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segunda-feira, 27 janeiro 2020 06:10

A ingrata missão de lamber

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No ofício de puxar-saco as coisas não seguem a lógica natural ou societal. No mundo do beija-mão, quando você é competente demais, você pode ser promovido para uma posição de relevo como forma de reconhecimento do seu trabalho. Mas, ao mesmo tempo, você corre o risco de permanecer no mesmo lugar eternamente. É que um gajo que lambe competentemente não se encontra em qualquer esquina. Porque é um ganha-pão que não se aprende na escola. É nato. Lambe-botas não se faz, nasce-se.

 

Um bom advogado, um bom sapateiro, um bom engenheiro, um bom pedreiro, um bom historiador, um bom alfaiate, um bom sociólogo, etecetera, faz-se com formação e experiência. Mas um bom lambedor, não. Esse não se planta. Emerge inesperadamente. Revela-se sozinho. E é raro. Parece que não, mas é. Muitos acham que é facil (e até desejam ser), mas bons nunca serão, se não nasceram com essa predisposição. Então, muitas são as vezes que o lambido não quer se desfazer do seu lambedor porque o lambido sabe que não é fácil encontrar um cara-de-pau despudorado e desavergonhadamente disposto a trabalhar.

 

Por isso, puxar saco demasiadamente bem pode ser mau para quem pensa em construir uma carreira na área. É muito provável que o tiro saia pela culatra. É uma profissão de carreira curta porque lambedor de não se herda. Normalmente, os lambidos não usam os lamdedores dos seus antecessores. Quando entra um novo chefe, a probabilidade do puxa-saco dançar a música do autoclismo é quase de cem por cento.

 

Outra crueldade do ofício de bajular é a perda total de confiança das suas próprias capacidades. Ou seja, mesmo que você suba de cargo por critério de competência técnica, você não acredita nisso. Você não vê e não reconhece essas qualidades. Você vai dando graças à graxa. E com razão: o lambido nunca exalta as verdadeiras qualidades técnico-profissionais do seu lambedor. Mas também porque não é do interesse do lambido tirar proveito da inteligência genuína do seu lambedor. A ele lhe interessa apenas a língua.

 

Então, vamos entender o que alguns dos nossos compatriotas estão a passar. É um "miksi" de expectativas: ser nomeado por ter lambido demais, mas também não ser nomeado pelas mesmas razões. Um ofício ingrato. Daí esse nervosismo todo que foi desaguar na juventude do pai de Samito. Até parece uma greve.

 

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