Corpos mal conservados, alguns deles espalhados pelo chão, parturientes que perdem a vida na sala de espera, bebés recém-nascidos que só sobrevivem poucas horas, eis o chocante cenário que se assiste no Hospital Central da Beira (HCB), desde a madrugada do dia 14 de Março. E parte do seu laboratório está danificada. O número de doentes continua a disparar. Uma solução de atendimento alternativo que o HCB encontrou foi a de disponibilizar ‘kits’ com material para primeiros socorros, permitindo que os feridos tratem das mazelas por si mesmos, descongestionando o hospital.
A penosa situação a que estão sujeitos os pacientes no Hospital Central da Beira, é caracterizada por Felipe Danúbio, Director do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), como um “um verdadeiro caos”. Acrescentou que isso deve-se ao elevado número de feridos que chegam a cada minuto, razão por que neste momento o HCB está a ‘rebentar pelas costuras’.
No tocante à conservação de corpos, Felipe referiu que o CICV solicitou a colaboração de um especialista sul-africano em medicina forense, para trazer uma quantidade considerável de medicamentos usados para conservar corpos, apoiando assim as equipas dos Médicos Sem-Fronteiras que se encontram na Beira.
Quanto à quantidade de óbitos, ele disse que essa era uma situação inevitável por causa da fase de agitação em que o Hospital se encontra. Com os centros de saúde fechados, todos os doentes confluem ao HCB, praticamente a única unidade hospitalar em funcionamento, com a ajuda de um gerador. O ciclone IDAI deixou sequelas profundas na estrutura física do Hospital Central da Beira.
E a moral do pessoal médico que lá trabalha está em baixa, disse-nos um funcionário. Eles também foram vítimas e precisam de apoio psicológico. Danúbio diz que no Hospital Central da Beira faltam recursos humanos e medicamentos. O HCB é único capaz de dar resposta aos milhares de afectados, nomeadamente um excessivo número de feridos, para além dos doentes lá internados sofrendo das mais diversificadas enfermidades. (Marta Afonso)