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BCI
terça-feira, 21 julho 2020 08:55

Rosa Maria

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Não podíamos encontrar um lugar melhor que este, onde podessemos nos despir por inteiro e deixar que a lua fizesse as suas vontades sobre os nossos corpos, dando-nos a luz em plenitude.  Foi antes desta invansão sem sentido, em que cada um construiu o seu casebre sem se importar com a natureza, passando a produzir o lixo que o mar está constantemente a devolver aos donos, e a nós que não temos nada a ver com isto. Agora o nosso local de encontro de outrora, de mim e da Rosa Maria, foi tornado um triste conglomerado, onde as pessoas convivem com a miséria. Aquilo parece um aterro santirário.

 

Mas alí era onde os nossos corações batiam ao mesmo ritmo, deitados na areia branca, absolutamente nus, cada um sentido a respiração do outro, até a catarse impetuosa. Tumultuosa. Faziamos isso com o testemunho das marés enquinociais ou da maré vaza, e dos pássaros marinhos que também entravam em cio ao verem nossos corpos assim mesmo, sem nada! E Rosa Maria sorria, completamente satisfeita, entrando em consonância com os meus sentimentos e com o meu corpo, arrasado pelo prazer.

 

Éramos livres, fugidos da casa de nossos pais para aqui, onde não passa ninguém a esta hora da noite. Não se ouve nenhum som, a não ser a música de magwilili (aves marinhas cujos nomes não cnhecemos em português)  que se transforma em catalisador para o galope que nos levará as estrelas reflectidas neste mar que se esbate na areia onde estamos estirados. É uma dádiva estar aqui, ainda por cima com o meu corpo dentro do corpo da Rosa Maria. Parecendo um único corpo.

 

Ainda nem tinhamos atingido o auge da juventude, porém o nosso envolvimento estava no zénite. Começamos tudo pelo cume, com rotações de alta voltagem, e nessas condições só tinhamos duas hopóteses, ou mantermo-nos alí por não haver outra montanha para subir, o caírmos.  E o fogo da Rosa Maria, no lugar de me tornar aceso também, consumia-me como as formigas fêmeas  que consomem o macho na cópula, até a morte cheia de prazer intenso.

 

Agora sou a guitarra sem cordas, que apenas se lembra de que alguma vez alimentou as festas sem fim da Rosa Maria, mulher que continua aqui ao meu lado, mas sem verve! Eu também estou ao lado dela....  sem verve!

Sir Motors

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