Tenho um vizinho que entra todos os dias na minha casa e pede um copo de água gelada. Nunca me pediu comida, jamais mostrou qualquer interesse nesse sentido, mesmo que me encontre à mesa, na varanda, onde gosto de estar sozinho, em silêncio, olhando para a natureza e a degustar de alguma iguaria. É um homem resoluto que tem sempre a bíblia debaixo do braço onde quer que esteja, com certeza o livro Divino será o talismã desta figura a quem todos chamam Barrabás.
É um celibatário como eu, porém não há nada de profundo que nos liga para além da proximidade geográfica e do ritual do copo de água, somos muito diferentes e ele deve ter percebido que não tenho capacidade de levitar na órbita em que ele gravita, por isso não me dá cavaco. Já conversamos em poucos momentos, mas esses encontros eram afinal um ensaio que acabou não dando em em nada, Barrabás desistiu da minha companhia.
Barrabás fala em parábolas, busca incessantemente os sentidos escondidos do Génesis ao Apocalipse, passando pelos Provérbios onde a Sabedoria de Deus eleva-se e depois espalha-se sem perder fulgor, por todos os rios abudantes da bíblia. E toda esta avalanche parece, aos olhos da sociedade, ser o motivo da louura deste indivíduo com verbo afinado e infinito vocabulário. Diz-se em todo o lado que Barrabás é um demente, eu nunca acreditei nessa afirmação sem qualquer base científica.
Chamam Barrabás ao meu vizinho, eu também o chamo assim, pois em momentos de aparente raiva, ele cerra os punhos e grita, libertem Barrabás! Grita assim também quando entra na minha casa, e eu adoro ouvir esse refrão que me dá um terramoto por dentro, libertem Barrabás!
Posso estar no quarto a descansar, mas quando oiço o grito de guerra do personagem que mora aqui ao lado, salto logo da cama porque Barrabás quer um copo de água geleda para matar a sede. Nunca o recusei e jamais quis imaginar o que aconteceria se um dia eu dissesse a ele que estou cansado de te dar de beber. Se calhar nesse dia estaria a perder um guia.
Provavelmente esteja na casa dos sessenta, transborda saúde. O cabelo, revolto com o de Sansão em fúria, não está propriamente limpo. Ele também não é uma pessoa propriamente cuidada, contudo, no seu interior, existe uma alma ardente, acesa por cima de extensas fogueiras. Há quem diz que não, que Barrabás está apagado por dentro, ele é a sobra das cinzas, senão não gritaria com raiva ordenando a libertação de um ladrão perigoso que é o próprio Barrabás.
O real Barrabás já esteve na eminência da morte, pendurado na cruz ao lado de Jesus Cristo que era vaiado, humilhado. E uma voz ressurgiu perguntando, destes dois aqui, um será libertado, qual deles é que vós quereis que seja poupado? E a multidão respondeu, libertem Barrabás! Libertem Barrabás! Libertem Barrabás!
E hoje o meu vizinho não se cansa de repetir aquele turbilhão de vozes, libertem Barrabás! Libertem Barrabás! Libertem Barrabás! Faz isso nas ruas, nos labirintos dos subúrbios onde vive, e também quando vem à minha casa pedir um copo de água gelada, num gesto que ultrapassa todo o meu entendimento.
Assim, e com tamanha firmeza conclusiva, gritara o barman enquanto desligava a chamada que acabara de receber. O grito fora de tal ordem, que cada um dos presentes, no lobby bar do hotel, pensara que o grito fosse para ele ainda que soubessem, suponho, o endereço de um provável destinatário. Até ao momento da chamada, a conversa, à mesa do bar, girava em torno da possibilidade de integração dos barmen e dos taxistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Para sustentar a posição, o barman contara que já impedira, e não uma e nem duas vezes, que alguns clientes dessem por terminado as respectivas vidas. A bebida certa e o papo adequado constavam do ritual de medicação para os problemas bem patentes no rosto de cada paciente, digo cliente. O mesmo, com uma e outra diferença, acontece com os taxistas, que até encaminham os pacientes para o barman mais próximo, e este, dependendo do diagnóstico, procede em conformidade com o protocolo.
