Trinta e cinco Organizações da Sociedade Civil (OSC) juntaram-se, esta quarta-feira, para apresentar sua opinião em defesa das crianças vulneráveis, que se encontram nos distritos assolados pelo novo coronavírus e pelos ataques armados, que se verificam na zona centro do país e na província de Cabo Delgado.
Tomando como ponto de partida o primeiro óbito vítima de Covid-19, no país – adolescente de 13 anos de idade – as OSC defendem ser necessário o reforço imediato da segurança às crianças, com maior particularidade às raparigas vítimas e/ou sobreviventes da Covid-19 e dos conflitos armados.
No encontro havido em Maputo, as 35 OSC defenderam que o Estado deve encetar todos os esforços para evitar que tanto a Covid-19 como os conflitos armados façam mais vítimas menores de idade. Segundo estas, contrariamente às primeiras informações e experiências, em que os idosos eram as maiores vítimas da Covid-19, actualmente as crianças constam do grupo de risco, dando o exemplo do primeiro óbito registado no país.
“As crianças constituem mais de metade dos cerca de 28 milhões de moçambicanos. Não proteger as crianças significa automaticamente colocar em risco o presente e o futuro do País”, consideram as OSC.
Citando o Inquérito de Indicadores Múltiplos de Moçambique, edição de 2011, as OSC explicam que a pobreza é outro factor que coloca as crianças e raparigas em situação de vulnerabilidade à Covid-19, sendo que 48% vivem em situação de pobreza e cerca de dois milhões são órfãs e vulneráveis. “Para além disso, 24% das crianças dos cinco aos 14 anos de idade estão envolvidas em alguma forma de trabalho para a obtenção de renda para si ou para as suas famílias”, acrescentam.
Com as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, que já infectou 227 cidadãos no nosso território, as OSC referem que a violência, principalmente para grupos marginalizados, tende a crescer, devido ao aumento do medo, da tensão, do stress e da busca pela renda familiar em situação de risco, o que levanta uma maior preocupação com as crianças, em particular as raparigas e crianças órfãs e vulneráveis.
Entre os números apresentados pelas OSC estão os que referem que 10% das famílias que têm um idoso no seu agregado, tem no próprio idoso ou na criança o responsável pela manutenção da família, pelo que a Covid-19, ao ceifar a vida destes, coloca as crianças, em particular as raparigas, em situação de grande vulnerabilidade e exposição a todos os riscos, nomeadamente, pobreza, violência, exploração, uniões prematuras, fome e trabalho infantil.
Para além da Covid-19, os ataques que se verificam na província de Cabo Delgado e na zona centro do país colocam as crianças cada vez mais vulneráveis, tendo em conta as constantes deslocações a que são submetidas, o que lhes obriga ao abandono escolar. Em Cabo Delgado, os ataques terroristas já fizeram mais de 1.100 óbitos e mais 163 mil deslocados, enquanto na zona centro, as incursões da auto-proclamada Junta Militar da Renamo já causaram mais de 50 vítimas mortais. (Carta)