Não sei porque razão, mas o processo eleitoral - neste pedaço de terra com nome de jóia - é um autêntico festival de boçalidade, futilidade, vulgaridade, inutilidade, banalidade, etecetera. O evento torna-se uma fossa e os concorrentes, excrementos de toda ordem e feitio. Não se discutem manifestos, discutem-se pessoas. Cavam-se passados fúteis que não agregam valor ao debate.
Isto a propósito da eleição da Ordem dos Advogados. Mas também a propósito da eleição da Cê-Tê-A e da SOMAS. Sem esquecer a eleição do MISA, passando pela Esse-Ene-Jota, pela Efe-Eme-Efe, pelas eleições gerais, presidenciais, autárquicas e das assembleias provinciais. Mas também a propósito da premiação do N'GOMA e da AEMO.
Se olharmos de soslaio a esses eventos, vamos encontrar algo em comum: desconfiança na comissão eleitoral que acaba no descrédito de todo o processo. São dedos acusatórios, adiamentos, desistências, assobios para o lado, lamúrias, insultos, desacatos. Para piorar, fala-se sempre de um certo partido político que anda infiltrado nos processos eleitorais das agremiações civis. Sempre a imiscuir-se, a baralhar os processos e a criar desordem, qual energúneno obcecado.
A diferença entre esses eventos é que malta FRELIMO e RENAMO e Eme-Dê-Eme se batem, se incendeiam casas e sedes, se insultam, se abusam, se ferem e se matam abertamente ao vivo e a luz do dia, enquanto que os outros fazem tudo isso cobardemente. Hipocritamente, no meio da peleja, os advogados ainda se tratam por "ilustre colega". No fundo no fundo, bem lá no fundão mesmo, começa a ficar claro que por detrás dessas organizações há muita farinha e carapau. Começa a transparecer que o mais importante é ficar na cozinha.
Eu era fã de advogados. Os advogados eram os gajos com os quais eu mais rendia em termos de civismo e seriedade. Eram "top" para mim. Mas, honestamente falando, os dois últimos processos eleitorais me decepcionaram muito. Alguém vai dizer que em democracia é assim mesmo, que o que venceu é a Ordem, que a agremiação está mais coesa, que tudo ficou para atrás, que o futuro é o que interessa, bla bla bla... Uma ova! É assim - sim, mas não devia ser. Eleição devia ser uma coisa muito séria... de advogados, muito mais séria ainda. A ética e a moral deviam ser o A-Dê-Ene da Ordem. "Adversário não é inimigo" devia ser o fio que cose o seu genoma.
Os advogados deviam ser o espécime da justiça, da transparência, da cordialidade e do civismo. Onde se reunem para discutir ideias devia ser o molde da ética e da moral. Os processos eleitorais da Ordem dos Advogados deviam ser o protótipo da democracia. Cobrir-se de ternos e gravatas e ostentar pastas de pele de crocodilo ou búfalo e carregar molhos de chaves não basta. Lembrem-se da "mulher do César", meus senhores! Sentem e discutam profundamente sem evasivas nem subterfúgios e elevem a vossa fasquia. Emancipem-se a altura da vossa importância e prestígio na sociedade! Não deixem nodoar o último pano que falta. Vocês são a luz da sociedade. Não se desonrem, senhores doutores! Vocês são melhores que isso.
Não rendi convosco. Estou desconsoladamente decepcionado. Aquelas "cobras e lagartos" de um lado para o outro não eram necessárias. Jogar baixo também não era necessário. Vão ver que podiam ter feito um processo eleitoral sem barulho. Um evento civilizado de uma classe que se espera civilizada. Se advogados devem-se insultar para se votarem entre si, então é o fim da picada. Eu esperava muito mais. Pensava que o país ainda tinha alguma esperança. Agora só falta ouvir que há um Nhongo-advogado que está a disparar na 24 de Julho ou na Julius Nyerere.
Enfim, ao novo Bastonário, os meus mais sinceros parabéns. Bom trabalho! Una a classe!
- Co'licença!
