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quarta-feira, 24 junho 2020 06:57

Cabo Delgado e o grito das crianças - 2: depois que as almas dos pais se foram

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Minhas lágrimas secaram de tanto chorar. Minhas pernas estão nas mãos de tanto andar e correr. Meu corpo de menino transformou-se num quadro de pinturas, devido às feridas e cicatrizes que contém. A nossa memória está entupida de imagens negras de sangue e morte.

 

Cabo Delgado!

 

Nossas casas, donde fugimos, tornaram-se ruínas que acolhem fantasmas dos nossos “deuses”. Herança incendiada. Riqueza saqueada. A guerra trouxe a fome, doenças, desgraça e morte. A guerra arrancou-nos a esperança, a felicidade, o amor e a vontade de sonhar a beleza do amanhã!

 

Quem nos acude?

 

Quando a escuridão aparece sobre os olhos de tanta fome e dor de não poder receber o amor e carinho a que nos havíamos habituado. Vivemos diante de incertezas e medo de voltar a regar a terra com nossas lágrimas inocentes. A guerra matou a nossa familiaridade e hoje vivemos com ela instalada na memória.

 

Quem nos devolve a paz?

 

A paz é um bem supremo que todos nós merecemos ter. A paz é pressuposto necessário para que nossa vida ganhe ânimo. A paz é um delicioso que ergue o futuro de qualquer criança. Não queremos ser crianças-soldados ou futuros soldados do mal, como estes que hoje trouxeram luto, dor e destruição nas nossas aldeias, localidades e vilas.

 

Esta guerra tirou-nos tudo que merecíamos e hoje vivemos em tendas e casotas, onde para ter uma refeição digna é quase impossível. Onde a comida é partilhada mesmo “quando a fome é tanta que as lombrigas dançam tango”.

 

Quem nos salva?

 

Desta guerra maldita que nos tirou tudo e deitou fora nosso sorriso e deixou secar a nossa inocência, porque dia pôs dia, nossas irmãs são sequestradas para alimentar a insanidade sexual dos terroristas.

 

Cabo Delgado! Até quando teremos de continuar a chorar?

 

Omardine Omar

Sir Motors

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