Lembro-me deste episódio porque acabo de receber uma encomenda de Tete, remetida por um colega ocasional de um seminário nacional realizado, há alguns anos, por coincidência, no mesmo hotel do barman, então um conclave de cidadania e da diversidade nacional em plena da capital do país. Na verdade, lembro-me do barman, um natural da fronteira entre as províncias de Gaza e Inhambane, que se juntara a um dos taxistas da praça do hotel em prol de uma campanha de sensibilização do MISAU (Ministério da Saúde) para que este integre, no SNS, as respectivas profissões. É pena que agora, em tempos de pandemia, o dito hotel encontra-se encerrado e, por conseguinte, não se tenha notícias do barman e nem do estágio real da campanha, embora, por estes dias, tenha circulado, nas redes sociais, de que a mesma não fora por aí além por conta de um lobby, e muito forte, vindo da baixa da cidade, no sentido de constar, no caderno reivindicativo, a mais velha profissão do mundo.
Certamente que o leitor esteja curioso quanto eu estivera logo que ouvira o grito do barman bem como a razão da lembrança. Já conto. O barman, notando a acirrada curiosidade que me abatera, diz baixinho: “Era um hóspede que esteve cá na semana passada. Uma das noites tive que o socorrer como tenho sempre feito”. E mais adiante, já com a voz acima do baixinho, acrescenta: “Ele é um natural de Niassa, vive e ligou-me de Lichinga, informando de que virá alguém deixar uns quilos de feijão para mim”. No final, e novamente baixinho e com a voz enrugada, desabafa: “Esta é que é a verdadeira unidade nacional, promovida pelo povo e não a dos políticos”.
P.S: Do barman a lição de que a almejada unidade nacional é feita de “detalhes tão pequenos da nossa vida” e que passam despercebidos, mas que fazem uma tremenda diferença. E fora a lição, é também importante que se retenha o propósito da citada campanha do barman. Oxalá, perspectivo, que a cobertura total e o acesso universal ao SNS sejam, finalmente, uma realidade e de que, uma vez alcançados, não se aconselha que os diversos serviços sejam gratuitos, em nome e defesa da resiliência de um dos subsistemas mais pressionados do SNS da Pérola do Índico.
Caros. O que vamos fazer do Black Bulls? Em Londres, as equipas de futebol têm nomes dos bairros... Fulham, West Ham. Os bairros nasceram primeiro. Depois surgiram as equipas de dentro do seu seio.
Nosso caso é distinto. Os Black Bulls nasceram na carolice individual de um grupo empresarial e veio se hospedar no nosso bairro por força das circunstâncias.
Acontece que muitos dos que cá vivem já tínhamos nossas equipas. Entretanto, o Black Bulls está aqui. Tem infraestrutura e uma equipa ganhadora. E aposta na formação.
Creio que falta uma identificação dos que cá assentaram raízes com o clube...um sentimento partilhado de pertença. E o campo do Black Bulls nos jogos do Moçambola está vazios. Triste ne? Mas o nome Tchumene está sempre nas rádios e jornais por causa do futebol dos Bulls. Um dia vai chegar além fronteiras.
Então, o que fazer? O que fazemos? Creio que da parte dos Black Bulls deve haver uma acção de marketing para buscar adeptos, mostrando-se no bairro e abrindo as portas dos jogos para as gentes locais. Quem sabe... nasceria uma sinergia win win a muitos níveis, incluindo instalações para desporto de salão e modalidades. Penso eu de que...se conseguimos repartir nossos corações com Benficas e fauna acompanhante porque não metemos os Black Bulls dentro deles. Eu sou Black Bulls.
