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segunda-feira, 23 novembro 2020 07:37

Estamos a combater o mesmo combate que Cardoso combateu

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No 'feicibuki'. 

 

- Posso ter o teu contacto? 

 

Talvez ele estivesse a espera no 'inbox', mas eu lancei o meu 'voda' ali mesmo nos comentários num instante. Minutos depois o meu cell toca.

 

- Alô, Juma! Boa tarde! É o Marcelo deste lado... Marcelo Mosse. 

 

Como pode um ídolo se apresentar ao seu fã com tanta etiqueta? Nunca tinha falado com o Marcelo antes, e nem no sonho pensei que isso fosse possível. Aquele gaguejar era jazz e blues para os meus ouvidos. 

 

- Boa tarde, ilustre! É um prazer enorme. 

 

Era eu titubeantemente procurando uma intimidade que nunca existiu. Queria manter o colóquio ao nível do remetente. Não queria decepcionar. 

 

- Olha, mano, quero fazer uma parceria contigo. Estou a desenvolver um projecto e queria contar contigo. Vou lançar um jornal daqui a quase três meses, concretamente no dia 22 de Novembro, Dia Carlos Cardoso. 

 

Confesso que estou perdido. Confuso. Não estou a gostar. Mas, o que faria eu num jornal? E onde entro eu no Dia Carlos Cardoso? Não tenho tempo para ser correspondente de tablóides. Para piorar, já não me lembro da última vez que havia escrito e publicado um texto jornalístico num jornal. Mas, também, escrever notícia nunca foi o meu forte desde os tempos de faculdade. Se o Jornalismo fosse somente escrever notícias, eu acho que ainda estaria a fazer algumas cadeiras do primeiro semestre. Sempre achei a notícia - no conceito clássico - muito sem graça. 

 

- Okey! Mas o que queres que eu faça nesse projecto? 

 

- Quero que escrevas no meu jornal. Quero que assines um espaço, uma coluna. Quero-te como colunista. 

 

- Colunista, eu?!

 

- É isso aí, colunista. Eu não te conheço, mas alguém me referiu a ti, um amigo em comum. Vi alguns dos teus textos e acho que podemos avançar. 

 

- Mas, ilustre, eu só escrevo umas coisinhas no 'feicibuki'. Coisas sem interesse. Coisas do 'feicibuki' mesmo, sabe! Não tenho certeza que há quem queira ler aquelas coisas num jornal... um jornal sério.

 

- Pois é, mano! É exactamente aquilo que eu quero. Nada mais, nada menos. É assim que eu gostaria que escrevesses. Assim mesmo. Escreves como se estivesses a escrever para o 'feici' e nós publicamos. E blá blá blá.

 

Faz hoje dois anos que estamos a lançar mísseis terra-ar via 'Carta'. Quando o inimigo está perto demais, não gastamos munições; damos-lhe uma bofetadas retumbantes, asfixiantes e qualquerizantes. De resto, é uma luta que vinha travando informalmente com outros companheiros desde os tempos da blogosfera nos primórdios dos anos dois-mil, nos tempos da facul, do Parlamento Juvenil, do CEMO, etecetera. Uns tombaram em combate, outros desertaram das fileiras. Uns deram o peito às balas, outros deram repolho ao cérebro. Não há epopeias sem desertores e traidores. O que importa é que estamos aqui a continuar o combate do Cardoso, e está a ser um bom combate, diga-se. 

 

Estamos aqui neste combate que Cardoso combateu e tombou heroicamente há 20 anos. Não sei o que o Marcelo realmente viu em nós, mas ele podia muito bem ter lançado um concurso público para preenchimento de vagas com requisitos extravagantes: ter nível superior; ser antigo combatente; ter 10 anos de experiência em combates de guerrilha; ter pontaria afinada; rapidez comprovada em arremessar granadas; ter flexibilidade em aplicar coronhadas; etecetera. Mas, não! Talvez o Tenete-general Carlos Cardoso, antes de partir, teria dito ao comandante Marcelo Mosse que não é disso que esta guerra precisa. Talvez não são diplomas e certificados que combatem neste combate. Para esta luta, dois tomates bem maduros e bem colocados é suficiente. Não é para lançar os tomates para o inimigo e fugir. Não! É para tê-los bem contigo. É para conservá-los. Aqui come-se feijão. Muito feijão. Aqui ninguém tem CERELAC na língua.

 

Estamos aqui lutando a mesma luta que Cardoso lutou e foi martirizado há duas décadas. É uma luta arriscada, mas prazerosa. Uma luta sem quartel. Uma luta da qual só sairemos no dia da vitória, com bandeira em punho... a bandeira do povo. É o mesmo combate que o Cardoso combateu. Um dia alguém irá contar a história destas trincheiras inóspitas. Uma história vanguardista e patriótica. Uma história de coragem. A história do povo. Um dia alguém terá de esculpir as estátuas destes heróis e mártires e erguer no coração de cada cidadão. 

 

Acorde o Carlos Cardoso que vive em ti e venha combater este combate! 'Aqui trata-se um combatente; é duro, mas temos de vencer', é Samora esse.

 

- Co'licença!

 

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