Passam os anos, mas as práticas continuam. Este introito vem a propósito da nota emitida pelo partido no poder, a Frelimo, em que intima todos os Funcionários e Agentes do Estado a desembolsarem valores monetários para suportar a campanha eleitoral de Filipe Nyusi, rumo às presidenciais de 15 de Outubro próximo. A campanha eleitoral, sabe-se, arranca a 31 de Agosto próximo.
E tal como nos outros anos, a intimação, sempre em tom ameaçador, vem acompanhada pela respectiva tabela de valores que cada indivíduo, independentemente da sua qualidade, deve desembolsar em apoio ao candidato presidencial do partido Frelimo.
Para este ano, todos os funcionários públicos, independentemente da instituição a que estejam afectos, devem tirar dos seus bolsos 300 meticais. O valor vem determinado na nota enviada ao chefe do Posto Administrativo de Mutoro, distrito de Ancuabe, província de Cabo Delgado, assinada pelo Chefe do Gabinete Distrital de Preparação de Eleições, Jamal Aquino.
As contribuições, tal como refere o documento assinado por Jamal Aquino, são de carácter obrigatório e devem ser canalizadas à Sede do Comité distrital do partido Frelimo, especificamente, no sector de Logística e Finanças.
A nota determina que os valores devem ser encaminhados até ao dia da votação, ou seja, até ao dia 15 de Outubro próximo, depois de ter iniciado à data da publicação da mesma, sendo que para o caso do Posto Administrativo de Mutoro, deu entrada na Escola Comunitária a 4 de Julho corrente.
O controlo das contribuições é, demanda o documento, da inteira e exclusiva responsabilidade dos “Directores Distritais, Secretários de Zonas, Directores das Escolas, Chefes dos Postos, Chefes das Localidades e dos Chefes de Secretária de cada instituição”.
“São comunicados todos os funcionários e agentes do Estado que, por ocasião da grande festa que vai arrancar no dia 31 de Agosto do ano em curso, o gabinete distrital de preparação de eleições vem por este meio informar que o processo de campanha eleitoral é da responsabilidade do Distrito. Com isso, segundo a tabela abaixo, embora alguns defendam que as contribuições não são obrigatórias, mas estas são”, refere o documento, que foi alvo de duras críticas por parte dos vários seguimentos da sociedade, nas diversas redes sociais.
A intimação à contribuição “coerciva”, a favor da campanha de Filipe Nyusi, fez reacender o velho debate sobre a partidarização do aparelho do Estado, sempre contestada pelos partidos da oposição do xadrez político nacional.
Alguns internautas, para quem o gesto é ignóbil e digno de total repulsa, é chegada a hora de colocar um basta aos atropelos que vêm sendo perpetrados pelo partido Frelimo, que está no poder há 44 anos.
Outros valores cobrados
De acordo com o documento que temos vindo a citar, figura no topo da lista, isto, no que ao desembolso do maior bolo diz respeito, o chefe adjunto dos Gabinetes provinciais, a nível provincial. Esta figura deve desembolsar 40 mil Mts. De seguida, os Secretários Permanentes Provinciais e os Presidentes dos Conselhos Municipais devem, cada, sacar dos seus bolsos 20 mil Mts.
Os Primeiros Secretários, Secretários das Organizações Sociais, Director provincial, Presidentes das Assembleias Provinciais e Presidentes das Assembleias Municipais devem, obedecendo a sequência, desembolsar 15 mil Mts, 12 mil Mts, 12 mil Mts, 10 mil Mts e 7.500 Mts, respectivamente.
A nível distrital, o chefe adjunto dos Gabinetes Distritais lidera a lista por a ele couber uma contribuição no valor de 20 mil Mts. Os Secretários Permanentes Distritais e os Administradores Distritais terão de desembolsar, cada um, 10 mil Mts. Os Primeiros Secretários Distritais e os Directores Distritais devem tirar 7.500 Mts e 5000 Mts, respectivamente.
No que diz respeito aos Postos Administrativos, os chefes dos Postos, Primeiros Secretários de Zona e Secretários de organizações de Zona devem desembolsar, de forma sequencial, 3.000 Mts, 2.000 Mts e 1.500 Mts, respectivamente.
Os chefes de localidades, em apoio à campanha de Filipe Nyusi, devem tirar 1.600 Mt. (Carta)