Depois do mal-entendido registado na segunda e terça-feira, as alunas muçulmanas na escola secundária da Catembe, na cidade de Maputo, já foram autorizadas a entrar na sala de exames com lenço, em cumprimento do ritual religioso. O caso deu-se com as alunas que pretendiam realizar exames da 10ª classe.
Inicialmente, as alunas muçulmanas foram impedidas pelo director daquele estabelecimento de ensino, Luís Rongo, de entrar na sala de exames com lenço, uma medida que gerou um ambiente de tensão nos últimos dois dias.
Mesmo aos prantos por considerarem a medida contrária aos preceitos religiosos, o director arrancou o lenço das cabeças das alunas, depois destas entrarem na sala, alegando que “Allah o iria perdoar”.
Na ocasião, o director teria dito às alunas que, apesar do decreto ministerial permitir que estas se façam à sala de aula com lenço na cabeça, não podiam pôr durante o período de exames porque podiam usar para esconder as suas cábulas.
“Tudo começou quando um grupo de inspectores que presumimos que sejam da Direcção da Educação da Cidade de Maputo entrou em algumas salas de aulas e se apercebeu que algumas de nós tínhamos lenço na cabeça e deu ordem ao director da escola para nos retirar da sala".
O grupo de alunas muçulmanas recusou tirar o lenço e tentou explicar que aquilo era bastante pesado para elas, visto que a religião muçulmana impõe isso.
“Mesmo no meio de choros, o director não se importou, arrancou o lenço das nossas cabeças e foi jogar bem próximo dos baldes de lixo e só usamos à nossa saída. Já em casa, expliquei a minha irmã o que aconteceu e ela disse-me que não havia necessidade do director fazer isso, era só ordenar que fôssemos à casa de banho com algumas professoras para nos revistarem, o que não aconteceu”, contou uma das alunas.
“Tirar-nos o lenço é como se nos tivessem a tirar a nossa roupa. Essa situação deixou-nos envergonhadas porque nunca mostramos nossas cabeças a estranhos. Nós não tiramos o lenço mesmo perante os nossos primos, mas o director obrigou-nos a tirar perante os nossos colegas”.
As queixosas dizem que essa atitude não agradou aos pais e ao Conselho Islâmico que acabaram se dirigindo à escola para protestar, o que gerou uma confusão com o director que nesta quarta-feira (29) acabou permitindo que as alunas muçulmanas entrassem na sala com lenços.
“Hoje permitiram-nos entrar com os lenços, mas obrigaram-nos a não tapar as orelhas, alegando que podíamos esconder algum dispositivo. Ainda nesta quarta-feira, alguns professores obrigaram-nos a tirar o brinco do nariz, o que não aconteceu porque não conseguimos abrir”.
Entretanto, a nossa reportagem soube ainda que a escola proíbe o uso de camisolas durante o período de exames, alegando que pode ser uma artimanha para esconder a cabula.
Tentamos ouvir a reacção do director da escola para perceber o que aconteceu, mas tal não foi possível, porque uma funcionária que se encontrava na sua sala impediu-nos, alegando que durante o período de exames a direcção não pode falar à imprensa.
Depois de várias insistências, a mesma funcionária, que não se quis identificar, quase nos escorraçou e optou pelo silêncio. (M.A)