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"Não há duas RENAMO's, há só uma RENAMO (...) A Junta Militar é responsabilidade da RENAMO e não do governo (...) A RENAMO perdeu uma grande oportunidade de dialogar com Nhongo quando o Presidente da RENAMO, Ossufo Momade, ainda vivia na Serra da Gorongosa (...) Porque, no fim de tudo, o que sai fora é a RENAMO" - Manuel Bissopo, antigo Secretário-Geral da RENAMO.

 

Quando se começou a falar de Nhongos e não-Nhongos, eu escrevi algo parecido com isso que o Bissopo disse. Era antes das eleições. Eu dizia que se a RENAMO "nhanhalar" Nhongo para o governo e para presidente Filipe Nyusi, quem perdia era a própria RENAMO. Cada tiro disparado, cada pessoa alvejada, cada bem destruído pela Junta Militar, sujava a imagem e o bom-nome da RENAMO. Era a RENAMO que se dividia.

 

Mesmo que a Junta Militar tenha sido obra do governo da FRELIMO - como se alega - Ossufo Momade perdeu uma soberba oportunidade de mostrar o seu lado diplomático, pacificador e reconciliador, por um lado, e de exibir a sua autoridade militar, por outro. Ossufo Momade perdeu a única chance que tinha de mostrar aos moçambicanos de que com ele estavam seguros.

 

Hoje é o último dia do ano 2019. O que me preocupa, como cidadão amante da democracia, é saber que vamos entrar no novo ano, no novo mandato e na nova década, com uma RENAMO mais confusa que "pombonica" na machambas de arroz. Um segundo maior partido moçambicano desorganizado e sem muito futuro à vista. Uma força política incapaz de proporcionar o equilíbrio necessário no jogo democrático. Uma RENAMO muito abaixo da altura da FRELIMO. Isso me entristece maningue.

 

A pergunta que sempre me faço é a seguinte: o que é que aqueles galácticos académicos e intelectuais estão a fazer na RENAMO, se não conseguem assessorar melhor o seu presidente e, muito menos, melhorar a performance do seu partido? O que fazem ali aquelas estrelas todas?

 

O meu professor, Eduardo Namburete - exímio comunicador - não é capaz de melhorar a comunicação da RENAMO? O Venâncio Mondlane - competente orador - não pode assessorar o presidente? O Muhamad Yassine, o Alberto Ferreira, a Ivone Soares, a Maria Angelina Enoque - pessoas com excelente retórica - não podem organizar uma melhor comunicação para o seu partido? Como é que deixam o partido convidar jornalistas para uma conversa desnutrida e sem sal? Como é que, em momentos cruciais como este, a RENAMO não tenha assunto e, se tem, não o explora devidamente? A RENAMO não pode contratar grandes jogares para descer de divisão. Algo de certo está a dar errado.

 

Tenho vindo a dizer: a RENAMO deve sentar para debater e debater-se sem evasivas nem subterfúgios. Deve chamar os bois pelos próprios nomes. Deve identificar as suas feridas e pôr o dedo nelas. Deve fazer uma introspecção seria e profunda. Dialoguem com o vosso irmão Mariano Nhongo.


Para mim, a conferência de imprensa foi dada por Bissopo. Teve assunto e comunicou excelentemente. Falou sem papas na língua o que muitos renamistas gostariam de falar. E eu que pensava que o antigo Secretário-Geral não tinha tomates... afinal era medo de entornar o tacho. Agora que não tem tacho a perder, os tomates amadureceram. É vez vez.

 

Mas, enfim, são coisas da política que só os políticos entendem. Enquanto isso, vamos assistindo a um processo de mitose e meiose de uma RENAMO que já foi uníssona e bonançosa. Esperemos para ver até onde vai!

 

BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO A TODOS!

