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segunda-feira, 17 fevereiro 2025 16:45

Precisamos de um novo Cubaliwa

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Ah, Azagaia, o poeta  que ousou não se conformar! Digo, quem diria que um sujeito com a audácia de questionar o status quo, um artista que escolheu empunhar a caneta como espada, faria algo além de ser engolido pela máquina de moer a resistência? Aí está o grande truque: enquanto os pacifistas da opressão nos pregam uma paz estéril e suicida, Azagaia prefere ser a pedra no sapato do sistema! De Moçambique, ele exportou para os PALOP o hino: O povo no Poder!Ah, Azagaia, o poeta  que ousou não se conformar! Digo, quem diria que um sujeito com a audácia de questionar o status quo, um artista que escolheu empunhar a caneta como espada, faria algo além de ser engolido pela máquina de moer a resistência? Aí está o grande truque: enquanto os pacifistas da opressão nos pregam uma paz estéril e suicida, Azagaia prefere ser a pedra no sapato do sistema! De Moçambique, ele exportou para os PALOP o hino: O povo no Poder!

Vejam só! Ele, que não aceitou a destruição lenta da alma em nome da sobrevivência, foi apontado como um inimigo. Como sempre, a classe dominante, que preza pela pacificação de todos, se encarrega de transformar qualquer brisa de liberdade em tempestade de repressão. De repente, doutrinando crianças, transformando um herói em mero drogado. 

“Toda destruição é autodestruição!”, diria Azagaia, para nossa surpresa. E qual não é a destruição maior do que aceitar a mentira de que o conformismo é paz? A classe opressora sabe muito bem disso: destruir os que lutam pela liberdade é a única maneira de manter a ilusão de que estamos “renascendo” quando, na verdade, estamos todos morrendo aos poucos.

A vida, para os verdadeiros revolucionários, não é uma troca de opressores, mas uma troca de consciências. E Azagaia sabia disso. Ao contrário dos que se contentam com os pedaços de pão oferecidos pelo sistema, ele nos acordou: viver é resistir, não é engolir os venenos do sistema e esperar que nos matemos lentamente, como um suicídio social auto-imposto. O renascimento que ele pregava não é aquele que nos dizem, o da "boa convivência" com a opressão, mas o renascimento de uma nova consciência que rejeita esse suicídio diário.

Renascer, portanto, é lutar, não se render à destruição silenciosa. A luta de Azagaia não era apenas contra as injustiças gritantes, mas contra o silêncio cúmplice dos que preferem morrer sem que o mundo perceba. Toda vez que Azagaia fazia sua voz soar mais forte, ele não estava apenas falando por si mesmo, mas por todos aqueles que se negam a ser engolidos por uma sociedade que lhes diz que viver é aceitar.

Em resumo, Azagaia não foi um mero poeta. Ele foi um panfletista da revolução da alma. E como todos os grandes revolucionários, tentaram o engolir. E talvez, na maior ironia de todas, essa incompreensão seja a prova de que ele estava no caminho certo. Porque os que falam a verdade, mesmo que poucos ouçam, jamais morrem — eles renascem a cada alma que se recusa a se curvar ao suicídio coletivo.

Não quero que retirem o nome de Azagaia do livro que o difama. Quero que ele seja literatura obrigatória nas escolas, uma fonte inesgotável de reflexão sobre quando a liberdade e o senso crítico são levados até as últimas consequências. Azagaia deve ser celebrado, não por ser perfeito, mas por ser verdadeiro. Por nunca ceder às amarras do conformismo e por nos lembrar que a luta pela liberdade é, acima de tudo, uma luta pela alma do povo.

Grito desde São Tomé, das ilhas, sem entender bem a palavra que ressoa desde o meu atavismo pálido enquanto estudante no ensino secundário na altura:

Cubaliwa!

Cubaliwa!

Essa é a herança Moz que ecoa em toda a minha alma panafricanista.

 

*Ivanick Lopandza é um jovem intelectual, poeta e activista social santomense, com ADN paternal congolês, membro fundador do colectivo Ilha dos Poetas Vivos em São Tomé no ano de 2022, com seus companheiros santomenses Marty Pereira, Remy Diogo e moçambicano MiltoNeladas (Milton Machel). Autor de livros de poesia, Ivanick é também bloguista, curando seu blogue Lopandzart.

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