O brasileiro e professor de Filosofia, Clóvis de Barros Filho, define os valores como identidade. Ele diz que ao se apresentar a alguém pela primeira vez você fala dos seus valores para a pessoa saber quem você é na essência. Ou seja, quando alguém pergunta "quem é você?", você começa a falar das escolhas que você fez na vida. O seu percurso de vida.
E eu cá digo, se você quer conhecer um Estado, olha para os seus governantes. Se você quer saber a identidade de um Governo, olha o que fazem os seus dirigentes. Isto é, o que responde a pergunta "que Governo é este?" é aquilo que os dirigentes que suportam esse governo fazem. Se você quer conhecer um país, veja as atitudes do seu povo. O que constrói uma nação são as escolhas, as crenças e a identidade do seu povo. Cada um é indissociavelmente o reflexo do outro.
Ora, sendo o camarada Edson Macuacua a figura indicada pelo Presidente da República Filipe Nyusi como Secretário de Estado da província de Manica espera-se que este seja o seu fiel representante. Ou seja, Edson Macuacua é Filipe Nyusi em miniatura. Edson Macuacua é a identidade de Filipe Nyusi. Aquilo que Edson Macuacua faz, enquanto Secretário de Estado da província de Manica, define os valores do Estado moçambicano.
Não sei em que circunstâncias foram tiradas as fotos do camarada Edson Macuacua que circulam nas redes sociais. Nas imagens, o camarada Edson Macuacua aparece sendo "coroado" com um trono em madeira, sendo dadivado com frutas da época e adornado em camisas de capulana. Mais do que simples gesto de "presenteamento", a cerimónia chama atenção pelo seu ritual de idolatria faraónica. O mais preocupante é o rasgo de sorriso que ele faz ao ser adorado e o a vontade dos adoradores.
Na verdade, se aquilo foi um evento de Estado, eu, particularmente, não vejo motivo de tanta celeuma. Não vejo motivos de grande indignação, uma vez que aquilo define a nossa identidade. Se Edson Macuacua é a melhor escolha de Filipe Nyusi para Manica e Filipe Nyusi é a melhor escolha do povo para Moçambique, então, aquela cerimónia define o povo que somos. Aquele acto representa os nossos valores, a nossa identidade enquanto povo.
Paremos, então, com essa indignação hipócrita. Se trocarmos a imagem de Macuacua pela de Nyusi, vamo-nos aperceber que essa revolta não faz sentido. O Macuacua não fez nada de estreia. É assim que tratamos os nossos governantes, desde o Chefe de Estado até o chefe de quarteirão. Aquilo é o que nós somos. Somos um povo de cócoras sem motivo. Um povo que nunca se ergue. Um povo que dá até aquilo que não tem. Um povo uniformizado.
O problema não é de Edson, nem de Nyusi. O problema é do nosso conceito de governante. Os nossos governantes são o reflexo do que somos como povo. São as nossas escolhas. Os nossos valores. A nossa identidade. Antes de pensarmos em mudar os nossos governantes, mudemos as nossas escolhas e os nossos valores.
Quando perguntarem "quem são vocês?", responda: "nós somos os ajoelhados". As pessoas vão entender. O mundo sabe que nós existimos. Não é uma condição, é uma escolha.
- Co'licença!
A entrevista está marcada para Chilembene, terra natal do presidente mais borbulhante da África, em todos os tempos, que pecava entretanto por pensar que as coisas deviam obedecer ao ritmo da sua loucura. É manhã solarenta de um domingo que pode estar a começar da pior forma, ou seja, Samora evoca a Deus desmentindo todos os Seus preceitos. Ele disse-me de frente, que Jehová nunca existiu. Chegou a afirmar, na sombra frondosa onde estamos sentados, de homem para homem, apesar de ele representar o símbolo maior do poder, que a bíblia era obra de paranóicos. Mas esse pensamento, claramente era um delírio.
Samora Machel passou a noite anterior ao nosso encontro numa cubata desguarnecida, dormindo na esteira de palha previamente preparada, completamente nu, sem travesseiro, respirando o perfume tóxico dos incensos trazidos por curandeiros ndawus de Nova Mambone. Era necessário que assim fosse, segundo soube do próprio durante a entrevista. O poder não se oferece, arranca-se, e ele sabia que estava cercado por bajuladores e gananciosos que nunca o quiseram na cadeira mais importante da governação, por o considerarem inculto e incapaz de dirigir um Estado moderno.
