"No Malawi, o deputado vive numa cidadela parlamentar. No dia que o deputado toma posse, recebe chaves da casa mobilada e tudo, e tem um carro zero quilómetros" - António Muchanga, deputado da Assembleia da República pela bancada da RENAMO há mais de não-sei-quantas-legislaturas.
Por acaso, o Muchanga fez alguma pesquisa que concluiu que o povo malawiano está muito satisfeito com este modelo de representação? Os malawianos dão esses benefícios aos deputados em detrimento de bons salários, hospitais e escolas para eles de bom grado? Os malawianos morrem de amores pelos seus deputados?
Com que então, o deputado António Muchanga, um cidadão aparentemente bastante informado, viajado, experiente, exigente, competente, profundo, magniloquente, comunicativo, retórico, influente, abrangente, impulsivo, famoso, original, criativo, pitoresco, autêntico, genuíno, real, verdadeiro, extraordinário, galhardo, prepotente, importante, graúdo, atuante, dominante, excessivo, desmedido, conhecido, reconhecido, e todos restantes qualificadores graúdos e benzidos, foi encontrar no Malawi a melhor qualidade de política parlamentar?! Quanta decepção, amigo Muchanga! Quanta decepção, meu Deus! Se decepção fosse líquida, eu já estaria afogado e morto. Possas!!!
Muchanga foi buscar do parlamento malawiano o exemplo que mais lhe convém. Esquivou-se de referir, por exemplo, que no Malawi os políticos estão a descontar os seus salários para ajudar o governo a combater a pandemia da Covid-19.
Xeee!!! São essas referências que queria levar para o governado da província de Maputo?! É esse o modelo que queria usar como referência na qualidade de governador provincial?! Na sua posição, acha mesmo que deve lançar essas respostas face a indignação do povo?! São esses argumentos que deve buscar?!
Perceba-se (!), eu, particularmente, não estou contra os 4 milhões de meticais que cada deputado vai receber, tanto que já estava a ficar convencido com a justificativa segundo a qual esse dinheiro de reintegração é descontado do salário do deputado durante a legislatura. Confesso que com mais argumentos eu iria cair nela, mas a referência aos deputados do Malawi que tem casa e carro zero quilómetros me deu náuseas.
Hoje tive certeza que, afinal, decepção não mata. Mas, também, tive a maior certeza que o povo de Maputo não perdeu nada, muito pelo contrário... livrou-se. Deus escreve recto em linhas tortas! Aquele Muchanga cuja prisão comoveu o povo, aquele cujo cerco à sua casa indignou o povo, afinal de contas, acha que o que o povo lhe paga é pouco. Além do salário que o povo sofridamente lhe dá, quer casa no condomínio e Lamborghini novinho em folha. Aquele Muchanga pelo qual o povo entregou o peito às balas para ser o seu governador se tivesse ganho quereria mais mordomias e benefícios.
Coitado! Muchanga devia ter chumbado quatro vezes na décima classe. Talvez assim tivesse ampliado o seu horizonte em História e Geografia. Talvez tivesse aprendido que o estômago não é o único órgão do corpo humano. Talvez até tivesse estudado que, às vezes, é preciso fechar a boca para ser poeta.
Allah seja louvado!
- Co'licença!