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Actualizado de Segunda a Sexta

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sexta-feira, 30 novembro 2018 04:56

Os Partidos nunca erram

Pensamos que acontece apenas com os nossos partidos em Moçambique: mas é uma doença generalizada. Transversal, como se diz no idioma dos que escrevem. Em todo o lado a regra é a mesma: os partidos nunca erram. Podem cometer falhas. Pequenas, sempre. Insuficiências, como dizíamos nos tempos. Mas errar nunca. E porque nunca erram não se sentem nunca obrigados a pedir desculpa. Acreditam os partidos que pedir desculpa os colocaria numa posição de enorme fragilidade. 

sexta-feira, 30 novembro 2018 03:18

A negação da insurgência

Não se sabe com que intenções, o Governo decidiu fazer ouvidos de mercador quando os moçambicanos levantam sua voz contra a insurgência em Cabo Delgado. Na segunda feira, o Ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, ignorou o assunto. No seu discurso na abertura do Conselho Coordenador do Ministério da Defesa ele foi evasivo. Na quarta feira, o porta-voz da PRM, Inácio Dina, perguntado sobre os recentes ataques em Cabo Delgado, não confirmou nem desmentiu. Ele murmurou um ”nim” barulhento. Nem sim, nem não!

sexta-feira, 30 novembro 2018 03:00

A mesma jogada em câmara lenta

A FRELIMO venceu a repetição da eleição decorrida na vila municipal de Marromeu com uma diferença de menos de meia centena de votos em relação à RENAMO. Algumas pessoas andam muito nervosas com isso, e com razão.

Mas eu confesso que não estou nervoso. Posso estar indignado, mas, sinceramente, não estou nervoso. Na verdade, não estou surpreso. É que eu conheço essa jogada. É uma jogada antiga. É a mesma jogada.

quinta-feira, 29 novembro 2018 03:06

Beatriz

Um fogão de três pernas. Um lençol encardido  no quarto. Uma capulana no assento de uma cadeira plástica. Um prato com sobras de arroz e um cabeça de carapau 17. Duas revistas pornográficas. Quatro vibradores. Uma candeeiro de petróleo e duas velas. Um espelho com a marca de um beijo roxo. Uma fotografia da filha querida que ficou na província. Cartas da mãe de Teresa que ficou a cuidar da criança de Beatriz em Anchilo. O solo negro de restos de cinza. A porta aberta para que os clientes não tenham de bater. O corpo inerte de Beatriz. Os vestígios do que sobrou da menina que veio para cidade grande para ser "gente" e acabou se prostituindo para ter o que comer. Uma entre milhares de estudantes que se entregam à vida nocturna da baixa de Maputo.

Beatriz* era uma jovem vulnerável de 21 anos. Vivia só numa casa de caniço à beira da portagem que separa Maputo da Matola. Foi assassinada de madrugada sem a mínima possibilidade de se defender. Beatriz não era conhecida pelos vizinhos: de dia entregava-se aos livros e de noite à profissão mais antiga do mundo. Era uma vizinha anónima. Invisível. Quase um fantasma.

Morreu por uma paragem cardíaca. Assim revelam os resultados da autópsia, que se conheceram 15 dias depois que foi encontrada sem vida. A autópsia conclui que a rapariga sofreu uma paragem por conta da perfuração de um objecto pontiagudo no ventrículo esquerdo. "Com toda probabilidades, sofreu tonturas por falta de oxigénio", lê-se no documento que foi entregue, na impossibilidade da mãe fazer-se presente, aos colegas da faculdade.

A vida da jovem era feita literalmente entre quatro paredes. Golpeada pela precariedade, vivia alheia ao dinamismo das ruas normais de Maputo, a maior cidade do país.

A polícia afasta qualquer hipótese de investigar a situação. Em voz baixa dizem que Beatriz teve o que mereceu e que a sua condição de prostituta retira-lhe o direito de ser cidadã.

Viveu anónima e morreu anónima. Numa vala comum e sem cumprir a promessa de dar o que não teve a pequena Júlia. A filha que teve com Manuel.

Moçambique actual é palco e laboratório social à moda da Chicago School, isto é, é a grande peça teatral onde várias personagens desempenham os seus papéis, mascarados e mascaradas. Esta radiogradia não deve ser percebida e analisada fora do ethos comportamental e percepcional dos grupos. Ou melhor, o que significa para os grupos o que consumimos diariamente através das redes sociais?

Até o final do dia de hoje (25 de Novembro), cinco mulheres terão morrido nas mãos de um parceiro íntimo, e dezenas terão sido estupradas, mutiladas e agredidas. Temos que encarar os fatos: a violência contra as mulheres é endêmica e pode - e deve - ser equiparada à guerra. As mulheres mortas em incidentes de violência com base no género devem ser consideradas vítimas da guerra e as que foram feridas - física ou emocionalmente - devem ser consideradas sobreviventes da guerra. Os números nos dizem que somente quando mudamos nossa mentalidade para reconhecer esse estado de coisas, a extensão da violência baseada no gênero que as mulheres enfrentam diariamente pode ser confrontada e tratada.

As estatísticas são grosseiras. As Nações Unidas estimam que, globalmente, 35% das mulheres sofreram alguma forma de violência física ou sexual, chegando a 70% em certas regiões. Então, quando começamos os 16 Dias de Ativismo para a Não Violência Contra Mulheres e Crianças, precisamos admitir que, confrontados com a escala do problema, 16 dias por ano não é suficiente. Todos os dias devem ser um dia de ativismo contra a violência baseada em gênero. E todo sul-africano precisa fazer parte do esforço para reduzir e, eventualmente, eliminar esse flagelo, tanto em casa quanto no exterior.