Fui alojado no mesmo lugar, noutra cubata, ao lado da que acolhia Samora, e pude aperceber-me que o homem passou toda a noite a balbuciar. Mas tive que fazer um esforço para me abastrair daquele pesadelo porque não era nada comigo. Eu fui ali apenas para entrevistar o Presidente da República, que me parece, desde o primeiro dia que o vi, um grande actor que mesmo assim, carece de descernimento. Ele é capaz de agir como um touro num supermercado.
Acordei muito cedo, na madrugada que ainda recebia as últimas gotas do luar. Espretei lá fora pelas frestas da casota, e vi Samora saíndo do seu casulo vestindo uma saiota vermelha, cingida no lombo por um cinturão de pano preto. Estava descalço. Atrás dele vinha uma mulher com seios enormes à mostra, segurando na mão esquerda um rabo de boi que ia introduzindo num recipiente que trazia noutra mão e chapiscava nas costas do Presidente, e eu fartava-me de rir perante aquele espectáculo ridículo. Nem parecia Samora Machel que rugia nos palanques, Independência ou morte!
Depois da “ducha” e do pequeno almoço, fui escolatado por dois brutamontes para o lugar onde vai decorrer a sessão de perguntas e respostas. Indicaram-me a cadeira onde devia sentar e reparei que não se diferia da outra que acomodaria o também apelidado “leão de Gaza”, embora esse epíteto pertencesse a Ngungunhana. E eu estou ali, sentindo com prazer o cantar do vento leve, enquanto espero pela sumidade do nosso tempo. Samora come na cubata, à mão, sentado na esteira com as pernas entreabertas. A panelinha de barro bruto, abastecida de xima e carne, está aconchegada muito perto dos testículos, que estão à mostra diante da mulher com os seios fartos e livres.
Serviram-me uma garrafa de água mineral importada da Rússia, para ir bebendo enquanto espero pacientemente pelo “boss”, e eu divirto-me com todo este cenário comandado pelo silêncio. Venero o silêncio. O silêncio é o melhor palco para amar. E o amor está acima de todas as coisas. “Vais amar o próximo, assim como de amas a ti próprio”.
Samora Machel sai da cubata vestindo, agora, o uniforme militar que o torna personagem destacável. É um leão saciado, pronto para novas batalhas. Mas contrariamente ao felino rei da selva que ruge depois de encher o bandulho, Samora ruge porque está com medo. Tem medo dos que lhe rodeiam.
Olho para ele e percebo que não está seguro. Titubeia na minha direcção. Parece um sonâmbulo que caminha para o fim, e eu levanto-me para saudar o ídolo das massas. Samora já não se envaidece. Muito menos embevece. Ele degenera. Está sitiado por um batalhão armado que o protege. Parece Ngungunhana quando estivesse ébrio, metia medo. Só que, Samora Machel, para além de meter medo, ele também está com medo. Não consegue responder às minhas perguntas. Delira em todo o tempo dizendo, A luta continua!
Quem não vive em Nampula ou quem vive há menos de dois anos pode não entender. Mas, é o seguinte: pelo menos até 2017, ano em que o edil Mahamudo Amurane foi barbaramente assassinado, a cidade estava repleta de flores. Haviam jardins e parques infantis na urbe. Haviam tulipas, orquídeas, rosas, bom-dia, calêndulas, camélias, línguas-da-sogra, rainha-da-noite, etecetera.
As flores pressentiram a burla. Quando o cota Vahanle ganhou as eleições intercalares, na segunda volta, logo em seguida as flores murcharam começando pelas que se encontravam no próprio pátio do seu gabinete e residência. As flores sabiam do engodo. Com a nova vitória do tio Vahanle, de 15 de Outubro de 2018, as flores que ainda deram o benefício da dúvida ao presidente morreram de vez... de angústia. As plantas que exibiam sete-vidas, da avenida do Trabalho (da meia-via à padaria Sipal), despediram-se logo antes da tomada de posse do edil. Nós vimos isso, mas não entendemos.
