O acto de cumprir uma recomendação e o de abrir uma encomenda são da alçada do destinatário. Este é livre de decidir se cumpre ou não uma recomendação e se abre ou não uma encomenda. Por conta disto e quando se trate de entidades públicas é aconselhável o resguardo de expectativas quanto ao cumprimento de recomendações de relatórios oficiais. Um exemplo: o relatório geral das contas públicas nacionais, adiante laudo médico, sempre prescreve recomendações e o executivo continuamente estupra-as. Um vício que preocupa a sociedade e é também par(a)lamentar.
Foi assim na semana passada. O laudo médico foi levado à polícia par(a)lamentar. Da perícia, depreende-se de que houve, mais uma vez, um delito. Desta vez, fora as escoriações de anteriores estupros e por sarar, o corpo apresentava queimaduras de nível 4. E a propósito, um reformado par(a)lamentar foi chamado a tecer algumas observações sobre a contínua e abominável violação. Este, fazendo jus da sua experiência, disse aos prantos de que já não se estava perante a figura de “espontânea vontade” mas a de “deliberada vontade”. Ainda disse que o assunto “fora grave é desagradável” e que o autor carregava nas costas outros delitos similares, levando-o a concluir que tal comportamento é compatível com a “delinquência por tendência”.
Do enredo as recomendações para Boris Johnson, Primeiro-Ministro (PM) inglês. Por ser inglês e PM, preenche convenientemente o lugar da famosa expressão “Para inglês ver” que significa algo feito apenas para preservar as aparências. Não seria também o caso das recomendações do relatório das contas públicas? Também, por estes dias e por mais que o Boris Johnson quisesse ver, não lhe sobraria tempo por estar em recuperação da recente enfermidade viral que lhe apoquentara e ainda andar ocupadíssimo na gestão pública da pandémica Covid-19, a responsável da moléstia do PM inglês.
Por outra e para terminar: a expressão “Para inglês ver” remonta aos tempos da abolição da escravatura, sobretudo, em referência de esclavagistas que a fingiam cumprir, temendo sanções da Inglaterra que, na altura, era a principal potência (e polícia) mundial e quem financiava o grosso do comércio internacional. E em tempos de moderna democracia para quem se aparenta? Para os que financiam ou para os que definham? O laudo médico não diz, mas aparenta que a conta sobra para o último.