Há um sinal inequívoco de que a África Austral não está alheia aos acontecimentos do resto da África, que os eleitores de hoje são, maioritariamente, jovens que não viveram o colonialismo e que nada justifica a penúria económica dos seus países na actualidade. A maioria desses jovens que vivem na penúria terão sido colegas de alguns que vivem na abundância e fartura hoje e eles se questionam, porque para alguns o colonialismo continua marcante e para os outros as coisas são bem diferentes. O punhado de compatriotas que vivem na fartura e exibem sem se coibirem pode ser a gota de água que fará transbordar o copo. Moçambique que se prepare e crie um discurso de reconciliação e de partilha convincente.
Mas a rejeição por parte dos observadores da SADC dos resultados que dão vitória ao candidato da Zanu-PF, Emmerson Mnangagwa, com 52,6% contra 44% do seu opositor mostra, igualmente, que a fraude não é a melhor forma de se conseguir a vitória. O grau de vigilância eleitoral, quer através dos partidos nacionais quer por observadores internacionais e da região, cresceu e todos clamam por resultados justos. Moçambique deve tirar lições das eleições do Zimbabwe, sobretudo, no que diz respeito ao manifesto eleitoral para jovens e mulheres, duas classes determinantes, na minha opinião, para se fazer eleger.
Zimbabwe merece sair da crise em que se encontra!
“África Austral parece caminhar rumo à Democracia, não se deve parar o vento com as mãos, pois não é todos os dias que observadores das eleições da SADC chumbam eleições da própria região, uma vez que a maior parte deles são os libertadores que governam e são eles que determinam quem deve ser observador. No caso do Zimbabwe, mais do que observadores, são os Chefes de Estado que não quiseram testemunhar a investidura de um “Golpista” eleitoral, como considera Siphosami Malunga, advogado e activista dos Direitos Humanos zimbabueano.
A perpetuação do poder de Emmerson Mnangagwa fará com que o Zimbabwe continue na linha de pobreza, com mais de 18 mil milhões de USD de dívida externa e 175% de inflação no mês de Junho. A probabilidade de negociação da dívida parece estar gorada com a declaração de eleições não justas e nem transparentes, pela quase totalidade de observadores das eleições, desde a SADC, a UA, EU e outros observadores. Obrigado presidentes da zona Austral, que boicotaram a investidura com ausência no Estádio Nacional do Zimbabwe”.
AB
“As eleições foram usurpadas pelo partido no poder com interesses próprios e não resolvem a crise de legitimidade nem fornecem um roteiro para salvar a economia devastada. Os resultados anunciados unilateralmente sábado à noite, dando ao Presidente Emmerson Mnangagwa 52,6% dos votos, foram possíveis devido ao seu domínio sobre o poder judicial, agências de segurança e, acima de tudo, uma Comissão Eleitoral repleta de apparatchiks do partido no poder.”
In Siphosami Malunga, no CDD: Siphosami Malunga é um advogado constitucional e de direitos humanos do Zimbabwe que trabalhou em eleições em África e no mundo.
Ontem, 11 de Setembro de 2023, na página do CDD, dirigido pelo Prof. Dr. Adriano Nuvunga, vem inserido um longo artigo sobre as eleições de 23 de Agosto de 2023, no território vizinho e amigo do Zimbabwe. Igualmente, o Jornal electrónico “Carta de Moçambique” faz a publicação sobre a vitória de Emmerson Mnangagwa que servirá de sufoco à população sofrida do Zimbabwe, com mais de 10 milhões de habitantes procurando a vida em territórios fora do Zimbabwe.
Nas publicações acima referidas, considera-se gorado o esforço do Antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Alberto Chissano, que, junto com o BAD – Banco Africano de Desenvolvimento, liderou ou lidera esforços para a negociação da dívida externa do Zimbabwe, estimada em mais de 18 mil milhões de USD. Uma das condições para o efeito eram eleições “livres e justas”, o que certamente não aconteceu. O nível de desorganização, para alguns “organizado”, das eleições do Zimbabwe foi tal que a votação, no lugar de 12 horas estipuladas, levou dois dias.
A presença do Presidente Filipe Jacinto Nyusi deve ser vista em contexto histórico nas relações Moçambique – Zimbabwe. Para os mais novos pode não ser compreensível, mas o Zimbabwe é um país que ascendeu à independência com o apoio de Moçambique, através dos soldados internacionais, da aplicação de sanções à Rodésia de Ian Smith, entre outros sacrifícios, conscientemente consentidos. Na actualidade, o antigo Presidente Joaquim Alberto Chissano está a procurar mediar o retorno da economia daquele país à normalidade e seria inglório virar as costas hoje e na situação em que está o país.
Na verdade, a não participação dos 13 Chefes de Estado na tomada de posse de Emmerson Mnangagwa pode ter sido concertada entre os Chefes de Estado da região, mas não deixa de mostrar que as más práticas no que concerne às eleições deve pertencer ao passado. Zimbabwe continuará a precisar da África Austral para prosseguir e, mais do que o presidente, a população Zimbabueana precisará muito mais, por isso a presença de Moçambique, África do Sul e a República do Congo deve ser vista como um sinal de apoio aos esforços de reforço da amizade e cooperação, até porque estes são os países que mais acolhem refugiados do Zimbabwe.
Zimbabwe não é Moçambique, é verdade!
Neste momento, os políticos moçambicanos, sobretudo no seio do Partido Frelimo, não podem ficar indiferentes aos acontecimentos no Zimbabwe, sobretudo porque, como escrevi acima, a Zanu-PF é um Partido que recebeu e recebe um forte apoio de Moçambique. Tirando a questão da dívida externa e da inflação de Junho, num país que já não possui moeda nacional, a base de agricultura do Zimbabwe é mais robusta que a nossa, a recuperação na produção agrícola depois da crise das terras é uma realidade. Então, que lições se deve tirar daquela votação!? Eis a questão!
A primeira lição é que há ventos de mudança em quase toda a África, que a época dos Partidos de Libertação, que não souberem se adaptar está prestes a terminar e a nova era de libertação económica está em marcha. Na verdade, o grande mal dos territórios africanos é de não possuir ideias novas sobre como se sair do marasmo económico em que nos encontramos. A questão é a capacidade de rotura entre a antiga estrutura económica criada pelo sistema colonial que prevalece e a criação de uma nova estrutura económica que beneficie os africanos.
As antigas colónias da França em África estão a liderar pelo exemplo. São jovens de 30 a 40 anos que rompem com os acordos de 1960, que permitiam a França beneficiar-se dos recursos dos seus países sem contrapartidas. São estes jovens dirigentes emergentes e não comprometidos com o antigo colono que pretendem libertar a África da dependência económica. Moçambique, por exemplo, com a exploração de Gás natural em Cabo-Delgado e Inhambane, as populações locais não sentem nenhuma mudança nas suas vidas. Em Cabo-Delgado, as contas falam de uma percentagem ínfima de exploração para Moçambique e estamos satisfeitos!
Finalmente, o eleitor de ontem e de hoje são total e completamente diferentes. Os jovens eleitores de hoje não conheceram o colonialismo, por isso falar de pobreza originada pelo colonialismo, para eles, soa à piada, pese embora algumas situações sejam justificadas. Mas para a juventude não faz sentido, exactamente, porque consegue ver um punhado de cidadãos nacionais, alguns com quem certos jovens estudaram, com uma vida melhor e sucedida. No entanto, não eram melhores na escola, porque será! Creio que não preciso de dar resposta, todos têm ideia das razões.
Adelino Buque