A petrolífera Total disse hoje que o projeto de gás natural em Moçambique continua dentro do prazo e que as obras de construção devem recomeçar este trimestre, depois de a violência na região ter suspendido os trabalhos.
“Não é por termos parado durante dois ou três meses que não podemos atingir a meta de 2024”, disse o presidente executivo da empresa, Patrick Pouyanne, durante a conferência de imprensa de apresentação dos resultados de 2020.
As obras em terra estão suspensas, mas a parte de engenharia está a progredir rapidamente e o trabalho ao largo da costa continua, acrescentou o responsável, em declarações citadas pela agência de informação financeira Bloomberg, nas quais disse que foi alcançado um acordo para garantir a segurança da área das obras na região norte do país.
A responsabilidade sobre a segurança na área cabe ao Governo, disse Pouyanne, acrescentando que existe um plano para mobilizar forças para a região de forma a controlar um perímetro de pelo menos 25 quilómetros, mas que o ideal seria que toda a província de Cabo Delgado estivesse segura.
O projeto Mozambique LNG inclui, além da francesa Total, a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, a Mitsui, Videsh, PTT Exploration & Production, Bharat Petroleum e Oil Índia.
Vários analistas têm afirmado que com as atuais condições de insegurança na região o projeto dificilmente conseguirá começar a exportação de gás natural em 2024.
Pouyanne disse que devia haver cerca de 10 mil trabalhadores no local, mas atualmente são menos de mil os colaboradores da Total que estão no estaleiro.
A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
Algumas das incursões de insurgentes passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019.
A Total apresentou na terça-feira prejuízos recorde de 7.242 milhões de dólares (5.983 milhões de euros) no ano passado, um “ano de transformação” para reorientar-se para novas energias, contra lucros de 9.312 milhões de euros no ano anterior.
Este resultado da petrolífera francesa foi causado pelos efeitos negativos da pandemia de covid-19 na atividade económica e pela queda histórica do preço do petróleo, justificou a Total em comunicado.
O presidente executivo da Total, Patrick Pouyanne, vai propor na assembleia-geral de acionistas, em maio deste ano, que o grupo petrolífero seja alterado e se passe a chamar TotalEnergies, para simbolizar a abertura às novas fontes de energia, inclusive as renováveis, no âmbito da sua estratégia de procurar uma política de neutralidade em relação às suas emissões poluentes.
Ao longo desta década, a Total apostará mais no gás natural e nas energias renováveis, enquanto o petróleo constituirá, em 2030, apenas 30% da sua atividade, contra os 55% atuais.
O presidente executivo da Total realçou ainda que na reta final do ano passado, o preço do petróleo estabilizou em torno de 40 dólares o barril, graças à disciplina dos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). (Lusa)