Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quinta-feira, 06 maio 2021 09:29

Breve entrevista a Luísa Diogo*

Escrito por

- Senhora Luísa, você tentou uma vez candidatar-se a candidato a presidente da República, depois não conseguiu. Como é que se sentiu após essa derrota?

 

- A vida é composta de batalhas intermináveis. Aliás, já ao sairmos do ventre da nossa mãe, recebemos imediatamente esse aviso através da pancadinha que nos dão no rabinho, e choramos. O normal seria sorrirmos ao ver a luz do sol pela primeira vez, mas não é isso que acontece, choramos de susto e medo perante os verdugos que nos aguardam, disfarçados no imenso brilho do próprio universo.

 

- Mas qualquer batalha perdida deixa em nós uma dor!

 

- Eu acerdito que você já assistiu a grandes jogos de futebol, e nesses jogos deve lembrar-se de ter visto um grande golo marcado por um jogador genial, mas o árbitro entende anular esse tento que até pode ser de antologia. Por isso, ao entrarmos para grandes desafios, temos que contar com aqueles que têm o machado na mão, prontos para decapitarem-nos.

 

- Então sabia que podia perder naquele jogo de candidatura a candidato a presidente da República, onde pontificavam nomes avultados, não propriamente por aquilo que fizeram para o desenvolvimento do país, mas por outrios motivos!

 

- Em todas as  minhas lutas  contei sempre com o inesperado. A vida em si é inesperada. O próprio Jesus sabia que iria lhe acontecer o pior, mas veio a terra enfrentar os chacais e jamais deixou de lutar.

 

- Continua a acreditar que um dia pode vir a ser Presidente da República?

 

- O objectivo da minha vida não se circunscreve ao poder. Há várias frentes de luta, e a de presidente é apenas uma delas.

 

- Mas a Luísa Diogo queria (quer) ser Presidente da República!

 

- Há coisas que você só pode fazer tendo o poder na mão.

 

- Mas a senhora está no poder!

 

- O problema não é estar no poder. É ter o poder na mão.

 

- Há uma contradição nas suas palavras, e pela forma como fala deixa-nos perceber que afinal há uma espécie de obsessão dentro de si nesta luta!

 

- Se há alguma obsessão dentro de mim, é no sentido de que o meu desejo fervoroso é lutar para que algumas pessoas deixem de pensar que este país é deles sozinhos.

 

- É isso que lhe move na luta por ter o poder na mão?

 

- O que me move é a luta pela justiça, pelo respeito aos direitos dos cidadãos. É isso que me move.

 

- Os seus camaradas não têm conseguido isso?

 

- Eles combateram um bom combate, mas a partir de um determinado momento degeneraram, e precisam de descansar. Então precisamos todos nós, de um novo paradigma.

 

- E acha que esse novo paradigma está nas suas mãos?

 

- (Risos)

 

- Senhora Luísa, você teve momentos de pico, continua a ser uma mulher respeitada, é temida por aqueles que não querem novas luzes. Não receia que amanhã possa sair do cume onde está, para o sopé?

 

- Primeiro, não sabia que eu era temida por aqueles que não querem novas luzes, você é que está a dizer-me agora. Outrossim, nós vivemos entre os cumes e os sopés, segundo o escritor Lucílio Manjate, e eu subscrevo. Jesus Cristo foi aviltrado, achincalhado, pisado como areia, mas há uma coisa que não conseguiram tocar nele, a alma. Então se Jesus, que é uma Pessoa Grandiosa, chegou a ser puxado até ao nível do chão, quem sou eu para não ser posto a rastejar. Mas podem acreditar, a minha alma é inabalável. Continuo a acreditar na vitória dos meus propósitos.

 

- Moçambique tem futuro?

 

- Moçambique sempre teve futuro, o que acontece é que estamos ainda no alto-mar, a ser abalroados. Mas lá chegaremos, nem que seja a bordo de uma mwadia (canoa).

 

- Há quem diz que essa mwadia é a Luisa Diogo!

 

- (Risos) Nunca ouvi essa professia

 

 

* Entrevista imaginária

* Entrevista imaginária

Sir Motors

Ler 3658 vezes