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sexta-feira, 22 fevereiro 2019 06:02

Munhava: um bairro onde a ‘sentença’ é ditada pelos residentes

Munhava, na capital provincial de Sofala, é exemplo eloquente de locais em Moçambique onde a justiça é feita ‘pelas próprias mãos’ da população, com recurso à violência. Munhava é um bairro famoso e popular no centro da Beira, sendo também o maior círculo eleitoral da cidade. Aparentemente nenhum ladrão se atreve a entrar na Munhava com ideias próprias da sua vocação, pois sabe de antemão que ali a sentença popular é implacável: espancamento seguido de linchamento! São os próprios residentes de Munhava que compõem o tribunal local. O nosso jornal soube de alguns residentes daquele bairro que por vezes os automobilistas não imobilizam os seus carros no semáforo local, mesmo que o sinal esteja vermelho, com receio de um eventual assalto e espancamento.

 

 “Ninjas” são jovens desempregados

 

Os “ninjas” que operam no bairro de Munhava e arredores são predominantemente jovens adolescentes desempregados que prematuramente abandonaram a escola. “São miúdos que roubam e espancam sem dó nem piedade”, disse uma residente dos arredores de Munhava. Para além de ser fértil em roubos, espancamentos, linchamentos e problemas de saneamento, o bairro de Munhava é conhecido como propenso a casos de violência sexual contra menores. Em Janeiro último, segundo informações que nos foram facultadas, um homem de 39 anos de idade forçou uma rapariga de 14 a manter relações sexuais com ele. Mas foi o assassinato de um menor de dez anos por um agente da PRM, em 2017, que deixou marcas entre os residentes do bairro Munhava.

 

A outra face do bairro

 

Para além do seu lado negativo, Munhava é palco de coisas boas. Os jovens com melhor comportamento dedicam-se a diversas actividades que contribuem para o desenvolvimento do bairro e, consequentemente, o seu crescimento. Muitos desses jovens viram-se forçados a enveredar pelo ‘empreendedorismo’ como forma de contornar o desemprego que afecta o grosso da população de Munhava e de outros bairros periféricos da Beira em idade activa.“Aqui nós fazemos muitos negócios. Isso tudo porque não temos emprego. Parece que só nos prometem emprego quando é hora de voto”, desabafou um jovem proprietário de uma serralharia no Munhava.

 

A torre alta do FIPAG funciona como uma espécie de antena que põe Munhava em contacto com a Beira e toda a gente! “Essa torre é o sinal do nosso bairro. Quem vem à Beira e vê a torre recorda-se logo de Munhava”, disse o jovem empreendedor. (S.R., na Beira)

 

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