O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) apresentou esta segunda-feira (23) dois indivíduos, um dos quais funcionário do Instituto de Bolsas de Estudo (IBE), detidos por indícios de prática de crimes de burla, associação criminosa e corrupção, envolvendo estudantes no acesso a bolsas de estudos.
O anúncio ocorre quinze dias após cerca de 90 estudantes moçambicanos terem sido excluídos de instituições em Portugal, supostamente por culpa das autoridades (ou seja, por alegada rejeição das suas inscrições devido a falhas no sistema informático no momento do envio das candidaturas).
Segundo o porta-voz do SERNIC na cidade de Maputo, Hilário Lole, as autoridades receberam uma denúncia do Instituto de Bolsas de Estudo, relatando a existência de indivíduos que se dedicavam à cobrança de valores a candidatos a bolsas de estudo para várias universidades no continente africano e na Europa.
Os dois indivíduos aliciavam pessoas que tinham deficit de documentos ou que haviam sido reprovadas por diversas razões, extorquindo valores para em troca facilitar a aprovação ou acesso a outras bolsas, em diferentes países.
De acordo com Hilário Lole, os indivíduos cobravam valores que variavam entre 30.000 e 80.000 meticais para falsificar documentos e conseguir a concessão de bolsas. Até ao momento, cinco vítimas foram identificadas e algumas já haviam efectuado pagamentos.
O SERNIC continua a fazer diligências para localizar outros três indivíduos envolvidos no esquema de burla de bolsas de estudos. Falando à imprensa, o funcionário do Instituto de Bolsas negou as acusações que pesam sobre ele, afirmando que são falsas, até que a investigação prove o contrário. "Portanto, não reconheço a existência de qualquer acto de venda de bolsas a estudantes", disse.
Quanto ao crime de cobrança de valores a estudantes, o funcionário nega a acusação e declara ser inocente. Por outro lado, alguns pais das vítimas mostraram-se surpresos ao ver o funcionário do Instituto Nacional de Bolsas detido pelo SERNIC e explicaram que a situação só foi desencadeada após a reunião com a Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano.
"Várias vezes tentamos um encontro com a directora do IBE, mas ela não fez nada. Só se preocupou depois que nos reunimos com a Ministra. Talvez, após estas detenções, o sonho dos nossos filhos de estudar no exterior se realize", disse o representante dos pais.
Este é o terceiro escândalo envolvendo o IBE neste ano. Em fevereiro último, lembre-se, 36 estudantes com destino ao Brasil quase ficaram impedidos de viajar devido a uma falha na comunicação entre as partes, que os levou a acreditar que a sua viagem seria financiada pelo Estado.
Outro incidente ocorreu no início deste mês, quando 90 estudantes moçambicanos foram excluídos de uma universidade em Portugal, alegadamente, por falhas no sistema informático no acto de envio das candidaturas. (M.A.)