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BCI
domingo, 10 março 2019 14:05

Cheias no Rovúbuè eram previsíveis, mas ninguém lançou o "alerta vermelho"

As cheias nas margens do rio Rovúbuè (nas regiões de Matemo e Chingodzi) em Tete, na madrugada do dia 8, na sexta-feira, eram previsíveis, mas ninguém lançou qualquer alerta, apurou “Carta” de especialistas do sector hidrológico nacional. No passado dia 7 de Outubro, o Boletim Hidrológico (produzido pela Ara-Zambeze) referente ao dia anterior (6), indicava que tinha havido chuvas acima do anormal nas regiões mais a norte de Tete, em Tsangano e Angónia, com uma queda pluviométrica de 100 milímetros. Com esse nível de precipitação, disse uma especialista, era previsível que a bacia do Rovúbuè haveria de inundar, desalojando dezenas de pessoas e destruindo casas de construção precária.

 

Mas ninguém se mexeu para alertar às pessoas, que construíram residências numa zona propensa a inundações. Por regra, as autoridades governamentais deviam ter convocado um Conselho Técnico ligado à gestão de emergência. O que aconteceu foi o que se viu. Na madrugada do dia 8, todo o mundo foi apanhado de surpresa quando passava pouco depois da 1 hora da manhã. A descarga de chuvas nas regiões de Tsangano e Angónia tinha sido tão forte, mas ela por si só não seria suficiente para inundar na bacia do Rovúbuè até encobrir tetos de várias casas. Houve algum contributo da Hidroeléctrica de Cahora Bassa(HCB)”, sugere outro especialista contactado. A HCB ainda não fez qualquer pronunciamento. “Carta” não conseguiu ouvir fonte oficial da empresa.

 

Mas fontes internas, não oficiais, disseram que a HCB começou a efectuar descargas há cerca de duas semanas, quando sua capacidade de encaixe atingiu os 99%. A HCB estava a libertar 3 mil metros cúbicos por segundo, antes de acontecer o descalabro no Rovúbuè. Quando no final da manhã do dia 7, o alarme de cheias dada pelo boletim hidrológico foi enviado para a HCB, já era tarde. “Carta” apurou que a HCB, ao receber a informação da Ara-Zambeze, tratou de encerrar suas comportas.

 

O problema é que o impacto do encerramento das comportas no Songo (onde se localiza a hidroeléctrica) atinge a zona de Tete apenas 24 horas depois. Esse é o tempo de duração de uma onda de caudal que saia da barragem para Tete. Ou seja, na noite do dia 7, a massa de água que tinha sido absorvida pelo Rovúbuè, vinda dos vários riachos do norte, tentava entrar no Zambeze, onde o Rovúbuè desagua, mas não fluía por que o rio já vinha carregando grandes caudais da montante, provocando a inundação. 

 

A madrugada do dia 8 foi o pico, com um enorme pano de fundo de destruição. Mas não é a primeira vez que as inundações acontecem nas regiões baixas de Matemo e Chingodzi. Habitantes de Tete recordam-se de ter havido cheias com as mesmas características na mesma região em 2014 mas ninguém foi afectado. Nos últimos anos, as autoridades municipais de Tete fizeram vista grossa à construção desenfreada no local, ondem nasceu uma superpovoada zona suborna, num misto de laxismo e corrupção. Por outro lado, um Plano Nacional de Gestão de Recursos Hídricos, elaborado pelo Governo em 2015, com o objectivo de melhorar a gestão de bacias hídricas em Moçambique, foi posto na gaveta. O Ministro das Obras Publicas, Recursos Hídrico e Habitação, João Machatine deslocou-se a Tete hoje para se inteirar da situação. É provável que tente perceber porque é que ninguém mobilizou as populações para retirarem-se das zonas de risco diante de uma forte probabilidade de inundações. (Carta)

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