Acompanhei atentamente o discurso de tomada de posse de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique. De resto, foi um discurso bonito, mas não tanto quanto o de 2015. Na verdade, a beleza do discurso de 2015 residia na "curiosidade". Estava carregado de simbolismos da estreia. Do novo. Da ansiedade. Estava repleto de nervosismos de ambas as partes: do orador e do receptor.
Por um lado, o povo estava ansioso em ouvir o que é que o NOVO, o JOVEM e o ENGENHEIRO de estruturas férreas tinha para dizer e, por outro, o Presidente estava ansioso em saber como seria recebido e entendido pelo seu povo. Era um Chefe de Estado engenheiro e jovem, atributos que fugiam do protótipo moçambicano (e porquê não, africano) de governante. Nyusi deve ter sido o Chefe de Estado que apresentou o discurso mais "conectante" com o povo. Acredito que depois daquele discurso a sua popularidade tenha subido de fasquia.
Em 2015, Nyusi era "empregado" e o povo, "patrão". Tinha um coração onde cabiam todos os moçambicanos. A juventude e a educação eram o seu ópio; a corrupção e a impunidade, os seus piores inimigos. A liberdade de imprensa e de expressão era o apanágio. Na prática, "nheto"!
O discurso de 2019 é o mesmo de 2015, mas com uma caligrafia trémula e sem confiança. Parecia um discurso que não estava a sair do seu íntimo. Pouca retórica. Faltou vida ao discurso. Até parecia um daqueles informes do Estado da Nação... cheio de incertezas e pouca convicção. E com razão!
O quinquênio passado foi muito problemático. Se fosse num jogo de futebol, diria que foi uma primeira parte falhada. Diria que, neste momento, estamos a perder e temos de recuperar na segunda parte. Temos de ter a coragem de reconhecer isso sem evasivas nem subterfúgios e, muito menos, vergonha. Aliás, o próprio Chefe de Estado já se deu conta disso. Se pegarmos na gíria desportiva de que "equipa que ganha não se mexe", chegaremos a mesma conclusão. Ao anunciar que 60 por cento do próximo governo será gente nova, o Presidente Nyusi está a reconhecer a inoperância do governo anterior. Esteve aquém do esperado. Não quero aqui alencar motivos para não ser repetitivo, dado que tem sido um debate actual da mídia nacional e internacional.
Como o discurso do primeiro mandato não passou disso - discurso, agora só posso esperar apenas que o Presidente nos surpreenda pela positiva. "Wallahi-Billahi", espero que o Presidente Nyusi desfaça o meu equívoco e mostre que, desta vez, pode ir muito além das promessas públicas. E eu acredito que isso é possível.
Estamos aqui para ajudá-lo sempre que precisar, Excelência. Usarmos os "recursos minerais" para catapultarmos a "agricultura" para criarmos o "desenvolvimento" para chegarmos ao "zero fome" não é coisa doutro mundo. Fazermos com que os recursos naturais não sejam a nossa maldição é fazível. Ouvirmos e respeitarmos ideias diferentes, analisarmos e acolhermos - se for o caso - não é um bicho de sete cabeças. Não nos enfiarmos balas e não nos quebrarmos tarsos, metatarsos, carpos, metacarpos, falanges, falanginhas, falangetas, úmeros, tíbias, etecetera, não custa nada. Combatermos a corrupção é também possível. Alimentarmos a Tabela de Téo com mais gatunos é canja. Unidos somos mais fortes.
Eu aredito piamente na vontade do Chefe de Estado de materializar o seu discurso. É possível, sim. Já, o foco, este parece que anda preso numa teia algures. Parece que depende da boa fé dos beija-mão. Os cânticos das hosanas têm estado tão altos que ensurdecem e tiram o foco do nosso Presidente. Evitemos distrair o Presidente desta vez!
Que este mandato seja o nosso presente! Surpreenda-nos a todos, incluindo os bajuladores. Supere-se e surpreenda-nos, Excelência! Aquela visita inesperada ao Presidente Dhlakama na Serra da Gorongosa foi uma demostração de que é capaz de se superar e de nos surpreender e, diga-se, foi o píncaro do mandato... se ainda não deu bons frutos, é assunto para outro fórum. Trabalhe fora da caixa, Excelência! É possível. Saia do papel! Eu ainda "confio em ti", porque também sei que "contigo" pode "dar certo". Surpreenda-nos! "Tamu-juntu", camarada!
- Co'licença!