"A Carta que eu Nunca te escrevi", grande êxito, é um tema do "rapper" lusófono, Boss Ac. "A Carta que eu nunca recebi ", é um triste êxito dos Correios de Moçambique. É, vão mesmo encerrar a empresa cujo o vestígio de existência que se tem em memória, são as caixas vermelhas espalhadas um pouco por toda cidade. Sou de 89, e não me lembro de ter visto, um dia, um anúncio publicitário dessa instituição, que, com certeza, deve ter um departamento de Marketing. Çinçeramente!
"Mozão", a sério que é a primeira vez que uso o termo. Mas assumo que sempre gostei dele, coloca - nos mais próximos ao nosso líder. Nunca vi uma geração tão engajada, a escutar e debater aquilo que o presidente aborda. A malta pode até não ler e "xkrever" mal, mas curtimos aos comunicados do "Mozão", finalmente começamos a perceber o que um presidente fala porque, "Mozão" usa uma linguagem Sustenta, entenda - se, "terra-terra". Botle Stores abertos das "8:00 - 17:00", OK "Mozão", restaurantes até as 21, lindo "Mozão", recolher obrigatório às 23? "Mozão", quem manda em casa é a secretária de Estado, recolher obrigatório sempre será as 20:00, e ninguém irá a praia e piscina com este frio todo, "Mozão". Não ande a dar trabalho mano Carlos, Çinçeramente
Acho que é chegado o momento do rapper Big L fazer um Remix daquele "beat" dele, " Polícia Camarária". Aquela música foi um hit, é um clássico do Hip Hop Moçambicano por reflictr tão bem a nossa polícia camarária. O vídeo que anda pelas redes sociais é de dar nojo. Sabe, Comiche, nutro imensa simpatia pela sua pessoa, mas por vezes me parece que ao invés de "xongar" Maputo, está interessado num cargo nas Águas de Moçambique. Ponha ordem na sua casa. Aquele cidadão sendo brutalmente arrastado para baixo dos bancos do Mahindra, enquanto nem eram 0:00, não há justificação para tal atitude, não precisamos de mais violência gratuita... "Polícia Camarária vohhitekela mintxumu hiku dumba ku hikwapaaaaa…" Çinçeramente.
Reinildo, "Est-ce que ça va"?. O puto está nas nuvens, teve até um encontro com "Mozão". Penso que Reinildo é o único cidadão Moçambicano autorizado a voltar para casa de madrugada, " Mozão " deu - lhe um passaporte diplomático, não há secretária de Estado e nem polícia camarária que lhe pode tocar... É nosso campeão, mesmo que o Lile lhe atribua um salário muito baixo para o seu rendimento em campo. O Se o puto fosse politico seria o mano Celso, não, esse não. É o Dominguez . Çinçeramente
Quando o Bono dos U2 esteve em Maputo, teve um encontro com um grupo de mulheres, antes do Show onde conheceu aquele preto com tiques de branco, o Xavier da vida de cão que não dá tesão (gajo porreiro). Nesse encontro o vocalista dos U2 conheceu mana Lulu, que deu nas vistas pelo seu palavreado inteligente e, seus penteados. Bono disse que a mana Lulu parecia personagem dos Star Wars e partiu... Nas redes sociais um perfil tem pipocado vertiginosamente, é a amiga do Bono. Mana Lulu partilha sempre dizeres motivaciobais, inteligentes e, de Bono(s), com uma foto onde aparece sempre com um penteado diferente. Parece que ela vai estar na Guerra das Estrelas em 2024. Çinçeramente.
Palavras chave: Mozão, Bono, Campeão, Lulu, Guerra das Estrelas, Çinçeramente, Comiche, Reinildo, Est - que çe vá?
Até para semana. Lembre - se, sortudo é o Reinildo, não você!
Çinçeramente
Era uma vez…num país situado no sudeste de África, banhado pelo oceano Índico, vizinho da Tanzânia, África do Sul, Malawi, Zâmbia e Zimbabué, chamado Moçambique.
