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sexta-feira, 20 março 2020 07:54

SARS-CoV-2 (COVID-19) e as Instituições de Ensino Superior 'Moçambicanas': entre 'assobios isolados' e acções coordenadas

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Covid-19 começou como uma epidemia na China e passou a pandemia na sua dimensão mundial, tornando, até então, Moçambique numa ilha geográfica positiva, visto que, até à data, não temos nem um caso do vírus e muito menos um paciente zero.

 

Que assim continue, mas atenção! Enquanto existirem pessoas a circular, a entrar e a sair, a probabilidade de ocorrência do vírus aumenta, infelizmente. Nestes casos, o tempo é ouro, é urgente antecipar os eventos e os acontecimentos, vamos agir para não reagir. Para o nosso contexto moçambicano o mais sustentável seria mesmo robustez nas medidas de prevenção no lugar da mitigação (a partir do momento em que surgiu a epidemia).

 

A pandemia Covid-19 e as Instituições de Ensino Superior (IES)

 

Permitam-me frisar, primeiro, que esta pandemia precisa de uma resposta holística, prática, e sobretudo flexível, sem salamaleques. Pois é tempo de agir de forma coordenada e dinâmica. A burocracia podemos guardá-la na gaveta, ela não se sentirá ofendida. O tempo requer de forma imperativa sabedoria e liderança.

 

  • Não é tempo para assoviar ou assobiar;
  • Não é tempo para ficar no muro;
  • Não é tempo para chutar a bola para o canto;
  • Não é tempo para exibir indiferença;
  • Não é tempo para exibir soberba;
  • Não é tempo para exibir falta de empatia;
  • Não é tempo de ignorância;
  • Mas é tempo de sabedoria, ou melhor, é tempo de agir (agir para não reagir).

O país tem um número redondo de 50 IES, é óbvio que elas têm um papel relevante na resposta moçambicana a pandemia do Covid-19, assim como já tiveram noutras pandemias, como foi no caso de VIH-SIDA.  Acredito que as faculdades de medicinas existentes no país, assim como outras faculdades que podem dar um apoio maior nas questões comportamentais, já estão em movimento, ou melhor, 'já fazem parte' de forma holística do grupo técnico multissectorial nesta resposta. Mesmo perante os factos que as Nações Unidas em Moçambique têm estado a partilhar na sua página do Twitter, onde "80% dos funcionários da OMS estão a dedicar-se em apoiar o Ministério de Saúde em finalizar o Plano de Preparação e Resposta para o COVID19", acredito soberanamente não estamos no reboque, e que nesta resposta as IES não estão inertes. 

 

Atitude Inter Universidades

 

Um dos valores que as universidades mais defendem é a sua 'autonomia'. Em contexto de pandemia a maneira e a forma como as universidades comunicam dentro e fora servirá para reforçar esta 'autonomia'.

 

As universidades moçambicanas são tuteladas pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional, e ainda, o Conselho de Reitores. Acredito que uma forma que pode flexibilizar a resposta entre universidades à pandemia sem beliscar a 'autonomia' das mesmas, é ter uma comunicação muito flexível e dinâmica entre estes atores. É importante que exista uma resposta flexível, mas coordenada, se agirem juntos, sentir-se-ão mais fortes e capazes.

 

Através das redes sociais é possível verificar que de forma isolada e tímida, as universidades têm estado a emitir sinais de resposta à pandemia (Despachos e 'comunicações), mas fazem-no de forma opaca e dentro do ovo, ou seja, de forma isolada, como se o importante fosse uma comunicação interna, o que as transforma em pequenas ilhas criando resposta para o mesmo problema.

 

Para as universidades, acredito que este é um momento de comunicação flexível e desburocratizada, sem deixar de lado o papel e o posicionamento do ministério de tutela e do Conselho de Reitores (o silêncio é um dos maiores inimigos desta pandemia). Ou seja, não devem assoviar de forma isolada, mas sim de forma conjunta e coordenada.

 

Atitude Intra Universidades

 

A pandemia é 'antissocial', ou seja, uma das melhores formas de preveni-la é através de social distancing. Na eventual hipótese de encerramento das IES, como irão agir com vista a não prejudicar o semestre que mal teve o seu início?

 

  • Qual é o estado de arte dos moodles das universidades?
  • Será que as tecnologias estão prontas para ajudar nesta fase?

Pois a mensagem chave perante esta hipótese seria a seguinte: não estão de férias, as aulas continuam, mas na modalidade à distância.

 

Mas pronto, até então tratasse de uma hipótese. O pássaro que temos nas mãos são algumas aulas inaugurais a serem canceladas, e muito bem, e comunicações internas nas universidades, visto que o país elevou o estado de alerta face ao Covid-19.  Mesmo perante o cenário de comunicações internas, não deixa de ser importante a maneira como comunicamos, a maneira como as comunicações têm impacto na percepção no processo de recepção da mensagem.

 

Não existe mal algum nesta fase de comunicação interna, as universidades manterem as pontes de comunicações com outras universidades e, se necessário, com outras realidades. Não precisamos de ser uma ilha em momento de pandemia, se não iremos transformar a pandemia em um pandemónio.

 

Atitude para os Estudantes na Diáspora

 

O país no geral, tem estudantes a estudarem e a viverem na diáspora. As universidades moçambicanas e de outros países têm desde o início da epidemia, de forma factual, estudantes em países de pico do Covid-19. No caso da China foi possível verificar cenários de estudantes a partilharem, infelizmente, as situações que estavam a viver no eclodir desta epidemia.

 

Acredito que as respostas que os vários países têm face à pandemia hoje, tem sempre a China na fração, onde ela ocupa o lugar de numerador. O que os estudantes na diáspora passaram no início da epidemia não precisa de categoricamente repetir-se agora na fase de pandemia, até porque todas estas situações tem um lado pedagógico, ou melhor, podemos sempre aprender delas. Mas como se diz na andragogia, "o adulto só aprende se o quiser". Mas precisamos de desaprender esta forma de trabalhar com 'chamboco'.

 

Para o bem-estar dos estudantes na diáspora, é importante que as suas instituições de origem, as suas universidades não tenham uma mentalidade orçamental, ou seja, perante este cenário de pandemia não orçamentem as atitudes, até porque as atitudes mais básicas não precisam de orçamento, mas sim de respeito, consideração e solidariedade. Aliás, existe muita diferença entre valores e orçamento.

 

É muito importante que as universidades divulguem comunicações internas ligadas ao quotidiano das mesmas no contexto das suas respostas à pandemia em Moçambique. Mas não deixa de ser curioso e surreal a ausência de comunicações para os estudantes na diáspora. E mais, o Ministério de Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional; o Conselho de Reitores; o Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano (Circular N° 02), ou melhor, todas as instituições moçambicanas que tem funcionários  a estudar (ou por outro motivo), na diáspora não é momento de assoviar, e muito menos é momento para praticar o silêncio.

 

Pior que a quarentena, pior que o estado de alerta, pior que o estado de crise, pior que o estado de calamidade, só mesmo a ausência de empatia e de alteridade.

 

Este seria um péssimo momento para assoviar para o céu ou de ficar pendurado no muro.

 

Nota: É importante ter a capacidade de percepção sobre o significado de social distancing, pois social distancing não significa abandono, isolamento ou esquecimento social das pessoas. Significa distanciamento físico, distanciamento este que não deve substituir a preocupação, a solidariedade, não deve funcionar como bode expiatório, não deve funcionar como desculpa para não desempenharmos como zelo e brio as obrigações que temos,  ou seja, não deve silenciar o lado humano.

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