, se a cooperação existente com esses Estados é benéfica, provavelmente para os Estados e os Governantes do dia!
Moçambique desaconselha viagens à África do Sul!
Esta é, na minha opinião, a decisão tomada em favor da sociedade moçambicana, uma decisão que deveria ter sido tomada faz muito tempo, desde o período em que os sul-africanos manifestaram a XENOFOBIA, matando, saqueando os cidadãos moçambicanos. O Governo deveria ter-se manifestado de forma enérgica contra a atitude dos sul-africanos, quando, de forma recorrente, cidadãos moçambicanos eram interpelados e seus bens saqueados e as suas viaturas queimadas. Moçambique, digo o Governo de Moçambique, pura e simplesmente, manteve-se mudo e surdo perante toda essa barbaridade, mas porque será!
Moçambique, neste momento, tem condições de fazer boicote ao comércio com a África do Sul, desaconselhando os seus concidadãos a fazerem importação dos produtos daquele País. Moçambique pode, através do sistema de cooperação económica, produzir localmente aquilo que tanto demanda na África do Sul. Por exemplo, o Distrito de Moamba, Magude e parte de Chókwè, que são produtores de Batata Reno, têm as terras em pousio faz muito tempo. No lugar de deixar ao critério de portadores de DUAT, o Estado pode confiscar essas terras e repassá-las aos cidadãos sul-africanos, que não são poucos que querem terras para trabalharem.
O exemplo de Boane e Namaacha na produção de Banana mostra que, com um pouco de abertura, as coisas podem acontecer localmente. Nos casos em apreço, acredito que a contraparte sul-africana encontrou gente, do lado de cá, esclarecida sobre o que pretende e fez-se a cooperação, mas existem casos de gente com extensas áreas de solos aráveis que pura e simplesmente são ociosas à espera da especulação. Essas pessoas, quando contactadas, aplicam a renda/mês, o que torna as coisas inviáveis.
Moçambique deu o primeiro passo, com a chamada de atenção aos seus concidadãos para não se fazerem à África do Sul, devendo fazê-lo em caso de extrema necessidade, mas deve tomar mais medidas ousadas, até que o Governo da África do Sul compreenda que a sua alta taxa de desemprego não se resolve soltando os desempregados para saquearem visitantes daquele País. Acredito que piores dias nos esperam no país vizinho e medidas estruturantes da nossa economia devem ser tomadas já!
Adelino Buque