Certa vez, neste país, um grupo de homens, vestidos de fato e gravata, e com poderes ilimitados de manusear as finanças públicas e fazer negócios em nome do Estado, decidiram contrair um empréstimo bilionário em nome de todos pobres, abastados e ricos do país.
A mola era tanta. Tanta que os banqueiros locais ficavam atônitos. Os computadores avariaram de tantos números registados diariamente. A massa era tanta, algo tinha que ser feito para descongestionar a massa que era avultada. Inspirado! O grande chefão. O "mastermind" decide contratar uma empreitada para construir umas mansões. Na procura por bons serviços, encontraram um jovem empreiteiro que até àquela data era um homem que prestava um trabalho de qualidade, mas tinha poucos ganhos.
A obra arrancou com um orçamento devidamente organizado e definido. O tempo correu, e a obra terminou. Chegou a hora do pagamento! Contactado o "chefão", eis que diz que não há problema, aguarde! Dias passaram…num dia inesperado, o empreiteiro, no seu sofá, assistindo televisão com a família e um "whisky barato" na mão, e repentinamente entra uma mensagem no telemóvel – pela concentração e o espírito pensativo do jovem empreiteiro, eis que o homem repara o telemóvel e vê que a mensagem era do banco, e o homem não acreditou – os zeros eram demasiados!
O homem ficou paraplégico – what? É isso mesmo, este todo dinheiro…meu Deus, como é muito! – Dizia o homem. Questionou-se, isto tudo é meu? Não, não…não pode ser, tenho que perguntar ao "boss" se não terá falhado na transacção – admirado! Decidiu entrar em contacto. Foi o que ele fez em seguida, ligou para o "chefão" - 'Boss, estou a ver uns valores aqui na conta, mas não era isso que tínhamos combinados' – eis que o chefe respondeu - 'calma, meu homem! Pegue seu carro e venha aqui em casa conversarmos, e assim foi'.
Chegando em casa do chefão, a orientação foi que compra-se mais de 50 coleman's (caixas térmicas) e anda-se com elas no carro, assim fez o homem!
No banco, os gestores da conta não dormiam durante aqueles dias – era tanta pressão e trabalho porque tinham que atender aquele expediente – afinal, "o dono das galinhas" não era qualquer – tinha "poderes ilimitados no governo moçambicano e no partido Frelimo".
As "galinhas" já depenadas e tratadas saíam diariamente em coleman's do banco para a casa do chefe – como se de um frigorífico trata-se. Foram dias e noites, o jovem empreiteiro transportando coleman's de dinheiro como se fosse peixe/carne ou bebidas, mas não era dinheiro – e o jovem empreiteiro realizando maratonas olímpicas e épicas de casa ao banco e de lá para a mansão do chefe!
Durante aqueles dias a agência só tinha único cliente! O dinheiro era requisitado da agência central e chegava directamente para os coleman's e levado para a casa do chefe – na rua do chefe, os vizinhos só viam a viatura a chegar e a sair, em voltas constantes durante o dia e até anoitecer, durante dias – em casa o empreiteiro já não sentava – saía pela manhã regressava na calada da noite todo cansado. A família já andava preocupada. No trabalho, os colaboradores já não colocavam os pés por lá – só dava ordens ao telemóvel!
Dias passaram, os coleman's tinham que ser acrescentados por que os que haviam sido adquiridos eram poucos. Foram durante vários dias, transportando "os pedaços de carne de galinha congelados" que saíam do banco para a casa do chefe.
Finalmente, o chefe disse chega, as galinhas que restaram na capoeira (no banco) ficam para ti pelos bons préstimos! O homem não acreditava – a massa era tanta – nunca havia visto e nem imaginava que um dia teria tanto dinheiro assim…! Que a vida mudaria num "acordar e piscar dos olhos" – foi assim que aconteceu com um empreiteiro que anos depois viriam a descobrir que estava envolvido no maior golpe financeiro já registado na Pérola do Índico e por que não do continente africano – as famigeradas "dívidas ocultas…"