Já li algures artigos científicos que afirmam que crianças e cachorros conseguem ver pessoas más. Pressentem. Lêem almas. Vêem energias negativas. Mas eu acho que as plantas também têm o seu próprio horóscopo. Lêem a mão de quem cuida delas. Esperemos apenas a confirmação.
Quem vivia aqui certamente que viu. As flores que mais mostraram musculatura e esperança exacerbada foram as do Jardim Parque. Até Janeiro do ano passado as pessoas tiravam fotos de casamento ali. Hoje, até "molwenes" têm medo de entrar ali. Até a vedação se foi.
As flores do gabinete e da residência do Governador ainda estão ali, mas entediadas pedindo socorro aos transeuntes e sentinelas. Mas ninguém as escuta. Nós não temos a capacidade de entender a língua das flores - o floriguês. Aquelas plantas estão a definhar lentamente. Estão a dar o último adeus aos munícipes, o que Amurane não teve a oportunidade de fazer.
Se o tio Vahanle estivesse num país onde o meio ambiente é assunto sério, talvez hoje estaria na prisão. A inoperância da edilidade é um feitio de formação de quadrilha para delinquir. Dói a alma! Dá raiva!
As flores sabiam do seu genocídio. Hoje, quem encontrar uma flor saudável na cidade de Nampula (que não seja num quintal particular) que dê um beijo, tire uma foto e publique. Essa flor merece uma medalha e estátua. "Wariya wa Wamphula", era uma vez.
Será que o edil Vahanle tem falta de assessoria? Aqueles quadros - jovens e velhos - que vejo por ali não o podem assessorar? Não estamos a falar de máquinas para trabalharem com lixo e buracos. Estamos a falar de dar água as flores. Custa alguma coisa?!
- Co'licença!
Em Moçambique, uma estrada em péssimas condições elimina a vida de um veículo e salvaguarda a dos seus ocupantes. Por sua vez, uma em boas condições e por conta de acidentes, elimina a vida de ambos, a do veículo e a dos ocupantes. Neste contexto, não sei se faz algum sentido (atenção o próximo Orçamento de Estado) pedir que o Governo melhore as condições de transitabilidade das estradas. Alinhar nessa diapasão não será o mesmo que o Governo defender a eutanásia (morte assistida) ou, no mínimo, que esteja em curso, um projecto oculto e selectivo de eliminação de certas franjas da sociedade.
O intróito vem a propósito da elevada sinistralidade nas estradas moçambicanas, em particular na N4, aqui citada apenas por razões de proximidade. Igualmente, o intróito vem a reboque do recente debate parlamentar na antiga metrópole, Portugal, referente a despenalização ou não da eutanásia.
Tenho dito, em privado, que graças a manifesta incapacidade do Governo em melhorar a qualidade das estradas que o nível de sinistralidade não é maior e a população moçambicana não é inferior aos actuais 28 milhões. A tal incapacidade ainda concorre para desestimular a compra de automóvel, contribuindo assim para um ambiente são quanto a poluição atmosférica. De per si, isto já seria o suficiente - barata e ao alcance dos moçambicanos – para se apostar como uma fórmula/estratégia rumo ao desenvolvimento sustentável. As Nações Unidas agradeceriam imenso por este contributo imensurável do país ao mundo.
Mas, infelizmente, fora melhor denominação, esse não é o entendimento. Do debate nacional sobre a sinistralidade, emergem várias soluções que recaem sobre a (i) fiscalização, a (ii) infra-estrutura e o (iii) comportamento humano. A primeira, porque à troco de alguma cifra o regulador deixa passar o infractor (automobilista). A segunda, porque a melhoria não previra um separador físico entre os dois sentidos. A terceira, porque o automobilista se fez à estrada embriagado e o peão sem respeitar as regras ou os pontos de travessia.
Dito isto, pergunto: haverá algum interesse para que assim continue? No mínimo e pelo resultado (elevada sinistralidade), a contínua insistência governamental na melhoria das estradas nacionais alimentam severas desconfianças em relação aos reais interesses do Governo. Em tese, e perante os factos, o Governo aposta os parcos recursos dos contribuintes na criação de condições para o luto das famílias dos próprios contribuintes. Um assunto para perguntar: ajudar o outro a morrer, não será um crime?