 

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segunda-feira, 30 dezembro 2019 06:42

As minhas figuras do ano*

A minha figura deste ano, 2019, sou EU. Isso mesmo: eu! Eu que tenho aguentado ao coito seco dos neocolonialistas desta pátria. Eu que tenho insistido em me manter vivo para manter viva a esperança dos que de mim dependem. Eu que tenho conseguido, não sei como, pôr o pão, mesmo seco, na mesa. Eu que, apesar de tudo, tenho colocado a minha família em primeiro lugar. Eu que, mesmo sem dinheiro, estou a pagar uma dívida que não conheço. Eu que vivo em paz na guerra. Eu que consigo sorrir quando devia chorar. Eu que persisto quando devia desistir.

 

A minha outra figura deste ano, 2019, é a MINHA FAMÍLIA: esposa e filhos. Eles que mesmo vendo que não dou o que devia não me julgam. Eles que vêem vitórias nos meus fracassos. Eles que, apesar dos almoços, jantares, compras, passeios, férias e sorvetes adiados, não se importam. Eles que me aceitam assim como sou, faça chuva faça sol. Eles que são o meu porto seguro. Eles que, mesmo assistindo a violência com que a burguesia me penetra por trás, me chamam de chefe de família.

 

A outra minha figura deste ano, 2019, é VOCÊ. Você que, como eu, se mantem firme, apesar de tudo. Você que também está a pagar uma dívida que não viu. Você que também está f*dido, aliás está sendo f*dido sem Vaseline continuamente. Você que também paga água, mas não toma banho e morre de sede. Você que também paga energia, mas vive no escuro. Você que também está a espera do tão prometido atum. Você que também é apenas um número de uma estatística mecanicamente distorcida.

 

Você é a minha figura, sim. Você que também tem um filho na 10ª classe, mas não sabe ler nem escrever. Você que também perdeu um ente querido por falta de paracetamol. Você que também sente que o seu voto foi roubado. Você que também tem uma conta naquele banco com rácio de solvabilidade negativo. Você que também está a disfrutar desta meia-paz. Você que também tem medo de estar frente-a-frente com os Nhongos e com os insurgentes. Você que também, a qualquer momento, pode morrer de uma morte patrocinada. Você que também não sabe quanto nem quando vai receber o décimo terceiro. Você que está aí sonhando com um futuro risonho porque confundiu pirilampo com luz no fundo do túnel.

 

Você é a figura deste 2019. Sim, você que também reclama trabalhando, critica trabalhando. Você que também não tem padrinhos na Tabela de Nhangumele. Você que também torce para que o "Chopstick" vá. Você que também era o apóstolo da desgraça e, hoje, é a própria desgraça do apóstolo. Você que também passou de resiliente a firme. Você que também não se revê neste estado da nação convenientemente inflacionado.

 

Enfim, nós somos os heróis desta história. Nós somos as nossas próprias figuras deste ano. E nós somos as figuras que num ano muito próximo vão mudar a História. Palmas pra nós!

 

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* Reeditado de "As minhas figuras do ano" de 2016.

Este breve artigo reflecte sobre o papel da cultura nas relações internacionais e seu recente protagonismo nas relações diplomáticas entre China e África. A inclusão da componente cultural nas diferentes agendas estatais tem influenciado de forma substancial nas relações exteriores e diplomáticas entre Estados. A diplomacia cultural representa a principal subárea da diplomacia pública e é tida como um instrumento importante na aproximação de povos, contribuindo para o estabelecimento de vínculos culturais entre Estados. Ela joga um papel fundamental na construção imaginária local sobre outro Estado.

 

Antes, importa contextualizar em termos históricos as relações diplomáticas sino- áfrica. Historicamente, segundo aponta Michel & Beuret (2009. P. 31-32), o relacionamento sino-africano é originário dos anos 1950 e 1960, quando a Conferência de Bandung, em 1955, lançou as bases do movimento dos não-alinhados e a esperança de um desenvolvimento Sul-Sul e quando a China apoiou os movimentos de libertação dos vários países africanos em relação às potências colonizadoras europeias. Após vários entraves internacionais que dificultavam uma melhor relação entre as partes, nos finais dos anos 90, a China consegue estabelecer a sua primeira política africana que “visava o reforço dos laços políticos com os líderes africanos, e a penetração dos interesses comerciais chineses em África” (Cunha, 2012, p. 340).

