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sexta-feira, 16 agosto 2019 11:17

*AEG: um outro e imaginário percurso no caminho da presidência*

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Tenho a viva recordação de um empresário da praça a defender que a escolha de Armando Emílio Guebuza (AEG) para ser o Presidente da República foi acertada e mais ainda: AEG era da área ou tinha interesses empresariais que lhe conferia credenciais para catapultar a actividade económica do país, apostando nas reformas necessárias que AEG muito bem conhecia e que a CTA (Associação das Confederações Económicas de Moçambique) na altura reivindicava. Era "o homem certo para o lugar certo e no tempo certo" conforme dito pelo referido empresário. 
 
Corria o ano de 2003 e de tantos ouvi a mesma e efusiva opinião e acredito que muitos outros concordavam com o empresário que o país tomaria outros e melhores rumos. Que eu saiba a única voz que alinhou contra e deu a conhecer publicamente (anos antes) foi o Jornalista Carlos Cardoso. À favor ou não, a verdade é que AEG ficou dois mandatos na presidência e o balanço cabe a cada um fazer. 
 
Na altura que o empresário da praça falou da sua aposta em AEG dei por mim a pensar sobre o que eu conhecia de AEG. Lembro que me veio à cabeça várias coisas sobre ele fora a vertente empresarial e os cargos ministeriais. Recordara o facto de AEG ser considerado um político nato (talvez por conta de ter sido o comissário político-mor), o "Enfant terrible" de Samora Machel (que o nomeou Ministro Sem Pasta), o "24/20" (suposta medida tomada por ele contra os portugueses e estes tinham 24 horas e direito a 20 quilos de bagagem para abandonarem o país), um grande negociador (incluindo a negociação da Paz) e um "investigador", atendendo que chefiou a comissão de inquérito para apurar as causas do acidente de Mbuzini que vitimou Samora Machel e outros membros da sua comitiva. 
 
Neste texto vou debruçar sobre um percurso imaginário de AEG no caminho da presidência e quiçá ao encontro das expectativas do empresário da praça que apostou em AEG para a Ponta Vermelha, o palácio presidencial. A imaginação parte do princípio que AEG tem faro empresarial e que quis sempre ser Presidente (ninguém foi ter com ele a sugerir essa possibilidade). Acredito que para tal e no momento em que saiu do Parlamento (2000) iniciou a sua preparação efectiva e quando assumiu o cargo de Secretário-geral da Frelimo (2002) a preparação definitiva. (Temos que actualizar a linguagem que o vocabulário do processo de paz proporciona). 
 
Na minha imaginação ele iniciou tarde e pela via errada. No sonho que tive foi mais ou menos assim: AEG inicia a sua preparação efectiva para a Ponta Vermelha no dia 04 de Outubro de 1992 quando o Governo e a RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, uma obra que teve a sua assinatura como chefe da equipe de negociação governamental. No intervalo entre o AGP e as primeiras eleições (1994) AEG escreveu e lançou dois livros: um sobre a arte de negociar a paz e como o fez até ao dia da assinatura em Roma. E o outro sobre a sua visão do que o país devia fazer para ser pujante e relevante no concerto das nações, em particular a nível regional. Ter sido Ministro dos Transportes e Comunicações constituía uma mais-valia.
 
Em Janeiro de 1995, na data (20) do seu aniversário, AEG convocou uma conferência de imprensa para anunciar que abandonava a política e que passava a dedicar 100% do seu tempo ao mundo empresarial. Na conferência anuncia também que se candidataria para presidir a CTA. No mesmo ano assume os destinos da CTA (início da preparação definitiva a caminho da presidência), deixando o cargo quando assume o de Presidente da República de Moçambique em Fevereiro de 2005. O mesmo ano e real em que assumiu o cargo. 
 
Nos dez anos em que esteve ao leme da CTA, AEG granjeou simpatia e respeito da classe empresarial nacional e internacional e dos moçambicanos, em geral, por conta dos resultados do seu trabalho quer a nível da CTA quer das suas empresas que se distribuíam por todo o território nacional, empregando milhares de moçambicanos. Em pouco tempo e para um país que acabava de sair de uma guerra o nível da actividade económica era mais do que satisfatório. Nem o Banco Mundial (BM) conseguiu na altura desregulamentar o sector do caju por conta da defesa enérgica de AEG, salvando milhares de empregos e das vilas/cidades que dependiam totalmente (ou quase) da indústria do caju. 
 
Por ter livrado a indústria nacional do caju das garras neoliberais do BM e o precedente criado tornaram AEG numa referência e premiado a nível internacional em reconhecimento da sua luta e defesa pelos interesses económicos dos países considerados pobres e em desenvolvimento. Na altura e a nível nacional os níveis de popularidade de AEG superavam aos de Samora Machel e aos da voz de João de Sousa (jornalista e relator desportivo, sobretudo futebol, da Rádio Moçambique). Foi mais ou menos neste quadro que AEG, em Janeiro de 2004, volta à vida política para concorrer ao cargo de Presidente da República pelo seu partido. Em Dezembro de 2004 AEG ganha as eleições e foi felicitado e desejado boa sorte pelo Presidente da RENAMO que até reconheceu que as eleições foram credíveis, justas e transparentes. 
 
A bagagem dos dez anos fora da vida activa partidária, parlamentar e governamental trouxeram reformas e inovadoras abordagens para esses espaços. O símbolo das mudanças foi a composição do novo Conselho de Ministros (CM): estava no CM a nata do que o país tinha do melhor e o critério partidário e das quotas não foi tido e nem achado. Ficou célebre uma frase dele numa sessão do Comité Central quando foram questionadas as suas escolhas para o governo: " Não se fazem omeletes sem ovos e os melhores ovos são sempre os do vizinho". 
 
Para AEG os objectivos do manifesto do seu partido ultrapassavam a dimensão partidária e persegui-los só com os melhores do país, incluindo os melhores do seu partido. Nos dois mandatos de AEG o país passou para o nível de desenvolvimento médio. Por isto e justamente Moçambique foi considerado a Pérola do Índico.  
 
Tempos depois de passar o testemunho ao novo presidente, AEG anunciou - numa conferência de imprensa convocada a propósito - a sua saída irrevogável da vida política. Nessa ocasião lançou um outro livro com o título "Pensei, fiz e não sei se consegui" que era praticamente uma resposta ao seu livro anterior sobre a sua visão do que o país devia fazer depois do alcance da paz em 1992 e da realização das primeiras eleições em 1994. 
 
AEG ainda aproveitou a conferência de imprensa para anunciar a criação de uma fundação com o seu nome cujo core-business era a descoberta e apoio de jovens "Enfant terrible", pois ele acreditava que são estes que mudam e dão rumo digno ao país. E assim foi o fim de um outro e imaginário percurso de AEG no caminho da presidência.
 
PS: para quem estiver a questionar o que foi feito do empresário da praça que falei no início do texto segue a resposta: ele foi quem substituiu AEG nos destinos da CTA e também na Presidência da República, concorrendo como independente e com o apoio declarado do seu antecessor. Eram novos e democráticos tempos por obra do percurso imaginário de AEG. E como sabemos não foi o percurso seguido por AEG para chegar ao cargo mais alto do país. Por ventura o resultado da sua presidência, incluindo o seu sucessor e a proliferação de lobistas no lugar de empresários responde aos meandros do percurso real por ele seguido.

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