Os Serviços de Informação e Segurança do Estado de Moçambique (SISE) pediram ao governo da cidade de Maputo para mapear mesquitas, na sequência da violência armada que assola a província de Cabo Delgado, zona com forte influência islâmica. "O SISE pediu-nos para mapear mesquitas por causa da ação criminosa e bárbara que se passa em Cabo Delgado, mas viu-se que [a violência] não tem nada a ver com motivos religiosos", afirmou hoje, em declarações à Rádio Moçambique, o diretor da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos da Cidade de Maputo, Cosme Nyusi.
O responsável não entrou em pormenores sobre o mapeamento das mesquitas, mas adiantou que depois do trabalho feito junto dos líderes e fiéis muçulmanos, as autoridades começaram um processo de identificação de todas as confissões religiosas que operam em Maputo, como medida de acompanhamento do seu trabalho na capital. A ação, que continua, foi motivada pelo aumento exponencial de confissões e seitas religiosas em Moçambique, um fenómeno que tem sido acompanhado por práticas consideradas ilegais e inconstitucionais.
O trabalho permitiu a identificação de cerca de 30 confissões religiosas em situação ilegal nos sete distritos municipais de Maputo, encontrando-se cerca de 300 numa situação regularizada. "A ação do Estado não é controlar como é vivida a fé, porque o Estado é laico, mas acompanhar a legalidade da sua atuação", enfatizou.
Sobre o assunto, o diretor da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos da Cidade de Maputo adiantou que o Governo moçambicano está a preparar uma proposta de lei sobre liberdade religiosa e de culto, que vai reforçar o papel moralizador da igreja e o exercício da fé dentro da Constituição e da lei.
O futuro diploma vai intensificar a exigência de formação teológica dos líderes religiosos e definir balizas sobre as doações dos crentes. A província de Cabo Delgado, norte do país, palco de uma intensa atividade de multinacionais petrolíferas que se preparam para extrair gás natural, tem sido alvo de ataques de homens armados desde outubro de 2017 e que já provocaram mais de uma centena de mortos e feridos.
O Governo moçambicano tem apresentado versões contraditórias sobre a violência na região, tendo apontado motivações religiosas associadas ao islamismo em vários momentos, mas também a relacionada com garimpeiros. Recentemente, um suposto ramo do Estado Islâmico reivindicou ter matado vários militares moçambicanos em Cabo Delgado durante um confronto, mas essa ação nunca foi confirmada pelas autoridades. (Lusa)