 

Enquanto actor internacional, a China procurou ser um parceiro estável, de confiança e que não precisava de ser temida. Estabeleceu uma amizade que em primeira instância tomou a Cultura como arma principal, apelando os aspectos históricos comuns de subjugação ao colonialismo e imperialismo do Ocidente e pelos Princípios da Coexistência Pacífica que estabelecem uma estratégica marcada pela lógica de win –win e pela inexistência de condicionalidades político – ideológicas.

 

De modo a complementar a aproximação específica a África, China adere ao multilateralismo, redesenha os seus mecanismos de intervenção externa e aplica aquilo que Kurlantzick (2007) chama de “tools of culture, que reflectem que a “cultural promotion is part of a broader effort at public diplomacy”. A liderança política chinesa encara desde ai, a cultura enquanto componente central das actividades de diplomacia pública. Em 2004, cria Institutos Culturais com objectivo de promover a língua e a cultura chinesas e, indirectamente, contribuir para a construção de uma imagem positiva e compreensão da China no plano internacional. Hoje, existe mais 38 IC’S em África, cursos de língua e culturas chinesas lecionados em diversas Universidades Africanas (o exemplo da Universidade Eduardo Mondlane) e cerca de 50 milhões pessoas aprendendo mandarim fora da China.

 

O país conseguiu implementar com sucesso o “tool of culture” na sua diplomacia pública, colocando a cultura como componente principal no estabelecimento de relações douradoras com o continente africano. Soube explorar as semelhanças históricas – culturais “de povos antes oprimidos pelo ocidente” para acercar-se ao continente e vender a ideia de ser um “parceiro confiável, estável e que não deve ser temido”.

 

Estas estratégias incomodam até um certo ponto ao velho continente, que antes assumia um poder diplomático cultural em vários países africanos, influenciado pela relação histórica- colonial, semelhança de idioma e de certos traços culturais herdados. É, talvez por isso, que o presidente Francês, Emmanuel Macron, propôs recentemente a restituição plena e incondicional de todos os bens que foram retirados do continente africano “sem o seu consentimento”. Para os críticos, trata-se de uma estratégia que deverá enquadrar as relações de Paris com África, num contexto em que a Europa começa a perder espaço no continente, ou, como dizem os mais críticos, de um golpe de teatro no palco da diplomacia cultural? Por que razão fala-se apenas em restituições a África quando França teve uma presença importante noutras geografias? Questiona-se…

 

O certo, é que as potências mundiais ganharam consciência da importância da cultura nas relações diplomática e dados indicam que o século XXI será efectivamente a idade de ouro do impacto dos factores culturais nas relações internacionais. Por isso, o objetivo da diplomacia cultural tem sido de influenciar positivamente na opinião pública e nas elites de opinião dos Estados.    

 

Tal como a China entendeu que para melhorar a sua imagem no panorama externo era necessário usar mecanismos de diplomacia pública assentes em factores culturais, Moçambique pode muito bem fazer o uso estratégico da sua localização geográfica (corredor de acesso a vários países Africanos e aglutinador de culturas) e da sua rica diversidade cultural para estabelecer relações diplomáticas com um teor multidimensional. De que forma? (Assunto a abordar no próximo artigo).

 

Belarmino A. Lovane

"O ministro do Mar, Águas Interiores e Pescas revelou que parte dos trinta barcos da controversa Empresa Moçambicana de Atum [EMATUM] já estão a operar. (...) Entretanto, Agostinho Mondlane declinou avançar o número dos barcos que supostamente já pescam atum nas águas moçambicanas." (O País, 26/12/2019).

 

Isto é procurar ser falado a todo custo. Quando você descobre que o mandato está no fim e você nada fez, mas precisa de aparecer para ser convocado de novo. Quando você descobre que andou apagado durante todo o mandato e precisa de falar uma m*rda qualquer para ser recordado. Quando você descobre que fez um autogolo e precisa de, pelo menos, provocar um pênalti no minuto noventa a ver se vai ao prolongamento.

 

Desespero total. Quer ser conversa da hora-de-ponta. Quando você descobre que, em apenas uma semana, "Jerusalema" foi mais falado do que você em cinco anos. Quando você descobre que o Presidente da República conhece mais o puto Dércio-dos-casamentos do que você que dirige um pelouro nevrálgico do Estado.

