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quinta-feira, 05 novembro 2020 07:16

Samira: a moçoila que foi "burlada" amorosamente

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Samira Mussa cresceu em Quelimane, concretamente no bairro da Vila Pita, mas as suas origens encontram-se na cidade de Nampula, onde nasceu e perdeu logo cedo os pais vítimas de uma doença prolongada.

 

Linda, com um olhar sensual, discreto e muito fugida. Samira professava a religião islâmica, onde era aplaudida por todos como a futura "grande estudiosa do islão". As vestimentas da Samira eram típicas da religião e das mulheres nativas do mundo árabe que mesmo diante do feroz sol e calor da terra dos Bons Sinais ela estava toda coberta. Na escola era um exemplo a seguir. Embora com estas todas qualidades, Samira era apaixonada por Ramiro, um rapaz honesto e de uma família humilde, com tudo para dar certo num relacionamento a sério com a Samira.

 

Ramiro, jovem com sonhos elevados, conseguiu admitir ao ensino superior, numa das maiores universidades do País, com sede em Maputo. O namoro de Samira e Ramiro passou a ser alimentado por longas juras de amor ao telemóvel e promessas de um futuro diferente. O contrato entre o casal era de que, independentemente das circunstâncias, todos os meses de Dezembro, Ramiro tinha de voltar à casa para estar com sua amada.

 

A promessa foi por quatro anos cumprida, mesmo diante do fogo cruzado ao longo da Estrada Nacional (EN1) entre as forças governamentais e os homens armados da Renamo; Ramiro arriscava tudo para ver a sua amada, entretanto tudo viria a mudar quando a família da Samira conseguiu inscrever a mesma na Universidade Católica de Moçambique (UCM) delegação de Nampula. Um ano estudando em Nampula, Samira mudou totalmente, passou a gostar coisas mundanas. 

 

Os pedidos que ela fazia para o seu amado Ramiro já não eram correspondidos. Na Universidade as colegas mudavam de telemóveis mensalmente. Tinham namorados que traziam as mesmas de carros particulares e nos intervalos alugavam a lanchonete e nos finais de semana estavam em discotecas e grooves nas praias de Ilha de Moçambique e Chocas Mar. O Ramiro andava atolado na busca por uma oportunidade de emprego na capital. Finalmente, Ramiro conseguiu. Samira já estava num outro relacionamento com um cidadão da Guiné Conacri.

 

No início, o relacionamento entre Samira e o novo companheiro dela era uma maravilha. Ele bancava todas as contas. Ramiro conseguiu um emprego, onde em seis meses foi nomeado assessor da instituição, tinha um bom salário e condições para viver. Sem saber da situação da amada, Ramiro pagava as mensalidades da Samira e enviava alguma mesada para a mesma. Levou muito tempo, Samira já não queria mais nada com o Ramiro. Samira recebeu um pedido do companheiro guineense para viverem juntos.

 

A vida seguia normalmente. Samira engravidou. Os negócios do companheiro corriam bem. Ela abandonou a formação e passou a dedicar-se mais ao companheiro e no desenvolvimento familiar. O projecto de vida entre eles estava bem encaminhado. De repente, tudo mudou. O companheiro guineense da Samira virou violento. Eram socos no estômago ao pequeno-almoço, chapadas na cara ao almoço e pontapés ao jantar. Com sete meses de gestação, o guineense deu um soco na barriga da Samira e pediu divórcio, mas na esperança de manter o lar, a Samira suportou tudo.

 

Dois meses depois veio ao mundo, o filho do casal. Com os valores acumulados por debaixo do colchão e nas contas bancárias da Samira. Dias depois o companheiro contou que o pai havia perdido a vida em Conacri e que ele precisava viajar para lá. O companheiro guineense exigiu que ela entregasse todo valor porque ele tinha que seguir com a viagem para o inteiro e eis que a mesma levantou o valor e facultou-lhe. Lá foi ele para Conacri.

 

Com a estória do falecimento contada em Moçambique, enquanto em Conacri esperava-se um noivo para o casamento do ano. Que esteve em Moçambique a trabalhar e a organizar o futuro da família. Em Moçambique, o guineense havia enrolado uma família larga e contado uma longa-metragem. No noivado com a Samira, ele apresentou uns conterrâneos como parentes legítimos que o representaram. No entanto, o visado em questão tinha outros planos.

 

Chegou em Conacri casou-se com uma companheira de longa data. As fotos do evento foram parar  nas redes sociais. Com a legenda em francês diziam "mariage de l'année...Le couple de l'année" que significa "casamento do ano... o casal do ano". Do modo como a farsa estava montada, até o mesmo bloqueou nas redes sociais a esposa moçambicana. Entretanto, o mesmo "esqueceu-se" que as irmãs da Samira acompanhavam sua "maratona digital" e dada às facilidades que o facebook permite ultimamente, as irmãs traduziram a legenda acima mencionada e descobriram que o cunhado havia casado com uma outra mulher e que não havia perdido nenhum parente, mas sim acabava de acrescentar mais uma parente.

 

Sem alternativas, as irmãs comunicaram a Samira da situação, agoniada e desesperada. Samira mergulhou-se em lágrimas com um filho recém-nascido. O companheiro guineense não mantinha contacto com a mesma num intervalo de seis meses. Estranhamente, neste período, alguns conterrâneos do guineense começaram a pressionar a moçoila para abandonar a casa e deixar tudo que estava no interior da residência.

 

Samira resistiu e passando algum tempo o guineense voltou sem nada. O valor todo que haviam acumulado para o projecto familiar, acabava de ser torrado no novo matrimónio contraído em Conacri. Em território moçambicano, o guineense procurou a Samira para reatar a relação. A pressão e as bofetadas eram tantas que mesmo no momento de reconciliação o guineense chegou embriagado, pegou num copo e atingiu a Samira na testa. Em pouco tempo a face estava toda inchada. Foram dias de agonia e dor.

 

Diante do sofrimento, Samira abandonou a residência e voltou para sua casa. Entretanto, dias depois o guineense regressou a sua procura; queria amantizar com ela. Uma mulher que ele havia burlado sentimentalmente. A Samira hoje vive traumatizada e diante de várias lembranças, sempre aparece na memória dela o seu amor de Quelimane, Ramiro, o jovem rejeitado na altura por não ter melhores condições que o guineense.

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