Vão a enterrar no próximo dia 8 de Março os restos mortais da ῎Geração 8 de Março῎. Não me admiraria que este início fosse ou tivesse sido o do anúncio fúnebre da ῎Geração 8 de Março῎ na página necrológica de um jornal da Pérola do Índico. Já esclareço.
No mesmo jornal, no Obituário Ocasional, lê-se: ῎Geração 8 de Março῎ (1977- 2024). Morreu no passado dia 09 de Outubro de 2024 a geração que deixou o Poder passar. A sua morte coincidiu com a data da realização das eleições gerais e a respectiva autópsia anunciada no dia 23 de Dezembro de 2024, data da validação e proclamação dos resultados eleitorais de 9 de Outubro. O velório decorreu no dia 15 de Janeiro de 2025, data da tomada de posse do novo presidente da República, e o enterro está marcado para o dia 08 de Março de 2025, a data do seu 48° aniversário natalício. Até ao sepultamento, o corpo estará em câmara-ardente.
Nascida no Pavilhão do Maxaquene, Cidade de Maputo, no dia 08 de Março de 1977, data em que o Presidente Samora Machel reunira com alunos que deveriam prosseguir com seus estudos, na 10ª e 11ª classe, e comunicara-lhes a decisão de que deveriam sacrificar os sonhos individuais em prol dos desafios que o país enfrentava na altura. Da data, do discurso presidencial e do percurso dos jovens de então, a denominação ῎Geração 8 de Março῎.
Desde então, e com uma profunda inserção em todos os sectores-chave de actividades a nível de todo o país, incluindo no partido dominante, os “oitomarcistas” constituíram a espinha dorsal da governação do país. Depois da governação (2005-2015) do presidente Armando Guebuza era suposto que o Poder passasse da ῎Geração de 25 de Setembro῎ (a que trouxe a independência) para as mãos da ῎Geração 8 de Março῎, a que materializou a independência.
Assim não foi. Quais foram as razões? Terá sido por distração? Ou por incapacidade dos seus membros? Não sei, mas por algum motivo esta geração não chegou ao Poder (conquista, exercício e controle) e a pergunta continua no ar.
E a propósito de Poder, no citado Obituário Ocasional, a dado momento lê-se: Os da ῎Geração 8 de Março῎, marcadamente nascidos na década 60 do séc. XX, historicamente pertencem a uma década que não forneceu nenhum dirigente máximo do partido Frelimo. Eduardo Mondlane era da década 20; Samora Machel e Joaquim Chissano da década 30; Armando Guebuza da década 40; Filipe Nyusi da década 50; e tudo leva a crer que Daniel Chapo, da década 70, o ora presidente da República e actual Secretário-geral do partido Frelimo, será o seu próximo presidente.
Para a posterioridade, em matéria de Poder, fica registado que a ῎Geração 8 de Março῎ de facto deixou o Poder passar. Não conquistou-o, por direito natural, em 2014 e não fez nada, enquanto bloco, para resgatar o seu direito natural em 2024. Se o tivesse conquistado, porventura o curso do processo político nacional teria sido um outro.
Por ora, e para terminar, resta-nos aguardar os discursos do próximo dia 8 de Março por ocasião da celebração do 48° natalício da῎Geração 8 de Março῎. É bem provável que se anuncie a dissolução da associação ῎Geração 8 de Março῎. Os “oitomarcistas” seguramente que não precisam de uma associação registada para organizar comes e bebes para falas saudosistas do tipo ῎Nos nossos tempos῎.