 

A melhor maneira de reagir a este tipo de pronunciamentos do senhor ministro é contratar aquele eclesiástico fanfarrão para lhe mandar um grande "futseka" com megafone. Mas como estamos na semana natalina, só podemos desejar que o senhor ministro se empanturre com o primeiro lote desta pescaria.

 

Tenha muita fartura de atum, hoje e sempre! Coma atum ao mata-bicho, ao almoço, ao jantar, à sobremesa, ao lanche. Tenha atum na merenda, no piquenique, no petisco, no aperitivo. Que o seu guardanapo seja de pele de atum seco. Palitar, que seja com espinhos de atum frito. Escove os dentes com guelras de atum cru. Não se esqueça de enviar uma marmita cheia desta iguaria ao "Chopstick" para levar na viagem.

 

Agora, faxavor, deixe-nos em paz! Brincadeira tem limite, principalmente quando é de péssimo gosto.

 

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quinta-feira, 26 dezembro 2019 06:40

"Jerusalema"

Eu não concordo com essas afirmações que andam por aqui segundo as quais a música "Jerusalema" está a bater em Moçambique pura e simplesmente porque o moçambicano não gosta do que é seu, só valoriza o que vem de fora. Outros há que dizem que moçambicano está a dançar Jerusalema nesta quadra festiva só para deixar Mista-Bau para baixo por inveja.  Hummmmm... Vamos ser sérios.

 

Eu acho que nem o próprio Mista-Bau pensou até aí. Aliás, um bom artista de verdade não pensaria tal mediocridade. Quem pensa assim é um artista medonho que só faz arte para aparecer. Aquele que pensa que há arte superior e inferior, cultura superior e inferior. Aquele que pensa que a arte tem limites geográficos, patrióticos, raciais, religiosos, sexuais, étnicos, e por aí fora.

 

Um músico é um artista. E um bom artista não procura culpados pelo seu insucesso. Não procura bodes-expiatórios. Um bom artista trabalha cada vez mais. Tenta melhorar a cada trabalho. Tenta se superar a cada exposição. Não espera sucesso sempre. Um bom artista deve saber cair e levantar-se.

 

Mista-Bau já lançou "hits" que bateram até explodir colunas de som. Eu que trabalho nas zonas recônditas do centro e norte de Moçambique, já vi pessoas a dançarem músicas de Bawito em lugares que nunca imaginei (pela localização e pela língua). Não é por acaso que ele próprio se auto-proclamou "King". Talvez seja por causa disso que ele é o músico (senão o artista) mais rico de Moçambique. Mista-Bau já venceu Ngomas.

 

Então, ele é tudo isso por causa dos moçambicanos. Foram os moçambicanos que fizeram do Mista-Bau o que ele é hoje. A fama dele não caiu do céu. Ele trabalhou e o povo reconheceu o seu trabalho. Não nos criem intrigas, seus fofoqueiros. Ninguém tem inveja de Mista-Bau. Mista-Bau é nosso artista e não vai deixar de ser por causa deste pequeno momento de "Jerusalema". Não é a primeira vez que um "hit" sul-africano bate por aqui. "Khona" de Mafikizolo bateu e passou. Até pernas de Zodwa Wabanthu assistimos, mas passaram também e voltamos para as da nossa rainha Matilde Conjo. Deixem de ser quadrados, bradas. Não coloquem na cabeça e no coração de Mista-Bau o que ele não está a pensar e nem está a sentir. Parem com isso!

 

Já dançamos Eme-Ci. Já dançamos Liloca. Já dançamos Deni-Ó-Dji. Já dançamos Ziqo. Já dançamos Lizha. Já dançamos Marlene. Já dançamos Tabazily. Já dançamos TODOS. Da África do Sul já dançamos Mafikizolo. Já dançamos Mandoza. Já dançamos Brenda. Já dançamos Zahara. Também já dançamos TODOS. Até pernas da Zodwa Wabanthu pagamos para ver. Então, dançar músicas da África do Sul não é coisa de hoje. Ouvir Hugh Massekela não significa não gostar de Wazimbo. Que hábito é esse, meus compatriotas?

