“Não basta prender o ‘peixe miúdo’, nem deve haver intocáveis neste processo”, afirmou o presidente da Renamo, Ossufo Momade, quando através de uma teleconferência a partir da Serra de Gorongosa dava a sua opinião sobre as detenções a que se tem assistido desde a semana finda em Maputo, de indivíduos supostamente implicados no escândalo das “dívidas ocultas”.
Para o líder do maior partido da oposição em Moçambique, todos os envolvidos no calote devem ser recolhidos à cadeia “porque os moçambicanos exigem que a lista daqueles que planearam e executaram o roubo ao Estado Moçambicano deve envolver os graúdos, sem contemplações”.
A não permissão da entrada dos jornalistas nas salas onde os detidos são ouvidos também mereceu uma forte crítica por parte de Ossufo Momade, apesar de ser um imperativo plasmado na lei. “Estamos todos atentos à situação actual do nosso país, onde nos últimos tempos assiste-se a um teatro de prisões e audições até aos sábados, com a imprensa sem poder exercer a sua actividade, sinal grave da falta de credibilidade do sistema de justiça que foi capturado pelo poder político do regime”, afirmou o timoneiro da “perdiz”.
Não interferência do Presidente da República
Nesta fase em que decorre o processo de detenções, no qual poderão estar envolvidos mais membros do partido Frelimo e não só, Momade apelou ao Presidente da República para não interferir. O Presidente da Renamo é de opinião que o partido no poder, liderado por Filipe Nyusi, está fortemente associado aos roubos que ocorreram relacionados com as ‘dívidas ocultas’. Para efeitos de esclarecimento, apelou para não qualquer interferência nos órgãos da justiça e, por conseguinte, que sejam entregues todos os envolvidos.
Devolução dos bens usurpados
Momade também defendeu uma linha de pensamento que começa a ser predominante entre a opinião pública, que é da devolução, pelos envolvidos no caso das ‘dívidas ocultas’, dos bens usurpados. “É preciso que os prevaricadores sejam responsabilizados criminalmente, e que devolvam o dinheiro roubado”, afirmou.
Questionando os passos seguidos pelas estruturas judiciais após as detenções, Momade Ossufo disse que esperava que não servissem apenas para enganar os cerca de 28 milhões de moçambicanos, numa tentativa clara de ‘branquear’ o já obsoleto regime.
Terrorismo em Cabo Delgado
Momade Ossufo manifestou a sua indignação face ao cenário que se vive em Cabo Delgado, sublinhando que as mortes continuam a ocorrer “e o Governo, na pessoa do Ministro da Defesa Nacional, diz que a situação está controlada”. O líder da Renamo questionou se “a situação está controlada quando os cidadãos são assassinados e cortados aos pedaços à luz do dia?” Para Momade, desde há muito tempo que as Forças de Defesa e Segurança mostram-se incapazes e desnorteadas para travar a onda de “terrorismo” em Cabo Delgado. Acrescentou ser urgente que as FDS se concentrem em estratégias e inteligência que contribuam para estancar os actos macabros que estão acontecendo em Cabo Delgado, onde cidadãos indefesos são agredidos. (S.R.)