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segunda-feira, 05 agosto 2019 06:40

O perdão conveniente do Estado

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Neste país quando se fala de "amnistia" é para soldados da RENAMO e "indulto" para prisioneiros. Não me lembro de outro cidadão que tenha sido perdoado a não ser, talvez, aquele gatuno-fosfórico que anda por aqui dando aulas gratuitas de exaltação patriótica. 

 

 

Esse tipo de perdão por conveniência me incomoda bastante. Fico intrigado quando o Estado perdoa alguém que matou pessoas e distruiu infraestruturas, mas não consegue perdoar um candidato autárquico por causa de uma alínea de uma lei mal interpretada. Não entendo como se pode perdoar um prisioneiro (que roubou ou violou uma criança ou estuprou uma mulher), mas não se perdoa um partido concorrente por causa de meia-dúzia de assinaturas. 

 

Nada contra as amnistias, os indultos e outros tipos de perdão do nosso Estado, mas não dá para etender esses critérios. Talvez me expliquem o que é que a candidatura da Alice Mabota teve de tão grave que não podia ser antecipadamente comunicado e corrigido? Que irregularidades a candidatura de Hélder Mandonça teve que não podiam ser sanadas ou perdoadas? 

 

Não quero com isso defender candidatos ou partidos atrapalhados e desorganizados. Longe de mim tal coisa. Até porque detesto candidatos e partidos políticos que não se preocupam e que fazem tudo à última hora. Detesto mesmo. Mas também detesto a falta de rigor nas decisões do Estado. Detesto assimetrias, pesos e contra-pesos. 

 

Que Estado vem a ser este que dá segundas chances a quem matou pessoas, mas nunca a quem esqueceu um documento de candidatura? Malta Venâncio, Samito, Alice, Dinho-Eks-Esse e companhia não foram dados uma segunda oportunidade por causa de uma lei mal pronunciada ou por causa de uma assinatura mal feita, mas algumas pessoas que conspiraram contra o Estado foram perdoadas e dadas uma segunda oportunidade. Benevolência aos "rangers" e suca-pra-lá à dona Alice que não trouxe assinatura. Se há perdão para quem matou pela democracia, devia haver também perdão para quem quer exercer o seu direito democrático. Não custa nada.

 

Uns levam pontapé no traseiro logo no primeiro erro, mas outros têm estado a receber misericordia do Estado a cada cagada, desde 1992. E assim vai a nossa democracia, mais democrática para uns e, para outros, basta ter saúde. Democracia bipolar. 

 

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