 

Se, de facto, Mista-Bau é o tal "King" da música moçambicana irá fazer uma profunda introspecção. Mista-Bau não precisa de meninos-de-recado ou de sentinelas no "feici". Mista-Bau deve ser artista do estúdio e do palco, e não do "feici". Deixem o povo festejar o seu suado Natal em paz! Deixem o povo dançar o que quiser e como quiser! Não é o fim de Mista-Bau. "Jerusalema" é mais um "song" do momento como um outro qualquer que passou por aqui.

 

Ainda bem que Mista-Bau tem o que fazer. Mista-Bau e Liloca estão a fazer trabalhos de caridade bem no espírito natalício. Fizeram show na penitenciária e deram almoço e piscina aos meninos de rua. Um trabalho de louvar. Mista-Bau não está nessa vossa competição intriguista. Não está nessa vossa peleja de fofoqueiros. Ele sabe que é o "King" do povo e sabe respeitar a vontade do seu povo. Ele sabe que o povo o adora. Ele sabe que não será "Jerusalema" que o vai matar.

 

Parem com isso e entrem no espírito natalício! Perdoem e perdoem-se! Sejam felizes! Feliz Natal a todos!

 

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terça-feira, 24 dezembro 2019 05:54

O cinismo yankee

Os americanos são exímios na "real politik". Ontem no rescaldo das eleições, a embaixada local dos EUA emitiu um comunicado prometendo trabalhar com Nyusi. Vêm aí cinco anos de uma etapa "transformational" para Moçambique, dizem. É claro que o gás entra aqui na equação, embora os redactores do comunicado evitassem falar do que estará por detrás dessa transformação. Mas todo o mundo sabe: o gás do Rovuma. O que não se sabe, mas suspeita-se, é que quem vai tirar maior benefício do gás é o capital estrangeiro, e a Exxon não escapa.

 

No dia da confirmação de Nyusi, numa cerimónia apagada, os yankees disseram que os delitos eleitorais foram graves, numa pretensa solidariedade com a sociedade civil, a oposição e alguma observação eleitoral. E agora? Agora esperam que o Governo melhore a gestão das eleições, imprimindo transparência. Nada mais! A política, na sua versão mais cínica, segue dentro de momentos.

 

A América abandonou os condicionalismos do passado. Agora dorme abraçada à Ponta Vermelha. Esse casamento estratégico para Washington e de conveniência para Filipe Nyusi já estava anunciado. Há poucas semanas, os americanos acenaram com o MCC (Millennium Challenge Account), dinheiro a fundo perdido de apoio ao desenvolvimento, que foi cortado a Moçambique por comprovada corrupção. 

 

Ninguém foi responsabilizado. Mas seus critérios assentam na transparência. E justamente quando ela (a transparência) é uma miragem na gestão dos dinheiros públicos, incluindo processos eleitorais (o pior de todos foi a recente eleição), a América premeia Maputo com esse fundo. 

 

 

É óbvio que isso decorre de seus interesses estratégicos e não dos interesses do povo de Moçambique. Daí o episódio bizarro da revelação em Brooklyn, pelo FBI, de um New Man sem rosto, num golpe de misericórdia que remete para a geopolítica: o Canal de Moçambique, fundamental na presente guerra imperialista.

 

Nunca no passado Moçambique esteve tão vulnerável aos apetites do capital ocidental (a saga das “dívidas ocultas” foi instrumental para a erosão de nossa capacidade negocial no plano na cooperação internacional) e nunca os americanos ofereceram almoços tão grátis, despidos das habituais condições de democratização e anti-corrupção. Pior, nunca se viu tamanha complacência americana para com a corrupção e a má-governação eleitoral em Moçambique.

 

Seus interesses jogam mais alto. 

 

De modo que a expressão "transformational" deve ser bem analisada. Há que ficarmos atentos para discernimos até onde vai a pura essência de um casamento consumado com noiva vestida em saia justíssima, e qual será o verdadeiro "quid pro quo" de Washington e seus potentados empresariais em Moçambique.