"Se os muçulmanos começarem a sentir-se discriminados, numa situação em que uns são tratados como filhos e outros como enteados, uns são perseguidos e outros são tolerados, então isso pode criar um descontentamento, o que é mau para a democracia em que tudo se baseia no voto", acrescenta.
A importância da igualdade de tratamento
O Estado moçambicano é laico. Há várias religiões e os seus crentes convivem há séculos em plena harmonia. Um maior controlo às actividades da comunidade muçulmana, em especial, não seria o acender do rastilho para o surgimento de tensões religiosas ou inter-religiosas no país, até agora isento disso? Hortêncio Lopes, sociólogo, responde: "É preciso sempre acautelar. O facto de visarem uma determinada comunidade religiosa poderá também fazer ascender alguma tensão entre essa comunidade e outra, achando que está a ser discriminada ou que existe alguma exclusão".
O sociólogo recorda que o Estado, até agora, não interfere muito nas actividades religiosas, não deixando, contudo, de fazer a fiscalização das igrejas. Entende, entretanto, que neste âmbito, deve fazê-lo igualmente a outras igrejas.
Por outro lado, há a crença de que o Governo esteja a sofrer pressões externas para um maior controlo à comunidade muçulmana ou mesquitas. Sobre esta possibilidade, o líder religioso sublinha que a consciência política no país é hoje muito elevada, não cabendo mais a desculpa de interferências desse género.
"Nós sabemos que ‘está na moda’ perseguir os muçulmanos em toda a parte do mundo e rotulá-los de terroristas e outras coisas. Portanto, esperamos que o nosso Governo seja mais compreensivo e reflicta sobre o assunto e não caia nesta onda que muitos outros países estão a seguir cegamente", alerta o Sheik Aminuddin Muhammad.
Ajuste de contas nas urnas?
Moçambique realiza eleições gerais a 15 de Outubro de 2019. E uma acção do partido que governa contra grupos de poder pode resultar em revés nas urnas. Hortêncio Lopes entende que houve défices nas bases que sustentam a vontade de um maior escrutínio: "Esta comunidade específica, a comunidade muçulmana, que tem dado um grande apoio ao partido no poder, também nalgum momento poderá fazer com que virem as suas atenções para outros partidos, apoiando-os, como forma de retaliação por causa do que o Governo está a pretender fazer", considera. "Acho que faltou um pouco de análise profunda das motivações que levam o Governo a tomar esta decisão".
Mas, seguramente, a FRELIMO deve estar consciente das consequências das suas acções, que dão sinais de estarem a começar de forma reservada. Será que o partido no poder vai "apertar o cerco" depois das eleições? Só esperar para ver. Enquanto isso, perguntamos ao Sheik Aminuddin se já é caso de pensarem em boicote à FRELIMO nas urnas já em Outubro: "Acho que os muçulmanos não vão chegar a esse ponto, mas vamos saber conversar com as autoridades, fazer o nosso papel", responde.
"Já está nos nossos planos fazermos encontros com as autoridades para falarmos sobre o assunto, porque há muita coisa que acontece e eles também caem na teia sem se aperceber. Mas se Deus quiser, tudo vai melhorar, Moçambique é uma terra onde todos são muito tolerantes", afirma o líder religioso. (DW)