Definitivamente batemos no “fundo do poço” em termos de gestão de comunicação no sector do Estado. Essa crise de gestão que afecta várias instituições públicas e atingiu também o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), que não consegue desembolsar 100 USD (correspondentes a 6.358,62 Mts ao câmbio do dia) para pagar uma taxa anual de hospedagem do seu website (www.stae.org.mz).
Em contrapartida, a instituição vive de orçamentos bilionários. E para este ano está a pedir ao Tesouro 14.6 mil milhões de Mts. Mas não consegue manter uma página de internet, essencial para a sua comunicação com a sociedade. A falta de pagamento, que se verifica desde o início do ano, fez com que o Centro de Informática da Universidade Eduardo Mondlane (CIUEM), instituição responsável pela hospedagem do website daquela organização desativasse a plataforma, que também serve à Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Agora, tanto a CNE como o STAE estão há quase cinco meses fora da internet, depois de se terem mantido activos, nesta plataforma, durante as eleições autárquicas de 2018. Aliás, os motores de busca, na internet, já não reconhecem o website do STAE, apenas as notícias associadas à instituição.
Em conversa com “Carta”, o porta-voz do STAE, Cláudio Langa, minimizou a situação, alegando ter havido uma “distração” por parte daquele órgão eleitoral, a qual ditou a não renovação do contrato com o provedor da hospedagem.
“Questões administrativas estão na origem do problema. Transitamos para um novo ano e ficamos concentrados nas actividades deste ano, sob ponto de vista financeiro. Dentre as várias renovações contratuais, distraímo-nos e não renovamos o contrato com a CIUEM (o contrato expirou em Dezembro)”, disse Langa, garantindo que, neste momento, estão a finalizar o processo e esperam contar com a página “no ar” dentro de uma semana e meia.
“Não tem nada a ver com outras razões, foram motivos de índole administrativa”, reiterou a fonte, sublinhando não ter sido a falta de dinheiro que impediu aquele órgão eleitoral de renovar o contrato. Ou seja, o STAE tem dinheiro para a rubrica, mas distraiu-se e não paga. “O valor não é tão alto. Penso que não supera os 200 mil Mts”, afirmou o porta-voz do STAE, mostrando um ar “tranquilo” em relação à situação.
Entretanto, dados colhidos pela “Carta” indicam que a taxa anual de hospedagem dos websites, no CIUEM, é de 100 USD, havendo até páginas cuja taxa é mais baixa. Por sua vez, o domínio (org.mz) usado pela entidade responsável pela gestão do processo eleitoral custa, por ano, 959 Mts. Ou seja, os dois serviços juntos custam menos de 10 mil Mts.
Por sua vez, o Moz Domains, outro provedor de “páginas online”, em Moçambique, cobra, por ano, 4.320 Mts pelo pacote básico, 8.640 Mts pelo pacote prémio e 11.520 Mts pelo pacote Negócio, que é o mais caro.
Apesar desta situação, Cláudio Langa garantiu que o STAE ainda continua presente noutras plataformas, nomeadamente nas redes sociais o Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp (para partilha de informação com jornalistas), de modo a manter o público informado. Segundo fontes da “Carta”, o caso está a criar problemas na acreditação dos observadores do processo de Recenseamento Eleitoral, que decorre em todo o país até ao próximo dia 30 de Maio.
No entanto, Cláudio Langa nega que a situação tenha afectado o sistema de acreditação, pois, “quando apercebemo-nos da situação, desenvolvemos uma plataforma mais acessível, quer da gestão dos conteúdos que colocamos na página, quer também do ponto de vista interno”, pelo que, “estamos a usar esta plataforma para a acreditação”.
“Portanto, sob ponto de vista técnico, não está a ter nenhum impacto”, garantiu a fonte, acrescentando que as organizações da sociedade civil que estão a acompanhar o processo é que têm submetido, de forma tardia, os pedidos de acreditação.
Lembre-se que durante o período das eleições autárquicas, a “página web” do STAE esteve activa, tendo sido fundamental para a localização correcta das Assembleias de Voto por parte dos eleitores. Porém, não teve a mesma utilidade durante a contagem e divulgação dos resultados, tendo divulgado resultados de algumas autarquias e deixado outras de fora. Também chegou a estar indisponível, com o argumento de que a página estava em manutenção. (Abílio Maolela)