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terça-feira, 02 março 2021 06:18

Sunil: o amigo que todos gostariam de ter e não perder!

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Conhecemo-nos no bairro Samugue, na cidade dos Bons Sinais – Quelimane, capital da província da Zambézia, Moçambique. Sunil, rapaz com raízes machanganizadas e coração machuabonizado, cresceu em Quelimane. Éramos amantes da bola, amigos leais e brincalhões. Tão miúdos que éramos, mas sempre com ideias grandes. Vivíamos a vida na intensidade e com bons projectos de vida para o futuro. Sunil, era um rapaz bravo, filho de todos e amigo presente. Quis o anjo da morte obrigá-lo a parir a alma tão cedo e logo nos primeiros anos do século XXI: deixou-nos.

 

Num dia lindo, com o calor ardente da terra dos Bons Sinais, acabávamos de jogar a bola no campo da Escola primária e completa 25 de Junho de Quelimane, hoje onde funciona a Universidade Católica de Moçambique (UCM); saímos a pedalar numa bicicleta de marca hero em direcção ao bairro Janeiro, onde residiam umas namoradinhas; a viagem estava perfeita, alta velocidade, adrenalina elevada e vibrante.

 

No aludido dia dos primeiros anos da contagem do ano 2000, cruzamos o cemitério saudade, onde jazem os restos mortais do nosso amado Sunil – chegaremos lá nas próximas linhas! Noite quente, escuridão estratégica e estranha – coisa do diabo! Sem querer, atropelamos um cachorro vadio e com o vírus da raiva canina no sangue a ferver! O Sunil amava e criava cachorros – no seu quintal tinha vários…naquele dia, quis o destino que a raça dos cães não o reconhecesse – deixamos aquele vadio por trás – a viagem continuou em direcção às casas das donzelas.

 

Chegamos, brincamos por mais de duas horas. No nosso regresso, eis que o vadio reconheceu-nos e começou a seguir-nos, eu por detrás da bicicleta, o Sunil conduzindo – a, eis que o vadio deixou-me por trás e foi aos pés do Sunil e mordeu-o, tendo desaparecido após o acto.

 

Naquele momento ninguém percebeu, fomos para casa e dia seguinte é que o Sunil percebeu que havia sido mordido pelo canino, foi levado ao hospital, donde teria que cumprir uma medicação de seis doses de vacinas contra a raiva, mas o Sunil apenas cumpriu três – alegadamente porque alguém da família disse-lhe que o problema já estava ultrapassado e ele como criança, queria brincar apenas…90 dias passaram,  a ferida e o veneno do canino já havia penetrado o robusto organismo do Sunil – estava com os sintomas raiva…

 

Foi levado ao Hospital Central de Quelimane – onde alguns médicos tentaram trocar o gato por lebre – tentaram vender uma cura que não existia - alimentavam as promessas da família em troca de dinheiro – mas já era tarde – o Sunil já ladrava que nem um canino faminto e sedento de sangue ou preza para morder – que situação! – dias passaram – todos se culpavam por não terem feito muito mais para salvar a vida daquele rapaz alegre e querido por todos no bairro de Samugue – Sunil perdeu a vida!

 

O bairro estava em choque – um bom rapaz inteligente, dedicado, sonhador e abnegado a boas causas havia partido do mundo dos vivos! A minha des-paixão por cachorros agudizou-se depois daquele acto, eles mataram o Sunil: o amigo que todos gostariam de ter e não perder!

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