Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quinta-feira, 04 julho 2024 10:34

Família: é preciso construir a família em bases sólidas!

Escrito por

Adelino Buqueeeee min

“A Independência Nacional trouxe-nos um grande ganho como Nação. Na primeira República, a República Popular de Moçambique, o combate ao racismo, ao tribalismo, ao regionalismo e outras formas de discriminação permitiu, no tempo, um relacionamento intra-tribos. Devo dizer que, no passado colonial, por razões culturais, uma mulher chope não se juntava a um homem maxangana. E o motivo, a circuncisão, para os chopes, é cultura secular, para muitas tribos moçambicanas, é fruto da Revolução. Com o fim da discriminação, abriu-se caminho para a união de pessoas em casamento de tribos diferentes e hoje os nossos jovens ignoram as nossas culturas, na constituição das suas famílias.

 

As tias, os tios, avos e outros familiares são ignorados na hora do casamento. Prefere-se convidar e pagar as chamadas conselheiras do Lar. Hoje, na despedida da noiva, não se faz aconselhamento, é uma mera formalidade, em que muitas vezes se dá continuidade dos “comes e bebes”. Devemos resgatar um pouco da nossa cultura, se os noivos são de culturas diferentes, melhor, há que fazer a indução em ambas. Hoje, decidi reflectir sobre a família e, modéstia à parte, tenho idade e sou capaz.”

 

AB

 

“1. A família é o elemento fundamental e a base de toda a sociedade, factor de socialização da pessoa humana.

  1. A família, enquanto instituição jurídica, constitui o espaço privilegiado no qual se cria, desenvolve e consolida a personalidade dos seus membros e onde devem ser cultivados o diálogo e a entreajuda.
  2. A todos é reconhecido o direito a integrar uma família e de constituir família.”

 

In: Lei n.º 22/2019 de 11 de Dezembro

 

Hoje, decidi reflectir sobre a Família que, segundo a Constituição Moçambicana, nos números 1 e 2 diz o seguinte:

 

“1 – A família é o elemento fundamental e a base de toda a sociedade;

 

2 – O Estado reconhece e protege, nos termos da Lei, o casamento como instituição que garante a prossecução dos objectivos da família”, fim da citação;

 

Ora bem, se o casamento é reconhecido e protegido pelo Estado, como a instituição que garante a prossecução dos objectivos da família, logo, é importante que a constituição de uma família seja precedida de todas as fases que possam garantir uma família respeitável, estável, dialogante e, acima de tudo, que respeita e é respeitada no meio onde se acha inserida porque, de contrário, teremos uma família problemática.

 

Hoje em dia, muitos deveres da família, entanto que a base da sociedade, já não são postos em prática. Por exemplo, pululam as chamadas conselheiras de Lar, muitas vezes, pessoas que não possuem experiência de uma convivência de lar. Onde se pode encontrar família no sentido lato, aquilo que se designa de “kulaia” ou “aconselhamento” dos noivos e noivas, que precede o casamento, na originalidade. Esta é a tarefa das tios e avos, entretanto, hoje, é exercida por alguém que se designa de conselheira do Lar.

 

A importância deste acto, na família, é a indução dos noivos a uma vida a dois e a importância dessa acção ser exercida pela família tem que ver com o facto de ela dominar a vida das suas famílias. Eles não fazem conselhos de forma abstracta, mas de forma objectiva e directa. As generalidades são boas, elas se buscam na cultura geral, qualquer um pode ter e saber, mas educar o meu filho ou a minha filha é uma tarefa que nunca será feita, em rigor, com sucesso por uma pessoa estranha, que não é da minha cultura e não conhece as minhas origens!

 

É verdade que somos todos moçambicanos e, à luz das leis, somos iguais e temos mesmos direitos, mas não devemos ignorar as nossas origens que, naturalmente, nos remetem a culturas diferenciadas. Posso dar um exemplo simples, eu sou Machope, minha Mulher é Maronga, naturalmente, temos culturas diferentes, apesar de sermos da região sul de Moçambique. Existem coisas que a minha cultura/tradição não admite e vice-versa. Agora, imagine o seu filho receber conselhos de um compatriota de Nampula, o que é que pode sair desse aconselhamento?

 

Isto para dizer que, na constituição da família, uma das primeiras bases deve ser garantir que os noivos se conheçam bem e, sobretudo, entrem nas famílias de forma aberta e educada, com base na cultura das duas famílias, porque a juventude não se deve enganar com a modernidade. Muitos pensam que constituir família é simplesmente os dois unirem-se e as famílias nada têm a ver com eles. No caso moçambicano, o casamento é, por excelência, a união dos noivos e respectivas famílias e, diga-se, famílias alargadas.

 

Hoje, porque tanto o namorado como a namorada trabalham, pensam que se podem juntar e alugar ou construir uma casa e viverem juntos, já está constituída a família. Puro engano, muito cedo ou tarde, esses jovens que se uniram, baseados na sua capacidade económica, irão precisar dos seus progenitores, não propriamente para pedir dinheiro para pagar a renda, mas para outras coisas mais importantes da vida, como pedir o conselho sobre algo que, como dizia, um estranho não poderá o fazer. Por isso, respeitar as precedências para a união dos noivos afigura-se como algo importantíssimo. No livro que escrevi, com o título “Madalane, o Menino-prodígio”, vêm os detalhes de precedência para a constituição de uma família.

 

Outro aspecto importante, que é descurado nos dias de hoje, são questões não materiais. Muitos pensam que, com dinheiro, conseguem resolver tudo, mas não jovens, dinheiro não é tudo, pode ajudar a resolver algumas questões de índole material e nada mais, o resto precisa da sociedade e, se possível, com a mesma cultura. Com isto, não estou a dizer que as pessoas devem basear as suas relações nas culturas, o que sucede na nossa sociedade é copiar a forma como as sociedades, sobretudo ocidentais, levam a vida e constituem as suas famílias.

 

Temos casos, também, em que na constituição da família, dá-se primazia à religião. Nada contra, contudo, os mais novos devem saber que a religião tem um carácter opcional, a cultura não. As pessoas, hoje em dia, saltitam de religião em religião, mas nunca irás mudar, por vontade própria, a sua cultura. Isto faz-me lembrar a música que diz: “Fulano saiu da Mafalala, mas a Mafalala não saiu dele”. É um exemplo, não me recordo do músico, esta citação pretende tão-somente recordar que se tu viveste na Mafalala durante a tua infância até ficar adulto, a sua vida está moldada pelas vivências daquele bairro histórico. Você pode estar a viver na Julius Nyerere, em algum momento, irá se comportar como bom filho da Mafalala.

 

Esta reflexão pretende ajudar os mais novos a reflectirem sobre a constituição da família. É importante que a família seja constituída em bases sólidas e respeitar as precedências na sua constituição. Se você “queimar” etapas, irá se arrepender a frente e, muitas vezes, numa situação em que mudar é difícil. Irá viver uma vida conturbada porque constituiu a sua família em bases frágeis, aliás, é bíblico, a construção de casa em areia é diferente da construção de casa na base de rocha. Pense nisso!

 

Adelino Buque

Sir Motors

Ler 1844 vezes