“Não há dúvidas de que a agricultura, indústria transformadora e o turismo são os sectores que deveriam merecer a melhor atenção para o relançamento da nossa economia, contudo, para que esses sectores tenham sucesso, é importante que se relance o princípio de “produza e consuma Moçambique” e dar primazia a instituições que assim se comportam nos concursos públicos de fornecimento de bens e serviços, através da atribuição do distintivo “Made in Mozambique”, um selo que premeia as empresas que se distinguem no consumo de produtos nacionais. São o exemplo a seguir no trabalho digno e são pagadores das suas obrigações fiscais e outros”.
AB
“Num País, com o nível de dificuldades que nós temos, do financiamento à economia, era possível haver uma estratégia relacionada ao Banco Central e … numa definição, dois ou três sectores prioritários, para o relançamento da economia e pedir aos Bancos que canalizem até um determinado montante aquilo que eles depositam nas reservas obrigatórias. Canalizassem a esses dois ou três sectores a taxas bonificadas porque ganharíamos todos, ganharia a economia a ser financiada, ganhavam os Bancos que não estavam a taxa zero no Banco Central e ganha a economia como um todo”.
In João Figueiredo, no Economic Briefing CTA
Tem sido objecto de debate o financiamento da nossa economia e, pelos dados que amiúde vêm sendo divulgados, os recursos financeiros são canalizados para os sectores menos produtivos e com baixo contributo para o PIB nacional, como é o caso do comércio. No entanto, a agricultura contribui com 25% do PIB, mas recebe qualquer coisa como 3 a 4% do financiamento, ou seja, o financiamento à agricultura, que é o suporte da economia, é feito com base em recursos familiares, o que parece uma distorção e que deve ser corrigido com urgência. Entretanto, a questão é: quais são os sectores que podem servir de alavanca para a nossa economia? Na minha opinião, são três, a saber:
- Agricultura;
- Indústria transformadora e;
- Turismo.
Se considerarmos que mais de 80% da nossa população trabalha na agricultura, e que a agricultura, que contribui para o PIB com 25%, é do tipo familiar, isto significa que o potencial de crescimento deste sector é enorme e resolve-nos o essencial de um País, que é o combate à fome e, ao mesmo tempo, pode equilibrar a balança de pagamento, evitando a importação de produtos, cuja produção é possível e sem recurso a grandes tecnologias.
A produção Agrícola, à escala comercial, também pode permitir a retenção de jovens nas zonas rurais, limitando, dessa forma, a migração campo/cidade e com as consequências que isso tem trazido para a superlotação das cidades e vilas pelo País. Não só a taxa de desemprego iria baixar, como também a criminalidade, resultante de ociosidade, baixaria e teríamos as cidades e vilas lugares livres de crimes e com boas condições para se viver.
Relativamente à indústria transformadora, a ideia seria financiar a transformação dos principais produtos agrícolas e evitar a exportação em bruto da maior parte da nossa produção. Essa indústria poderia, igualmente, conservar produtos cuja produção é sazonal como, por exemplo, tomate, citrinos, algumas hortícolas, carnes, peixe entre outros. Esta indústria, devidamente acarinhada, poderia também empregar muita gente e contribuiria, sobremaneira, para o desenvolvimento da nossa economia, como diz o Dr. João Figueiredo, ficaríamos todos a ganhar, por isso, na minha opinião, seria o segundo sector elegível para o relançamento da nossa economia, mas, não há dúvidas que o processamento dos produtos agrícolas acrescenta valor.
Por outro lado, para que os dois sectores tenham sucesso, é imperioso a revisitação do princípio “produza e consuma Moçambique”. Na verdade, não basta que o produtor produza e a indústria transforme os produtos agrícolas, se não tivermos consumidores preferenciais, a economia continuará estagnada e/ou pior do que está hoje. Um dos melhores consumidores destes produtos é o Estado Moçambicano, através da saúde, sector militar, as cadeias e outros sectores afins, mas, se estes sectores de grande consumo continuarem a preferir compras de produtos importados, esqueçamos a ideia do relançamento da economia. Se estamos recordados, o slogan “produza e consuma Moçambique” tirou da falência muitas empresas nacionais, foi quando se introduziu o selo de “Made in Mozambique” que parece ter caído em desuso.
O terceiro sector de economia a relançar, na minha opinião, seria o Turismo. Não há dúvidas de que o Turismo é o sector transversal, pode e alavanca muitos sectores da nossa economia, ou das economias que levam a sério esta indústria. O Turismo consome quase tudo, desde os bens alimentares de agricultura, os bens do artesanato, oferece emprego a milhares de pessoas, que transportam pessoas e bens, cuida, através dos serviços de saúde, exige formação dos tendentes do sector, enfim, o Turismo pode relançar a economia em muitos sectores da nossa vida.
Dito isto, quis contribuir e reforçar a ideia do Dr. João Figueiredo e suportada por muito mais colegas do sector privado sobre a necessidade de olhar para Moçambique e sua economia, não somente na perspectiva de “enxugar” os recursos financeiros disponíveis para evitar a inflação, mas e sobretudo, fazer com que os recursos financeiros disponíveis e meio estéreis na Banca Central sejam usados para alavancar a nossa economia.
PS: Dedico esta reflexão ao meu amigo e jovem empresário Eder Pale. Abraço.
Adelino Buque