Mais de 200 famílias dos quarteirões 68, 69 e 72 do bairro da Machava Socimol, na província de Maputo, consomem água imprópria desde a última época chuvosa, situação causada por algumas fugas existentes no furo da água. As fugas fizeram com que o precioso líquido se misturasse com água de chuvas e de algumas fossas. A situação é crítica visto que o furo foi feito numa área propensa a inundações e com várias latrinas precárias ao redor e, sempre que cai a chuva, a água sai turva nas torneiras.
Segundo o chefe do quarteirão 68, Carlos Afonso Inácio, local onde está implantado o furo, tudo começou quando o fornecedor teve alguns problemas na bomba e mandou os seus funcionários para consertar e estes acabaram deixando uma fuga que permitiu que as águas pluviais se misturassem com a do furo, o que fez com que a água ficasse negra.
Inácio explica que, depois da ocorrência, alguns residentes pediram para que o fornecedor resolvesse o problema e como este sempre prometeu, mas sem cumprir, denunciaram-no à Autoridade Reguladora de Água (AURA) que se fez ao local e recolheu algumas amostras. A AURA alertou o fornecedor para a necessidade urgente de fazer limpeza, bem como a suspensão do fornecimento do precioso líquido à população por se tratar de água imprópria para consumo.
De acordo com o Chefe do quarteirão, o fornecedor acatou, fez a limpeza, rectificou o local onde o furo tinha fugas e pediu a AURA para retirar uma nova amostra. De seguida, a autoridade reguladora visitou uma vez mais o local e constatou que já tinha sido feita a limpeza, mas aconselhou o fornecedor a não retomar o fornecimento porque a mesma não tinha atingido um nível desejado para o consumo. Entretanto, o fornecedor acatou e suspendeu o fornecimento da água por um período de três meses, mas na semana finda, e desafiando a AURA, o fornecedor retomou o abastecimento da água sem autorização da entidade competente, perigando a vida dos consumidores.
“Na semana passada fiquei surpreso quando vi água saindo nas torneiras, contactei o fornecedor e disse que tomou a decisão de reabrir porque a população pediu e porque eles querem começar a emitir facturas. Muitos de nós usamos essa água para casa de banho, lavar a roupa e para consumo. Então optamos por tirar água nos quarteirões vizinhos que usam a água do FIPAG. Tentamos várias vezes pedir ao FIPAG para colocar água para estas famílias que estão a passar mal, mas eles responderam que não podiam porque não tem material para fazer novas ligações e que estavam à espera de um doador que pudesse financiar a aquisição do material”.
Perante este cenário, "Carta" contactou o fornecedor da “água Gawatt”, por sinal um dos maiores fornecedores privados na cidade e província de Maputo para perceber o que estava a acontecer. Em conversa com Damião António, representante da Gawatt na área da Machava, contou-nos que os clientes ficaram privados de água por três meses e começaram a ligar para pedir que voltássemos a fornecer este precioso líquido pelo menos para usarem na casa de banho ou para lavar roupa e loiça. Entretanto, reconhece que a Gawatt retomou o fornecimento da água antes de ter os resultados das amostras retiradas pela AURA.
Para além de fornecer água turva, a Gawatt abastece o preciso líquido através de um furo que usa um sistema de ligação eléctrica que periga a vida da população à volta da infra-estrutura, principalmente da senhora que vive na casa onde o furo está implantado, por sinal deficiente. No entanto, sobre esta questão, Damião António disse à “Carta” que já reportou ao seu patrão para que se troque aquele tipo de ligação e o mesmo prometeu resolver o problema.
Em contacto com um dos representantes da AURA que preferiu não se identificar porque a conversa ocorreu ao telefone (visto que o mesmo se encontra fora da província de Maputo), este garantiu que a Autoridade Reguladora de Água esteve no local várias vezes, retirou amostras antes e depois da limpeza e aconselhou o proprietário a não fornecer água à população por ser imprópria para o consumo.
“Na última visita que fizemos à “água Gawatt” recomendamos o fornecedor a não distribuir água e que continuasse com a limpeza até que a mesma se tornasse potável. Tratamos ainda de enviar esta informação por escrito através de uma carta que os mesmos se recusaram a receber, sendo que neste momento estamos a tratar o assunto junto das instâncias judiciais de forma a disciplinar o regulador e interditá-lo de fornecer água que periga a vida das pessoas.
“Carta” contactou ainda o Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG) para perceber as razões da recusa de fazer novas ligações neste bairro. No primeiro momento, falamos com o porta-voz da instituição que disse que não era a pessoa indicada para responder a esta inquietação, no entanto, recomendou-nos que contactássemos o Assessor de Comunicação da instituição, para que nos pudesse indicar a pessoa para falar a respeito do assunto, mas até ao fecho desta matéria e depois de várias ligações não atendeu a nenhuma e nem retornou. (Carta)