Pelos vistos não é crime. E aqui entra o debate sobre a eutanásia em Portugal. Dele, retive o essencial - através da seguinte frase: “O suicídio não é um crime em nenhum país. Parece-me um pouco ridículo que seja crime ajudar alguém a fazer uma coisa que não é crime.” (Philip Haig Nitschke, activista pela morte assistida ao jornal português expresso do dia 20 de Fevereiro corrente). Neste sentido, e extrapolando para a realidade moçambicana, quem se faz à estrada ao volante e embriagado ou que não cumpra as regras de travessia é um suicida. E o suicídio em Moçambique também não é crime, tanto para quem o cometa e por arrasto, para quem o ajude nessa empreitada trágica.
Todavia, e perante a insistência governamental em aprovar e executar anualmente um Orçamento de Estado que aposte e priorize a melhoria das estadas, não me admira que um dia, os defensores dos direitos humanos processem o Estado por reiterada tentativa de genocídio.
Estou aqui, desde a semana passada, a vasculhar os meus apontamentos da faculdade para ver onde se encaixa o valor-notícia do espectáculo artístico do arguido Paulo Zucula. Não entendi bem qual era o alcance da notícia. Mostrar que o antigo ministro sabe tocar guitarra? Mostrar que ele faz caridade ensinando outros detentos a dedilhar a guitarra? Mostrar que ele é homem-do-bem? Mostrar que ele é um cara benevolente?
Não apanhei a intenção até agora. Quem convidou a imprensa? Os serviços penitenciários? Os advogados? O próprio "gatuno"? Os familiares?
Está muito difícil para mim entender. Paulo Zucula é um arguido como tantos outros que andam nas prisões deste país. E ele não foi preso porque plagiou uma música de dono. Nem porque roubou uma guitarra. Ele e mais dois comparsas foram indiciados da prática de sobrefaturação num valor estimado em 400 mil dólares. Zucula é acusado de ter aceite subornos enquanto membro do Governo para facilitar a aquisição de duas aeronaves da companhia estatal de aviação. Sem contar também que Zucula é acusado de ter recebido valores que variam entre 135 mil dólares e 315 mil dólares para facilitar a adjudicação de obras do Aeroporto de Nacala, na província de Nampula, à construtora brasileira Odebrecht. Sendo menos poético: Zucula pode ter delapidado o país. Ou seja, é um potencial gatuno. Não é brincadeira, não!
Por isso, eu acho que fazer uma cobertura jornalística pomposa do espectáculo musical de um punhado de prisioneiros liderados pelo antigo ministro é brincar com coisas sérias. É tentar ludibriar o povo, uma vez que até àquele dia Zucula ainda aguardava julgamento. Ainda não tinha sido condenado, e não foi até agora. Aliás, o julgamento começou uns dias depois daquele "show" de bom-moço. Que implicações terá aquela campanha beneficente no julgamento?
E se a moda pega?! E se cada prisioneiro quiser o seu espaço de antena?!
E se a Helena solicitar uma cobertura para mostrar que sabe imitar Zena Bacar? E se as suas colegas de cela pedirem cobertura para mostrarem que sabem "tsovar" como Zaida Chongo? E se o Ndambi quiser mostrar que sabe jogar golf? E se o Rosário quiser mostrar que sabe jogar xadrez? E se o Mazoio quiser exibir que é um grande trompetista? E se o Chang quiser mostrar que é um autêntico Bethoven? E se o Nhangumele quiser mostrar que sabe tocar chocalhos? Quid juris?
Não sei o que os manuais dizem sobre isso. Só sei dizer que existem muitos detentos talentosos, desde artistas plásticos, músicos, atletas até acrobatas. Se antes de cada julgamento, quisermos exibir os dotes de cada arguido teremos de montar um "The Gatuno's Channel" com o orçamento do Estado. Matéria é que não vai faltar. Até Manuel Escurinho fez curso de árbitro na cadeia, era arbítrio do campeonato penitenciário... ninguém mostrou.
E agora, quid juris?
- Co'licença!