Ainda continua em silêncio o Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), em relação ao caso das 15 instruendas engravidadas pelos seus instrutores, no decurso do XL curso básico da Escola Prática da Polícia, em Matalane, distrito de Marracuene, província de Maputo.
O caso, tido como o “clímax” das irregularidades cometidas naquela unidade de formação, veio a público semana finda, após “vazar”, nas redes sociais, um despacho do Gabinete do Comandante-Geral da PRM, datado de 28 de Julho, no qual Bernardino Rafael anunciava, entre outras decisões, a instauração de processos disciplinares contra os instrutores que engravidaram 15 instruendas.
“Carta” conversou com alguns inspectores de saúde da Escola Prática da Polícia, que asseguraram ter identificado 28 instruendas grávidas (e não 15), porém, três interromperam a gestação.
À nossa reportagem, as fontes contaram que tudo começou no mês de Maio (dois meses após o início da formação), quando uma das instruendas deu à luz, no interior de uma mata, devido ao medo que tinha de ser descoberta pela direcção da Escola. O filho não resistiu e perdeu a vida no local, porém, porque o serviço de parto sempre necessita de assistência médica, esta recorreu ao Centro de Saúde da EPP para ser feita os pontos, facto que despertou atenção da inspecção médica daquele centro de instrução básica da Polícia.
Assim, narram as fontes, a Inspecção Médica voltou a submeter as instruendas aos exames médicos, tendo constatado que mais 27 candidatas às fileiras da PRM estavam grávidas, sendo que 18 tinham contraído HIV/SIDA. As fontes sublinharam cinco gestantes (incluindo a que deu à luz em Maio) ingressaram na Escola Prática já grávidas, porém, o facto não constava dos seus processos médicos.
Questionadas, pela “Carta”, como foi possível admitir-se gestantes à formação básica da Polícia, as fontes afirmaram que “tudo é possível” na corporação. Apontam as “negociatas” como sendo responsáveis pela admissão de candidatos inelegíveis àquela actividade, seja entre os candidatos do sexo masculino, assim como do sexo feminino.
De acordo com as fontes, grande parte dos admitidos àquela formação são inelegíveis, tanto do ponto de vista físico (alguns não preenchem os requisitos de altura exigidos), assim como do ponto do vista psicológico, porém, “o dinheiro fala mais alto no momento da decisão”. A situação, asseguram, não só se assiste na Escola Prática da Polícia, mas também na Academia de Ciências Policiais (ACIPOL) e nos centros de instrução básica militar.
Entretanto, entre os inelegíveis, as mulheres acabam sendo as mais afectadas, pois, durante a formação são obrigadas a manter relações sexuais com os seus instrutores, como forma de evitar exercícios tidos como “pesados”. Outras, asseguram as fontes, chegam a não frequentar o campo do treino, terminando apenas na cozinha. Nestas situações, contam, as instruendas são ensinadas apenas a manipular armas, baionetas e como proceder durante a parada militar. Enquanto isso, as instruendas consideradas “feias” são alvos de humilhação e maus tratos por parte dos instrutores.
Referir que as instruendas deixaram a Escola Prática da PRM, em Matalane, no passado dia 03 de Agosto, sendo que as mesmas irão regressar, no próximo ano, para jurar a bandeira. As mesmas são provenientes da Cidade de Maputo e províncias de Tete, Manica e Zambézia.
No despacho posto a circular, Bernardino Rafael decidiu suspender, imediatamente, os instrutores que engravidaram as instruendas e interditá-los de entrar no recinto da Escola Prática de Matalane. Entretanto, uma das fontes avançou que uma das medidas a ser tomada é descontar o salário dos instrutores até que os filhos completem 21 anos de idade. Não se sabe se há casadas entre as instruendas.
O Presidente da Associação dos Polícias de Moçambique, Nazário Muananbane, exigiu, em entrevista à STV, esclarecimentos públicos do Comando-Geral da Polícia sobre o assunto, de modo a não haver “más interpretações” em torno da Escola Prática da PRM, em Matalana. (Omardine Omar)