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segunda-feira, 19 agosto 2024 14:07

Tudo que é campanha tem muita guita…

Escrito por

SergioRaimundoNOVA121021.jpg

Confesso que fiquei de rosto rente à barriga quando vi a guita que os diversos partidos tiveram para a campanha eleitoral. Há muita guita neste país. Diga-se uma coisa: nós somos um país pobre, mas cheio de dinheiro. Um país sem grandes saídas, mas que sempre se vira quando o assunto é arranjar dinheiro para distribuir...

 

Nós somos um país pobre, mas cheio de dinheiro; a frase pode ser complicada, pode ser poética demais; se calhar podia dizer com todos os grumos de saliva: nós somos aquele bêbado que não deixa nada em sua casa, mas, aos fins-de-semana, varre contas e contas em todos os bares. Nós somos a riqueza mais pobre da nossa estupidez.

 

Só temos dinheiro para a campanha eleitoral. Não temos dinheiro para o professor que faz horas extras e ao fim do mês recebe notas de reclamações, não temos dinheiro para injectar e curar a magreza das contas bancárias dos médicos, não temos dinheiro para meter na algibeira do juiz que martela, todos os dias, a nossa justiça torta e com poucos pregos, não temos dinheiro para o polícia que arrasta a AKM carregada de ferrugem, na baixa da cidade, e assiste aos raptos de boca aberta.

 

Afinal, anda, nos corredores da campanha eleitoral, tanto dinheiro assim! Afinal, há tantos partidos assim? Eu conheço um tipo que sempre concorre às eleições, de cinco em cinco anos, abre um estaleiro novo no Chamanculo e tem um quintal cheio de carros. Esse fulano é presidente do partido, é também secretário-geral, é também tesoureiro, é também chefe de limpeza da sua sede (sua sede é uma mochila de costas cheia de papéis), é também presidente da liga juvenil composta só por ele próprio, é também membro único da liga da mulher, é também assessor jurídico e ocupa todas as pastas da assembleia geral composta só por ele próprio.

 

Esse tipo, este ano, teve uma boa guita, uma boa mola. Quando começar a campanha vai fazer o que já nos habituou ali no bairro: comprar pacotes de massa, canetas de feijão, umas caixas de cerveja e pôr os miúdos desempregados do bairro a marcharem com a única bandeira que ele usa há séculos desde que descobriu esse negócio de viver de campanhas. E depois vai pingar uns cartazes em algumas avenidas, estampar umas duas camisetas para ele e a esposa e aparecer na TV sem um mínimo de vergonha para dizer “as nossas delegações estão a trabalhar, vamos ganhar”. Eu acho que ele ainda está estonteado, pois nunca recebeu tanto dinheiro assim.

 

Infelizmente, em Moçambique, tudo que tem o nome campanha envolve muito dinheiro, muita guita mesmo. Quem nunca viu o mar de dinheiro que anda nas campanhas de vacinação que só terminam vacinando os salários gordos dos coordenadores provinciais sentados nos escritórios? A campanha nacional de combate ao HIV/SIDA, muitas vezes, combate a fome dos chefes, a campanha de combate à malária muitas vezes só serve para construir mansões de chefes no lugar de comprar redes mosquiteiras. 

 

A campanha contra a corrupção só enche escritórios de relatórios e no fim de tudo a corrupção é que vence, pois, fica bem ao canto a rir-se por ter criado mais corruptos quando tentavam combatê-la. Tem sido sempre assim. E agora temos a campanha eleitoral, meu Deus. Tudo que é campanha tem muita guita, em Moçambique. Já agora, quem não se recorda da campanha nacional de vacinação contra a COVID-19 que só fez os chefes sorrir de felicidade e riqueza por detrás das máscaras? Tudo que é campanha tem muita guita…

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