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terça-feira, 04 dezembro 2018 03:14

Vale Moçambique acusada de profanar 2 mil sepulturas em Moatize

O Vale Moçambique, a gigante brasileira de mineração, é acusada de ter destruído o cemitério de Chipanga, em Moatize, na província de Tete, à revelia das famílias com parentes sepultados no local. Essas famílias (comunidades, para usar o jargão da indústria do desenvolvimento) já reagiram, e agora exigem uma compensação. Mas há um grande impasse. A Vale justifica que a profanação de túmulos à revelia das famílias foi porque elas terão alegado que não gostavam de lembrar os momentos de dor pelas perdas. E alegou também que as pessoas já não se recordavam do local onde seus entes foram sepultados. 

 

Os queixosos desconhecem onde a Vale depositou as ossadas. Na sua reação, representantes da comunidade escreveram à Vale Moçambique exigindo uma compensação em dinheiro para cada uma das famílias que possuía entes sepultados naquele cemitério. Também exigiram o financiamento de uma cerimónia tradicional local. A Vale tem outro entendimento sobre o que se passou. Imelda Sithole e Sheila Miquidade, gestores da Vale Moçambique, assinaram recentemente um “esclarecimento” sobre caso do cemitério de Chipanga. A Vale alega que a destruição do cemitério de Chipanga ocorreu porque “a maioria das famílias entrevistadas não demonstrou interesse na exumação dos corpos de seus parentes. Os principais motivos alegados para esta opção foram: não tinha interesse em exumar, pois, não gostaria de relembrar os momentos de dor de que passaram; não se recorda do local onde o ente querido foi sepultado; não tinham parentes enterrados na área”. 

 

A mineradora explica ainda que, no seu plano de reassentamento, para além da construção de infraestruturas públicas, estava prevista a construção de um cemitério na área anfitriã. Durante o reassentamento, diz a Vale, foi realizada uma pesquisa que visava registar o interesse de cada agregado familiar em exumar, ou não, os corpos dos seus entes para um lugar a ser indicado pela família. Esse processo de exumação teve início em 2010 e decorreu de forma gradual, e foi acompanhado pelos governos distritais e municipais, assim como pelos líderes tradicionais e anciãos da zona.

 

Esta nota da Vale gerou uma certa agitação no seio da comunidade, que garante que não demonstrou falta de interesse na exumação daquele cemitério. Os representantes das famílias dizem que haviam acordado com a Vale que o cemitério seria preservado como um local sagrado, até a empresa reunir as condições para exumação, com a participação das comunidades. As comunidades lamentam o conteúdo da carta da VALE e refutam a alegação segundo a qual elas não estavam interessadas na exumação. Elas escreveram que o aquele cemitério era um lugar sagrado, de romarias sentimentais, até porque muitas campas estavam sinalizadas com chapas dos nomes dos falecidos. Alegam que  95% das famílias tinham parentes sepultados em Chipanga. (Carta)

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